segunda-feira, dezembro 13, 2004

Marrocos torna-se o novo pólo de cinema da África

A imagem de Marrakesh como lar de camelos e encantadores de serpentes está pronta a passar por uma transformação se os organizadores do festival internacional de cinema de Marrakesh conseguirem reescrever o roteiro da cidade marroquina.
O festival é peça central nos esforços do país para seduzir Hollywood e estabelecer a cidade como a Bollywood da África. O glamour não conhece limites enquanto astros como Sean Connery caminham pelo tapete vermelho e a família real oferece festas suntuosas para convidados que foram trazidos ao país para o evento.
Casablanca talvez tenha lugar no folclore de Hollywood, mas Marrakesh é que veio a se tornar o ponto focal da crescente indústria africana do cinema. A cidade é conhecida como a Nova York do Marrocos, em reconhecimento à atitude liberal da população local, o que a diferencia do resto do país.
No ano passado, tanto Ridley Scott como Oliver Stone usaram Marrakesh como local de filmagem de seus épicos. Enquanto o governo encoraja cineastas ocidentais a virem à cidade, os habitantes preferem assistir a filmes de Bollywood. Amitabh Bachan, uma das lendas de Bollywood, continua a ser o maior astro do cinema para os marroquinos, e o festival inclui uma retrospectiva de filmes da diáspora indiana.
Agora em seu quarto ano, o festival se tornou uma importante ferramenta de promoção para a indústria cinematográfica. Sean Connery o classificou como "o genuíno festival de cinema", ao receber um prêmio pelo conjunto de sua carreira antes de uma exibição de "Alexander", de Oliver Stone.
Stone foi o convidado seguinte a subir ao palco, e disse em francês que "sem o Marrocos, o cinema não existiria. É o lugar em que o Ocidente encontra o Oriente".
No dia seguinte, no Palais des Congres, Stone foi ainda mais eloqüente: "Tentamos realizar o filme em Hollywood. Mas quando computamos todos os custos na Califórnia, estouramos em muito o orçamento. No Marrocos, podíamos contar com entre 500 e 2.000 extras ao dia. Não se pode fazer esse tipo de filme nos Estados Unidos".
Também surgiram tentativas de encorajar marroquinos a produzir filmes, e, no ano passado, o país bateu um recorde, com dez produções nacionais. Nour-Eddine Sail, gerente geral do Centro de Cinema do Marrocos, disse que "não podemos esperar que Marrakesh se torne um centro do cinema do dia para a noite, mas o festival é parte do processo que encoraja os cineastas internacionais a nos escolher e os marroquinos a produzirem mais filmes. Desde que o festival surgiu, há quatro anos, o número de técnicos e atores aumentou muito".
O diretor britânico Stephen Woolley, que recentemente filmou em Marrakesh cenas de seu "The Wild and Wicked World of Brian Jones", um filme que ainda não chegou às salas de exibição, disse que "a equipe era eficiente e o ambiente era de família. Só tenho boas coisas a dizer sobre o Marrocos". Quaisquer preocupações que os cineastas pudessem sentir quanto a perturbar a sensibilidade islâmica local com cenas de nudez também são dirimidas por Woolley: "Filmamos cenas de nudez e ninguém na equipe parecia preocupado".
Os problemas do mundo islâmico perturbaram as tentativas do Marrocos para se estabelecer como centro de produção cinematográfica. Stone revelou que a produção quase foi suspensa depois de atentados a bomba em Casablanca no ano passado. "Havia muita pressão para que saíssemos do país, mas nos sentíamos seguros. O rei e seus ministros interferiram para nos ajudar."
O número de celebridades presentes ao festival deste ano indica que os atentados em Casablanca não afetaram Marrakesh. De fato, Alan Parker, presidente do júri do festival, acrescentou que "é notável a maneira pela qual as autoridades marroquinas vêm usando o cinema como ferramenta para reduzir a distância entre o Ocidente e o Oriente".
Marrakesh quer ser mais que a Bollywood da África. Quer ser a Hollywood da África, igualmente. É um plano ambicioso, e será preciso mais que encantadores de serpentes exibindo seu talento diante de celebridades para que obtenha sucesso. (tirado da Ilustrada)

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