segunda-feira, janeiro 31, 2005

Tiradentes fecha mostra com mais público que em 2004

TEREZA NOVAES

A 8ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que começou no dia 21 e terminou anteontem, promoveu na cidade histórica 40 sessões de cinema, que, segundo estimativa da organização, foram vistas por 35 mil pessoas, 5.000 a mais do que no ano passado. Sem caráter competitivo, o festival atribui apenas um prêmio do público para cada categoria, curta, longa e vídeo, que totalizam 149 filmes.
O principal prêmio do festival, o de melhor longa-metragem, foi para "As Filhas do Vento", do diretor Joel Zito Araújo. A premiação ocorreu na noite do último sábado. Dois espaços foram armados para receber o evento: um cinema com 800 lugares dentro de uma tenda e uma tela instalada ao ar livre na praça principal da cidade.
A mostra terminou na noite de sábado com a exibição de "Feminices", de Domingos de Oliveira, e "Bendito Fruto", estréia de Sérgio Goldenberg em ficção.
"Bendito Fruto" é uma comédia temperada com crítica social. Ex-patrão e empregada, o casal Edgar (Otávio Augusto) e Maria (Zezeh Barbosa) tem sua relação abalada pela chegada do filho dela e de uma amiga de infância dele. Os dois longas, que já foram premiados em outros festivais, não entraram na votação do público.
Na sexta, a sessão de "No Meio da Rua", de Antônio Carlos Fontoura, sobre a amizade entre um garoto rico e um menino de rua que sobrevive fazendo malabares nos sinais do trânsito carioca, atraiu à praça uma multidão, que resistiu, apesar da garoa, até o fim.
O longa de Carlos Reichenbach "Bens Confiscados" foi a última atração da sexta, na tenda. Definido pelo diretor como seu filme político, trata da história de Serena (Betty Faria), enfermeira que teve um caso com um político corrupto e precisa sair de sua casa devido a um escândalo.
A surpresa de quinta foi "Ódiquê?", do estreante Felipe Joffily. O filme mostra um golpe que três jovens de classe média carioca aplicam em outro rapaz, filho de deputado. O documentário "500 Almas", de Joel Pizzini, e "A Ostra e o Vento", de Walter Lima Jr., também passaram na quinta.

Ancinav
A retirada da parte da regulação do projeto da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual) esteve em pauta em pelo menos dois debates na mostra. Na quarta, a manobra do governo foi defendida por Manoel Rangel, representante da Secretaria do Audiovisual do MinC e um dos redatores do anteprojeto.
De acordo com ele, houve uma avaliação no interior do governo sobre a necessidade de um marco regulatório, em separado da agência, a chamada Lei Geral das Comunicações de Massa.Uma das justificativas para a retirada da regulação do anteprojeto é que, dessa forma, seu envio para o Congresso seria agilizado.
Na mesa, estavam também Geraldo Moraes, presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, e Geraldo Veloso, diretor da Associação Mineira de Cineastas.
No encontro para discutir os dez anos da retomada do cinema brasileiro e as perspectivas para o futuro, realizado na sexta, a atitude do governo foi considerada por alguns como um recuo, mas nem todos acreditam que o projeto tenha sido enterrado.
A ausência da produtora Lucy Barreto, que faz parte do grupo contrário ao projeto e deveria integrar essa mesa, acabou por enfraquecer o debate, já que a posição dos outros participantes era a favor da nova agência.

Chávez exorciza o imperialismo dos EUA e elogia Lula

FLÁVIA MARREIRO
ANA FLOR

Em dois discursos que somados chegaram quase a três horas, o presidente venezuelano Hugo Chávez criticou à exaustão o presidente George Bush, exorcizou o "imperialismo diabólico" norte-americano e fez elogios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Chávez começou o dia com uma visita ao assentamento do MST Lagoa do Junco, no município de Tapes (RS), a 130 km de Porto Alegre, e encerrou sua participação pública no 5º Fórum Social Mundial, com discurso no ginásio de esportes Gigantinho.O ginásio ficou lotado e cerca de 2.000 pessoas ficaram do lado de fora, acompanhando por um telão. O calor e a duração do discurso fez com que muitas pessoas deixassem o ginásio ao longo da fala de Chávez. A estimativa é de que o público total tenha chegado a 12 mil pessoas -semelhante ao que assistiu a Lula, quinta-feira, no mesmo local.
O presidente da Venezuela -um dos países que sediará o Fórum Social Mundial em 2006- abusou de piadas, histórias e, em muitos momentos, subiu o tom de voz, chegando quase a gritar. "Para romper com o imperialismo só há o caminho da revolução", disse, arrancando palmas da platéia. Além de críticas aos EUA, Chávez jogou números para falar do "sucesso" dos programas sociais de seu país.
Ao final, falou de Lula e pediu paciência aos brasileiros: "Na Venezuela, em especial nos primeiros dois anos de governo, as pessoas cobravam mudanças, queriam mais rápido, mais radical. Considero que não era o momento, porque há fases nos processos, há ritmos que não têm a ver só com a situação interna do país, mas com a situação internacional. "Gosto de Lula, o aprecio. É um bom homem, de grande coração, lhe dou meu afeto, meu abraço."
Antes do elogio, Chávez chegou a brincar com a possibilidade de ser vaiado ao falar do colega brasileiro. Isso porque, no início do evento, o ministro Olívio Dutra (Cidades) foi vaiado ao falar de Lula. O presidente da CUT, Luiz Marinho, foi vaiado por quase cinco minutos.
O clima no ginásio era de total admiração a Chávez, que foi chamado por Ignácio Ramonet, diretor do "Le Monde Diplomatique", de "novo libertador". A vinda do presidente venezuelano havia sido divulgada pela cidade com cartazes semelhantes aos de shows.
O presidente trouxe ao Brasil uma comitiva de pelo menos 15 pessoas e um aparato de marketing, com livros para distribuir e uma equipe técnica que transmitiu ao vivo o discurso no Gigantinho e fez gravações em Tapes.
As metáforas anti-EUA, de uso freqüente pelo presidente, povoaram todo o discurso de Chávez, que atacou desde o presidente americano Thomas Jefferson (1746-1826) até Bush e sua secretária de Estado, Condoleezza Rice -com quem brincou, chamando-a de "Condolência Rice".
"Os EUA nasceram imperialistas [...] Faz muito tempo que a mão peluda, ossuda e fedorenta do imperialismo americano vem atropelando nossas terras", disse ele pela manhã, em Tapes. Chávez usou o encontro para divulgar sua "revolução agrária" na Venezuela, polêmico programa de desapropriação de terras chamado de "guerra contra o latifúndio".

Estratégia de poder
"Creio que é tempo de ofensiva", disse Chávez para defender que o fórum prepare, nos próximos anos, "uma estratégia de poder". "Os próximos cinco anos de Fórum Social Mundial devem ser acompanhados de uma agenda social mundial. A ela deve-se agregar uma estratégia de poder. [...] Poder para transferi-lo ao povo", completou, citando a Venezuela como "modesto exemplo".
Enquanto elogiava o histórico do evento, interrompeu a fala para perguntar o nome e a idade de um menino à frente do palco. "Cinco anos? A mesma idade do fórum. É um filho do fórum, um "forito'" -um dos momentos em que Chávez trocou o tom messiânico por habilidade que fazia lembrar os programas de auditório.
Pela manhã, foi interrompido pela parte venezuelana da platéia, que entoava: "Alerta! Alerta! Alerta que caminha/ A espada de Bolívar na América Latina". À noite, o público também o interrompi.
Simon Bolívar foi citado durante todo o dia, não sem referências ao companheiro brasileiro do líder da independência no Equador, Bolívia e Venezuela, pernambucano José Inácio Abreu Silva.

domingo, janeiro 30, 2005

Iraque: seqüestros como chantagens invertidas

por Luis Fernando Novoa Garzon

Só posso ser um conspiracionista, já que não consigo compartilhar da credulidade estupidificada, indispensável para absorver notícias "oficiais" repassadas pelas forças de ocupação. Quem acredita na "verdade" de um dos lados de qualquer guerra já assumiu seu lado nela. Em se tratando de uma guerra imaginária, então, os dois lados compõem objetivamente a mesma mentira. Na falta de armas de destruição em massa, é preciso corporificar o risco Iraque incrementando o terrorismo no interior de suas fronteiras. A resistência iraquiana é inflada artificialmente para justificar a invasão. As “operações terroristas” ocorrem debaixo dos narizes das forças armadas mais bem equipadas do mundo, em território totalmente esquadrinhado, ou seja, potencialmente sob controle.
Seqüestros de civis inocentes servem exatamente para confirmar essa adesão incondicional e paranóica. A captura de empresários e executivos que trabalham na reconstrução do Iraque, somada à sabotagem de suas instalações, constitui uma chantagem ainda mais específica. A segurança para usufruir das reservas petrolíferas do país e para abocanhar os polpudos contratos com o governo norte-americano deve vir, literalmente, a qualquer custo.
Os governos da Itália, da Inglaterra e da Austrália esvaziaram as manifestações populares contra o envio de suas tropas ao Iraque com a repercussão de seguidos seqüestros de seus nacionais. Os seqüestros, alguns seguidos de decapitações espetacularizadas em vídeos de autoria duvidosa, são meras peças de propaganda de guerra. O inimigo virtual que pode tudo em qualquer momento requer, exige, conclama, para enfrentá-lo, um grande amigo com atributos simétricos.
Não há imprensa, nem polícia, nem Judiciário independentes operando no Iraque. Qualquer informação, investigação ou diligência que de lá provenha passa antes pelo crivo e planejamento da coalizão imperial. Por isso, ao deparar com notícias assim padronizadas, respire fundo, não pense, engula tudo de uma vez: "O brasileiro desapareceu na última quarta-feira (19), depois de uma ação atribuída às Brigadas Mujahidin e ao Exército de Ansar al Sunna, ligado à Al Qaeda, teriam interceptado um comboio da empresa Janusian Security Risk Management, que presta serviços de segurança à Odebrecht no Iraque. Na ação, um britânico e um iraquiano foram mortos, segundo informações do Exército dos Estados Unidos”. O próximo passo é dar carta branca para o time dos "azuis". Coerentemente anuir com o processo de ocupação permanente do Iraque como cabeça-de-ponte regional. Os "vermelhos" são os "cruéis terroristas islâmicos", na verdade especializados quintas-colunas, comandos clandestinos infiltrados entre a população para incriminá-la. Claro, sou conspiracionista, sim. Racional e lógico deve ser quem acredita que há um exército de fanáticos combatentes islâmicos, espalhados em células pelo planeta, com a missão apocalíptica de destruir a civilização ocidental.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Em Porto Alegre, uma marcha pela paz


Fórum!!!

Porto Alegre – O presidente norte-americano George Bush não estava na passeata de abertura do Fórum Social Mundial, mas foi um de seus protagonistas. Faixas, bandeiras, cartazes carregados por mãos militantes de muitos cantos do mundo expressavam o descontentamento que as políticas empreendidas pelo governo de Washington geram entre os participantes do Fórum. Do início ao fim da avenida Borges de Medeiros, centro da capital gaúcha, por onde a marcha se desenrolou, podia se avistar fotos de gente morta no Iraque acompanhadas da frase: "Bush é o maior terrorista".
A ira dos outromundistas, como são conhecidos os militantes envolvidos com o processo de luta contra a globalização neoliberal, também se entendeu ao primeiro-ministro israelense Ariel Sharon. A esses líderes, grande parte dos duzentos mil manifestantes, que fizeram da passeata a maior da história dos Fóruns, atribui a responsabilidade pelos crônicos problemas que enfrenta a humanidade. Às bombas e tiros de metralhadora utilizados por uns, os manifestantes responderam com gritos desferidos em diferentes idiomas: "chega de Bomba, chega de ataque, fora imperialismo do Iraque".
Cânticos de luta similares a esse podiam ser ouvidos em toda marcha. Eles se misturavam a batuques, cornetas, palavras de ordem, risos e brincadeiras, ditos e ouvidos por gente de diferentes matizes ideológicos: Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, movimento de educadores argentino Barros de Pie, esquerda norte-americana (eles dizem viver "dentro do monstro"), camponeses da Via Campesina, palestinos, europeus, venezuelanos, australianos, diferentes formas de enxergar e agir sobre a realidade que em comum têm apenas a disposição de construir "um outro mundo possível".
No meio dessa diversidade, Shirlei Michele Machado da Silva, da associação de catadores de lixo Novo Cidadão, de Porto Alegre, participou pela primeira vez do Fórum Social Mundial. Acompanhada de sete membros de sua organização, Shirlei carregava um carrinho para recolher latas, garrafas plásticas, lixo enfim. "Eu vim aqui para ver se as pessoas dão mais valor para a gente, porque nós somos tratados como sujos. A gente passa, as pessoas nem olham", explicou, para demarcar a fronteira que divide incluídos e excluídos, os que têm e os que não têm acessos aos benefícios da globalização.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva também foi lembrado pelos manifestantes, por seus admiradores e críticos. O presidente, que chegou na noite desta quarta-feira a Porto Alegre para participar pela quarta vez do Fórum Social Mundial, foi homenageado por seus correligionários do Partido dos Trabalhadores. Guiados por José Genoíno, eles marcharam com camisetas com a expressão "100% Lula". Os críticos, por sua vez, em tom de provocação, cantavam Vou Festejar, canção eternizada por Beth Carvalho: "Você pagou, com traição, a quem sempre lhe deu a mão".
Fonte: Agência Brasil

Isso é só não esquecerem quem manda no mundo...

quarta-feira, janeiro 26, 2005


Eu no lixão de Nhandeara.

Imagine

Bom, voltei a postar no meu blog após longos dias de aventuras e muito tédio. Isso pode soar meio antagônico, mas foi assim mesmo.
Esquecendo esses assuntos prosaicos me vejo na obrigação de postar tudo o que sair na mídia sobre o Fórum Social Mundial. Isso tudo porque eu não estou em Porto Alegre, meu corpo está alojado em Londrina, mas minha mente está lá no Acampamento da juventude. Infelizmente eu não estou lá. No entanto, é por uma causa justa, ou pelo menos leal. Sexta-feira é a formatura da minha mina, logo, o melhor a fazer é assistir de longe toda a efervescência que acontece para a reflexão de um mundo melhor.
A maioria dos meus amigos está lá. Uma grande parte do pessoal de Sociais da UEL está lá.
O negócio agora é esperar eles voltarem, para me informarem com suas palavras o que presenciaram e não apenas depender do a mídia vendida venha a me dizer. Até porque tudo o que se discute no Fórum vai contra o monopólio da mídia, vai contra a censura e por ai vai.
Queridos leitores, deixo-lhes estas matérias para quem sabe no ano que vem vocês também possam juntar ao coro dos descontentes e dos excluídos. Vamos refletir neste ano que ainda nem começou, um mundo melhor é possível e eu não sou o único a achar isso.

Fórum deixa Porto Alegre e vai para África em 2007

O Fórum Social Mundial, que começa hoje, se despede de Porto Alegre, preocupado em se tornar mais abrangente e propositivo. A maior abrangência se reflete na própria decisão tomada ontem de descentralizá-lo. A conotação mais propositiva está presente em todas as atividades, de acordo com os organizadores.
No ano que vem, o evento vai acontecer em várias cidades do mundo. Em 2007, a sede será na África. Das cinco edições do fórum (contando a deste ano), apenas uma não se realizou na capital gaúcha -a de 2004, na Índia.
Em nota do seu conselho internacional, após reunião de dois dias, o fórum anunciou ter decidido que em 2006 o evento "será realizado de forma descentralizada, em diferentes lugares do mundo. Essa decisão visa à expansão e ao enraizamento do processo".
"Território hostil"
Apesar de deixar Porto Alegre, o fórum manterá o caráter anual. Essas duas decisões contentaram os organizadores. Parte deles considera um "enfraquecimento" tornar o evento bienal e que Porto Alegre se tornou um território "hostil" após a derrota do PT nas eleições do ano passado.
A respeito do caráter político da decisão, a nota diz: ""Integrarão o FSM 2006 os eventos realizados em diferentes regiões e países cujas organizações se proponham a compartilhar princípios metodológicos construídos em comum".
Quanto à periodicidade, invoca a necessidade de ser coincidente com o Fórum Econômico Mundial, de Davos: ""O Processo Fórum Social Mundial 2006 terá início com a realização de eventos na mesma data do Fórum de Davos".
""A organização do FSM 2007 será de responsabilidade das organizações africanas. O conselho internacional compartilhará essa responsabilidade", adianta a nota. O país africano que corre na frente é o Marrocos, já candidato a ser sede do evento em 2006.
O fórum que se inicia hoje, com uma caminhada, às 16h, de cerca de dois quilômetros entre o Largo Glênio Peres (centro de Porto Alegre) e o Anfiteatro Pôr-do-Sol (sem solenidade formal), terá cerca de 2.000 atividades, que vão desde discussões a respeito do combate à fome até debates sobre o conflito no Oriente Médio. Na caminhada, haverá toque de tambores e pedidos pela paz.
No espetáculo de abertura, as atrações são o ministro da Cultura, Gilberto Gil, que atuará como músico, o franco-espanhol Manu Chao e a banda argentina Bersuit Vergarabat.Um dos pontos altos do evento será a palestra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na manhã de amanhã. Lula chega hoje à noite à capital gaúcha e se reúne, às 21h, com os integrantes do conselho internacional do evento.
Estão confirmadas as presenças do presidente venezuelano, Hugo Chávez, do escritor português José Saramago, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, do argentino Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel e da ex-primeira-dama da França Danielle Mitterrand. (tirado da Folha de São Paulo)

Fórum de Davos incorpora o discurso de Porto Alegre

DAVOS / PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Os líderes mundiais estão quebrando suas solenes promessas de enfrentar os problemas globais, da pobreza à paz, passando pela proteção do meio ambiente". Em qual dos dois fóruns que começam hoje, o de Davos e o de Porto Alegre, foi produzida a frase acima?
Se você respondeu Porto Alegre, poderia até ter acertado, mas foi em Davos, o grande convescote da elite global.
Trata-se de relatório produzido pelo Fórum Econômico Mundial, a instituição que organiza os seus encontros anuais, todo mês de janeiro, em Davos, na Suíça, a propósito das Metas do Milênio, os objetivos fixados por chefes de governo de quase todos os países para dar uma melhorada no estado do mundo.
O relatório deu notas, de zero a dez, para as ações concretas que trouxessem as metas da retórica para a vida real. Resultado: em nenhuma das seis metas, a nota do planeta chegou a mais que quatro (na média, foi 3).
Em todas as áreas, de educação à fome, da paz aos direitos humanos, a humanidade está fazendo menos da metade do que é necessário para construir um mundo mais estável e próspero", atacou Ann Florini, pesquisadora do Instituto Brookings dos Estados Unidos e diretora da "Iniciativa sobre a Governança Global", um projeto do fórum que monitora o desempenho dos governos nas áreas cobertas pelas metas do milênio.
Como aconteceria em Porto Alegre, não faltaram críticas ao empresariado, mas elas foram mais matizadas do que, com certeza, ocorreria na capital gaúcha: "Alguns homens de negócio tomam suas responsabilidades (sociais) a sério, e o relatório aponta muitas dessas histórias. Mas tais empresas representam uma pequena fração do setor privado", lamenta Florini.No capítulo "pobreza e fome", dois temas de preferência tanto de Porto Alegre como do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o relatório é impiedoso:
"Se a presente tendência continuar, ainda haverá cerca de 600 milhões de pessoas passando fome em 2015, muito longe da meta", diz Joachim von Braun, diretor-geral do Instituto de Pesquisa sobre Política Alimentar Internacional e responsável por esse quesito no relatório geral.
Mais: "Para alcançar a meta (reduzir à metade o número de pessoas que passam fome e são muito pobres), seria preciso acelerar os programas mais de 12 vezes".
Von Braun não menciona especificamente o Brasil no seu relatório, mas afirma que "a América Latina e o Caribe não conheceram declínio nenhum no número de pessoas vivendo em pobreza absoluta". (tirado da Folha de São Paulo)

SEM-TETO SEM FRONTEIRAS

O grupo brasileiro Movimento Nacional de Luta pela Moradia, apoiado por organizações internacionais de sem-teto, realizou ontem uma invasão "internacional" de um edifício no centro de Porto Alegre (RS), onde começa hoje o Fórum Social Mundial.Cerca de 70 famílias, segundo os líderes dos sem-teto, tomaram às 4h da manhã os dez andares do prédio desocupado do INSS na capital gaúcha. A ação contou com o apoio da rede internacional de entidades dos "sem" (sem-teto, sem-terra, sem documentos etc.) NoVox, reunidas na cidade para o fórum.À tarde, quando a Folha visitou o local, um líder sem-teto japonês, Masatsugu Shimokawa, e outro francês, Pierre Oyez, apoiavam o movimento do lado de fora do prédio. Dentro, militantes estrangeiros podiam ser ouvidos falando em inglês e francês. Temendo ser deportados, os líderes do movimento se negaram a dar entrevistas.
O movimento NoVox, segundo Edymar Cintra, liderança nacional do Movimento de Luta pela Moradia, reivindica que os gastos com juros das dívidas externas sejam usados em moradias e obras de saneamento. Os sem-teto querem que o prédio invadido vire habitação popular.
O INSS, informou sua assessoria, não pediu a reintegração de posse. Elenilso Portela, liderança estadual do movimento, disse que os militantes marcaram uma audiência para amanhã com o ministro Amir Lando (Previdência). O ministério informou que Lando não irá ao encontro e que representantes do INSS e dos sem-teto chegaram a um acordo para a desocupação para os próximos dias.
Segundo Portela, a saída dependerá da reunião agendada.O sem-teto francês Pierre Oyez disse que a rede de movimentos dos "sem" procura, em fóruns mundiais ou europeus, fazer "manifestações comuns": "Como os ricos se organizam entre eles, os pobres se organizam para repartir a riqueza dos ricos".Ao seu lado, Masatsugu Shimokawa, do grupo Nojiren -sigla em japonês para Associação Livre de Shibuya (bairro de Tóquio) pelo Direito à Moradia-, diz haver 50 mil sem-teto no Japão, e que, ao vir ao fórum, soube da ação e resolveu apoiá-la.(tirado da Folha de São Paulo)

DAVOS / PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL

Partido desistiu de proteger presidente de manifestações contrárias ao governo; para Genoino, críticas devem ser vistas com naturalidade.
O PT considera "impossível" evitar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja vaiado em sua passagem pelo 5º Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, que começa hoje. Na tentativa de "blindar" o presidente, a estratégia do partido deverá ser contrabalançar "a turma da vaia com a do aplauso", segundo a definição de um líder petista.
Lula chega a Porto Alegre na noite de hoje e participa amanhã de um evento contra a pobreza no Ginásio de Esportes Gigantinho, com capacidade para 15 mil pessoas. Na impossibilidade de poupar Lula de gritos e assovios de desagrado, o partido irá reforçar a camada de suporte ao presidente com maior número de autoridades governistas, partidários e apoiadores na platéia.
A direção do partido chegou a discutir uma estratégia para diminuir a exposição do presidente, mas decidiu apostar no discurso da "pluralidade e democracia" do fórum, que permitiria vaias.
Em 2003, Lula participou do fórum cerca de um mês após assumir a Presidência. Foi ovacionado até ao falar de sua ida ao Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Dois anos depois, além do desgaste do governo e pela condução de política econômica dura, Lula deverá ser cobrado por ter chamado o fórum de "feira ideológica" no ano passado.
Enfrentará também a insatisfação de grupos historicamente ligados ao PT.
Sua ida a Porto Alegre chegou até mesmo a ser questionada. Foi confirmada após a análise de que seria ruim para a imagem do presidente ir a Davos, sem passar pelo seu contraponto.
Nas pouco mais de 12 horas que ficará na cidade, o presidente deverá se restringir ao tema do combate à pobreza, participando do lançamento da campanha "Global Call to Action Against Poverty" (Chamado Global para Ação contra a Pobreza), movimento de organizações civis para cobrar ações contra a pobreza.

Naturalidade
O presidente nacional do PT, José Genoino, diz que as vaias "não preocupam" e devem ser encaradas com naturalidade. "O fórum é democrático, pluralista. O PT respeita o fórum", disse.Genoino acredita que a passagem de Lula por todas as edições anteriores do evento no Brasil será reconhecida pelos participantes. "O presidente Lula é uma liderança democrática."Para Genoino, manifestações "respeitosas" são parte da liberdade que um evento como o fórum social permite. O petista espera apenas que o público evite atitudes "grosseiras ou violentas", como à que o próprio Genoino foi vítima em 2003. Na última edição do fórum no Brasil, Genoino foi atingido no rosto, durante uma entrevista coletiva, por uma torta atirada por uma ativista contrária à política econômica do governo.
A coordenação do fórum não programou, para hoje, uma solenidade de abertura com a presença dos anfitriões -prefeito, governador e presidente- e seus representantes e políticos. Diferentemente do que ocorreu antes, este quinto fórum terá apenas a tradicional marcha de abertura.
A decisão pode ser vista como uma estratégia para evitar manifestações partidárias na abertura de um evento que se propõe paragovernamental. Segundo Francisco Whitaker, do Secretariado Internacional do fórum social, o evento é da sociedade civil, e "o máximo que os governantes podem fazer é nos receber".
A inexistência da solenidade deixa de fora também os atuais anfitriões -o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS), e o governador Germano Rigotto (PMDB), não-afinados com a coordenação do fórum e que pouco participarão do evento. (tirado da Folha da São Paulo)