quinta-feira, abril 30, 2009

Harry Braverman: o operário letrado do qual falava o poema de Brecht


Estudamos muito e aperfeiçoamos, ultimamente, a grande invenção civilizada da divisão do trabalho; só lhe damos um falso nome. Não é, a rigor, o trabalho que é dividido; mas os homens: divididos em meros segmentos de homens - quebrados em pequenos fragmentos e migalhas de vida; de tal modo que toda partícula de inteligência deixada no homem não é bastante para fazer um alfinete, um prego, mas se exaure ao fazer a ponta de um alfinete ou a cabeça de um prego (1977, p. 76)

BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

terça-feira, abril 21, 2009

Teses sobre Karl Marx

FERNANDO HADDAD

I
O S SOCIALISTAS, até hoje, incidiram no erro de acreditar que o desenvolvimento
das forças produtivas, sob o capitalismo, faria explodir as relações
de produção que o configuram, quando na verdade, ao contrário das antigas
formações sociais, o capitalismo se vale desse desenvolvimento para se legitimar,
sendo que a dialética entre as forças produtivas e as flexíveis relações capitalistas
de produção se desdobra de uma maneira historicamente nova, a um só
tempo dinâmica e estaticamente.
II
Os socialistas se valem das crises do capitalismo, expressão do seu caráter
inerentemente contraditório e irracional, para afirmar seu ponto de vista. Não
obstante, a questão sobre qual será a crise final desse sistema é uma questão
político-prática e não econômico-teórica.
III
Os socialistas querem erradicar do mundo a pobreza de espírito. Tomam-
na como produto direto das atuais condições materiais de existência. O
movimento socialista funda-se no materialismo, mas entendido como crítica
social, tendente a sua consumação.
IV
O socialismo não deve ser tomado como um fim, como telos, mas como
um novo começo, como reconciliação entre homem e natureza que não reivindica
um passado longínquo, pois essa reconciliação se dá num outro plano,
num patamar jamais atingido.
V
O socialismo não deve ser tomado como uma ordem fundada em valores
por ele criados. O socialismo é o desentrave definitivo do processo de
individuação, obstruído pela sociedade de classes. O socialismo é a exuberância
dos indivíduos de uma vez por todas libertos de valores prescritos, unidos solidariamente
pelos laços de justiça, exclusivamente.
VI
O socialismo é igualmente o desentrave do processo de formação de urna
comunidade internacional que preserva as diferenças entre os povos, e que faz
délas o testemunho da riqueza do enfim realizado gênero humano.
VII
O socialismo é o reino da justiça onde se exerce a liberdade.
VIII
Os socialistas pretenderam transformar o mundo; cabe, porém, transformar
os homens, isto é, motivá-los para aquela transformação. O socialismo
depende de um salto psicoterapêutico para além da dominação orquestrada
democraticamente na esfera pública.
IX
O socialismo não é um desdobramento lógico do capitalismo, embora
seja uma possibilidade objetiva. O lógico é tão-somente o histórico que se impôs,
por vezes ilógicamente. O socialismo é a saída talvez ilógica de um mundo
certamente irracional.
X
O socialismo é a superação prática da metafísica realmente existente.
Como a dialética é tão-somente o fruto do esforço mental de compreensão da
fantasmagoria reinante, o advento do socialismo implicará sua obsolescência.
XI
Até lá, os socialistas devem reinterpretar continuamente o mundo social
para uma práxis transformadora sempre renovada.


Fernando Haddad professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

quarta-feira, abril 15, 2009

Síntese/Antítese

Quando o poder da síntese desaparece da vida dos homens e quando as antíteses perdem sua relação vital e seu poder de interação e conquistam a independência, é então que a filosofia se torna uma necessidade sentida.
G.W.F. Hegel