terça-feira, abril 19, 2011

Código de conduta




1. Não tenhas certeza absoluta de nada.
2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.
7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
8. Encontres mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
9. Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.
10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.


Bertrand Russell (1872-1970)

segunda-feira, abril 18, 2011

Admirável mundo instantâneo

Há momentos na vida em que a indecisão é um lugar-comum entre vazios e descrenças. O árido deserto de opções só traz mais inocuidade na vontade fugaz manifestada diuturnamente por pequenos sopros de desespero. Grandes templos de adoração são construídos e modificados ao movimento dos megabytes transmitidos por um computador. Recombinar. Parece ser essa a palavra que mescla os retalhos finos e empobrecidos dessa grande rede de identidades mutantes. Ao mesmo tempo, o sólido ainda persiste. A desigualdade se reforma sob os mesmos moldes. A intolerância se refunda com base nos mesmos princípios segregantes. O mundo ainda é o mesmo: norte/sul, centro/margem, cultura/barbárie, ricos/pobres, brancos/negros, ocidente/oriente, certos/errados. O que há de novo nessa novidade? O que há de vivo nessa liberdade? Os bolsos continuam os mesmos e os muros também.