segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Quem financia o FSM de Porto Alegre

Morte aos imperialistas? Não é bem assim, o FSM precisa deles...

Según los organizadores del V FSM, el presupuesto total del Foro Social Mundial es de 38.856.090 dólares (29.935.354 €), de los cuales sólo el 6,4% (2.561.392,41) salen de las inscripciones de los participantes. Es decir, que el 93,6% de lo fondos para el FSM vienen de donaciones de distintas fuentes. La Fundación Ford financia totalmente la preparación del FSM con 2.269.000 dólares. En cuanto a la financiación del evento en sí, la inmensa mayoría de las donaciones proviene de ONGs. 2.432.538 dólares (6,2% de la financiación total) vienen de ONGs confesionales (católicas y protestantes). 12.006.821 $ (un 30’7%) vienen de donaciones de otras ONGs (de los cuales, 4.398.800 de Oxfam, fuertemente vinculada a la iglesia: en España es Intermon-Oxfam). Hay que tener en cuenta que si rastreamos el origen de los fondos de estas ONGs, veremos que vienen en gran medida de los gobiernos. La mayoría de los fondos de Oxfam, del gobierno de Gran Bretaña y los de la otra gran patrocinadora, HIVOS (que pone 3.645.502 $) del gobierno holandés. Ambos gobiernos deben considerarse poco “antiglobalizadores”: tienen tropas estacionadas en Irak al servicio de los EE.UU. . Destaquemos que estas dos ONGs financiaron conjuntamente el 60% del IV Foro Social Mundial, celebrado en Mumbai (India). 14.323.962 $ (un 36 %) vienen de las instituciones gubernamentales de Brasil (7.916.550 del gobierno federal, 1.602.000 del Estado de Rio Grande do Sul y 4.805.412 de la municipalidad de Porto Alegre). Se da la circunstancia de que tanto el Estado de Rio Grande do Sul como la municipalidad de Porto Alegre están gobernadas por la derecha, en tanto que el gobierno federal ha hecho del pago de la deuda externa que estrangula a Brasil su prioridad económica y política (algo bien poco “antiglobalizador”). A ello han de añadirse 2.136.000 $ (un 5,8%) aportados por Correos y la Caixa Económica federal, empresas públicas. La Rockefeller Brothers Foundation aporta 356.445 $. Y los ayuntamientos italianos 240.300 dólares. Finalmente, las empresas Electrobras y Petrobrás y el Banco de Brasil (sociedades mixtas con capital público y privado) aportan 8.098.500 $ (un 20%). Respecto del papel “antiglobalizador” de la Fundación Ford y la Fundación Hermanos Rockefeller nos podemos ahorrar hablar. Todos estos fondos son administrados por la Asociación Brasileña de ONGs (Abong) y por Ibase (Instituto Brasileño de Análisis Sociales y Económicos). Ibase, por su parte, es fuertemente financiado... por la Fundación Ford. Cabe preguntarse ¿Por qué las ONGs financiadas por los gobiernos más pro-capitalsitas y sometidos a la voluntad del gobierno Bush, las empresas mixtas, las Fundaciones Ford y Rockefeller, las iglesias, la derecha brasileña y el gobierno Lula, fiel servidor de las recetas del FMI, financian un evento que “organiza la lucha contra la “globalización”, el “neoliberalismo” y el predominio de las multinacionales”? Yo no creo que se equivoquen. Sin duda, saben bien dónde ponen su dinero. Pero entonces ¿qué hacen los compañeros que de buena fe participan en estos foros creyendo luchar contra las multinacionales y el imperialismo? Pues me temo que están haciendo... el primo.
URL:: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=11800
Aprovado em novembro de 2004 pelo presidente Lula, parte do exercito atuará nas ruas para reprimir os movimentos sociais. Nossas manifestações receberão uma repressão muito maior. Campinas será cobaia.
Para aqueles que ainda acreditam que o governo Lula está ao lado dos movimentos sociais, vai aqui algo que está sendo muito pouco divulgado e discutido pela esquerda brasileira. No final do ano passado Lula aprovou uma mudança na estrutura e na função de parte do exercito brasileiro. Aproveitando as pressões da pequena burguesia que exigiam a intervenção do exercito brasileiro para acabar com o chamado crime organizado e a violência urbana, e instaurando sua hipócrita paz, o governo criou uma brigada no exército especialmente para reprimir os movimentos sociais.

George Bush e Halle Berry levam Framboesa de Ouro

O presidente norte-americano George W. Bush foi o vencedor do prêmio Framboesa de Ouro de pior ator do ano por sua performance como presidente em "Fahrenheit 11 de Setembro". A premiação, realizada anteontem, também destacou Halle Berry como pior atriz do ano por "Mulher-Gato". A atriz chegou a discursar e agradecer à equipe do filme que lhe tirou do "topo" de sua carreira e a levou para o "fundo".

domingo, fevereiro 27, 2005

Bibliotecas cheias e sociedade carente


falta incentivo

Por ROSIMERI FERRAZ SABINO
Ao final de cada semestre centenas e centenas de estudantes passam pelo “doloroso” e dispendioso processo de elaboração dos seus trabalhos de conclusão de curso. Sob o pretexto de capacitar o futuro profissional para a pesquisa no seu campo de atuação, estes trabalhos avolumam as prateleiras das bibliotecas universitárias, mantêm professores orientadores e um mercado recheado de profissionais de editoração eletrônica.
Esta pseuda ação didática, que culmina no trabalho final para a graduação, acompanha os acadêmicos durante todo a sua trajetória universitária, pois os docentes solicitam textos e mais textos como requisitos à aprovação em suas disciplinas. Aos estudantes resta uma cansativa busca de teorias apresentadas conforme normas da ABNT. E isto repete-se a cada matéria cursada. Ao final do semestre estes trabalhos juntam-se a coleção de “teorias repetidas” que o aluno encadernou nos semestres anteriores.
Neste processo, o ensino superior restringe-se a capacitar o aluno a mera produção de trabalhos. Os assuntos que poderiam ser alvo de debates em sala de aula, ganham apenas um estudo sobre o que já se falou a respeito dele.
Seria louvável essa exigência para a conclusão do curso se tais trabalhos realmente revertessem em algum benefício para a sociedade. Isto sim, deveria ser o objetivo principal da averiguação da competência do aluno em relação aos conteúdos que lhe foram repassados nos bancos universitários.
A exemplo dos privilegiados estudiosos da Grécia Antiga, a sociedade deveria receber um efetivo retorno do seu investimento na educação. Naquela civilização as teorias dos intelectuais buscavam não só o engrandecimento da cultura de seu povo, mas também recebiam a prática de pensamentos que colaborassem na organização social.
No sistema educacional vigente a “formatura” é vista pela grande maioria dos estudantes como um “alívio”. É o fim de uma tortura financeira para os mais carentes ou um passaporte (para os ingênuos mais abastados) para o mercado de trabalho.
Há, ainda, os que acabam por se tornarem “estudantes profissionais” . Estes passam pelo trabalho de conclusão e buscam as oportunidades nos mestrados, e após, nos doutorados. Obviamente que entre estes estarão, na sua quase totalidade, os que tiveram o acesso a um ensino mais aprimorado e dispuseram de tempo para pesquisas, pois as seleções para os cursos de pós-graduação exigem um currículo acadêmico de produções inatingíveis por estudantes que passaram seus dias trabalhando para custear os seus estudos. Claro que encontraremos algumas raras exceções, porém a um preço de esforço e determinação quase sobre-humano.
E o desperdício continua... Quantas dissertações e teses conhecemos que realmente contribuíram para alguma melhoria na nossa cidade, estado, país...? Mas alguém pagou por isto. Fomos nós. Os nossos impostos também servem para custear o ensino público superior. Quantas pessoas talentosas conhecemos que, se tivessem a oportunidade de se aproximar desse universo cultural desenvolveriam trabalhos para a sociedade? No entanto os pretendentes a bolsas deste tipo de ensino, na grande maioria, cumprem a sua jornada acadêmica, e após, beneficiam-se individualmente disto. Talvez não por vontade própria, mas por falta de exigência do próprio sistema de ensino.
Os pesquisadores que ajudamos a formar encontram as melhores ofertas de trabalho no exterior. E, como ele se vê em um mercado de mão-única – as empresas exigem o máximo e oferecem o mínimo – busca oportunidades que lhe retribuam o quanto estudou. E lá se vai o nosso pesquisador e todo o investimento que fizemos nele... Mas a sua tese ficou por aqui: devidamente teorizada, digitada, encadernada em alguma prateleira de biblioteca universitária.
O nosso país necessita de soluções para todas as áreas: social, financeira, política... Não seria mais inteligente aproveitar o potencial dos nossos pesquisadores? Os projetos acadêmicos não poderiam ser feitos a partir de propostas da própria sociedade? Afinal, é ela que sabe as áreas de maior carência de estudos “in loco” .
As teorias educacionais defendem que o conhecimento é constituído na e pela interação do sujeito-objeto, via mediação social. Ou seja, o indivíduo deve interagir com o que estuda para obter um real desenvolvimento.
Tal conclusão só vem a corroborar a importância de aproximarmos nossos estudantes de projetos que possam ter resultados realmente mensuráveis. Desta forma, além de estarmos colaborando para o crescimento dos próprios pesquisadores, estaremos retornando à sociedade um conhecimento que ela ajudou a construir.
Esse verdadeiro “exército” de acadêmicos deveriam ser agrupados, em disposição nacional ou estadual, para pesquisas correlatas aos seus estudos que efetivamente viessem a contribuir para os problemas da sociedade. Se a união faz a força porque insistimos em fragmentar? Quem ganha com isso? Talvez a resposta esteja em dirigentes que buscam a manutenção de um sistema arcaico e carente de reestudo. Os debates sobre o ensino estão aí para comprovar isso e “pipocam” por todo o país. De Piaget a Gardner teóricos são estudados para se obter o melhor método para formar o indivíduo e a sua consciência crítica. Mas como estamos aproveitando essas teorias? Formamos indivíduos capazes e reflexivos - ou ao menos acreditamos formar – e, após, ignoramos o seu potencial. A sociedade brasileira não pode se dar a esse luxo.
E ainda corremos o risco de transformar essa dinâmina em um círculo vicioso: formamos educadores que também têm que desenvolver trabalhos exigidos para o permanente aperfeiçoamento imposto pelas instituições de ensino. Estes mesmos educadores serão orientadores dos trabalhos dos futuros docentes. A prática da pesquisa torna-se o cumprimento de um requisito, sem a preocupação da efetiva utilidade dela para a sociedade. E aí formou-se o círculo: o orientador conceitua a pesquisa, o aluno é aprovado e multiplica essa cultura aos seus futuros orientandos.
É evidente a importância das pesquisas no contexto universitário para a construção e atualização do conhecimento, mas também é mister posicionar a pesquisa e a construção do saber diante dos desafios que se apresentam na realidade atual. Todos estamos cientes da necessidade de conhecermos experiências anteriores para elaborarmos de maneira mais eficiente o nosso presente. Nortearmo-nos por ações, estudos e análises evitará que incorramos nos erros cometidos por nossos antecessores. No entanto, o que acontece atualmente é a mera representação textual dessas experiências. Este é um fator que urge de inclusão nos debates educacionais.
Que bom seria se nesses debates a educação fosse vista como algo importante a qualquer ser humano e não como artigo de luxo. Que bom seria se estudantes que lutam tanto para a sua graduação tivessem o seu diploma valorizado. Que bom seria se todos fossem conscientes da importância do acesso à pesquisa, mas com resultados práticos. Caso contrário, estamos fadados a um ensino em massa, formador de meros repetidores sem o exercício do pensar. Uma civilização que não incorpora o conhecimento dos seus estudiosos poderá se deparar com um desenvolvimento estagnado. Conhecimento não exteriorizado torna-se inútil.
No entanto, se esse for o motivo pelo qual insistimos neste sistema de ensino, seria mais honesto assumirmos a política das castas. Ao menos não estaríamos distribuindo a ilusão de que, algum dia, com muito esforço, poderíamos nos tornar algo melhor e maior do que somos, morreríamos na mesma condição em que nascemos. (tirado do Espaço Acadêmico)

Dica de site www.sabotagem.cjb.net muitos livros bons. Se você gosta de ler livros pelo computador esse é o lugar certo.

sábado, fevereiro 26, 2005

Castelinho: um julgamento inconcluso

por Hélio Bicudo

Nos primeiros dias de maio de 2003, a polícia de São Paulo executou, no pedágio da rodovia que liga a Castelo Branco a Sorocaba, 12 pessoas que, supostamente, iriam assaltar um avião que aterrissaria no aeroporto daquela cidade, com avultada soma de dinheiro. Posteriormente, apurou-se que há anos não aportavam naquele aeroporto aviões com grandes somas.
Na ocasião fizeram-se os maiores elogios à atuação da polícia cujos órgãos de informação tinham tornado possível a sua intervenção para evitar um assalto. O então ministro da Defesa chegou a manifestar-se nesse sentido, associando-se ao que então se afirmava.
Contudo, um exame mais acurado dos fatos veio a demonstrar que a chamada “operação Castelinho” fora uma das maiores farsas da polícia paulista.
É que a polícia estava desprestigiada aos olhos da opinião pública: aumento da violência com seqüestros não resolvidos; fuga de presos que chegaram, em um dos casos, a se utilizar de um helicóptero para sair do pátio do presídio onde se encontravam; rebeliões nos presídios da capital e do interior.
Essa situação reclamava que se fizesse algo para – a exemplo do que já acontecera nos anos 60/80 do século passado, com a criação do “esquadrão da morte” – restabelecer o prestígio da polícia e a sua confiança por parte da população.
Um órgão que funcionava junto ao gabinete do Secretário da Segurança, que responde pela sigla de GRADI - Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância, tendo recrutado, com autorização (ilegal) dos juízes da Corregedoria dos Presídios, alguns detentos condenados por delitos graves, passou a armar, com a ajuda desses delinqüentes, um evento que denotasse a eficiência da polícia. Recrutaram 12 pessoas com o objetivo de realizar o aludido assalto.
Proporcionaram armas e a munição, estas sem efeitos letais, e, por fim, um ônibus que os conduzisse para o local do assalto.
Esses homens foram surpreendidos na praça daquele pedágio e sumariamente executados. Ato contínuo, tratou-se de limpar o local do crime, enviando as vítimas, já mortas, para a Santa Casa de Sorocaba, e alterando o conjunto do cenário em que os fatos se deram.
Os laudos do Instituto Médico Legal foram enviados a um dos maiores especialistas - o professor Nelson Massini – em exames médicos legais, que concluiu tratar-se de uma mera chacina: as vítimas foram atingidas, preferencialmente, no tórax e na cabeça por disparos de armas de fogo, alguns deles à queima-roupa. Os ferimentos constatados nos braços resultaram de gestos de defesa.
Com base nesses fatos, os professores Fábio Konder Comparato e Dalmo Dalari, os advogados José Carlos Dias, ele e Carlos Miguel Aydar, este presidente da secção paulista da OAB, representaram ao Tribunal de Justiça e ao procurador Geral da Justiça, para que instaurassem os inquéritos competentes para a apuração, de um lado, de fatos praticados por juízes corregedores e Secretário de Segurança e, de outro, dos policiais que participaram da execução. Estes últimos foram denunciados pelo Ministério Público e o processo corre pela comarca de Itú, onde o crime se consumou. Os primeiros foram submetidos a inquérito que teve o seu sigilo decretado pelo Órgão especial do Tribunal de Justiça do Estado.
O processo de Itú, com mais de cinqüenta réus, prolongar-se-à por anos e só se esgotará depois dos recursos julgados pelos tribunais.
Quanto aos juizes e Secretário, o resultado já era esperado, em um procedimento sob sigilo, aliás, questionável, nos termos do disposto no artigo, 93, IX da Constituição Federal, que impõe a publicidade dos julgamentos. O órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o arquivamento do inquérito por insuficiência de provas, com apenas um voto contrário. O inexplicável é que o Secretário incriminadosequer foi ouvido e o Ministério Público impedido de manifestar-se no plenário daquele órgão. O relator, entre outras jóias que podem ser lidas no voto vencedor, observou – isto está no noticiário dos jornais – que o fato de os juizes terem violado a lei se constitui numa atitude compreensível na luta contra o crime organizado. Quer dizer: pode-se cometer crime para combater crime!
Mas tal situação, que não pode ser assimilada pela sociedade civil, não é irreversível.
Prevendo que a solução seria tomada pelo Tribunal de Justiça, por ser órgão especial, a Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos já acionara a Comissão Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, da OEA, alegando que não obstante não esgotados formalmente os recursos internos, (requisito para o ingresso da denúncia perante a comissão) tudo indicava, tendo em vista o grande número de antecedentes, que o resultado seria a impunidade, como realmente aconteceu. Em correspondência de dezembro do ano passado, a Comissão Interamericana informava que aceitava a denúncia e iria proceder de acordo com as disposições de seu Regimento.
Em conclusão: o lamentável episódio não terminou, pois devemos esperar que os fatos que não sensibilizaram o corporativismo da justiça paulista, encontrem seu reconhecimento, primeiro pela Comissão e depois pela Corte Interamericana, cujas decisões são de cumprimento obrigatório em nosso País.

Hélio Bicudo é presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

O integralismo ou o nazi-fascismo com feijoada


Somatória integralista

Por Onaireves Moura
Atualmente, tem aparecido com freqüência anormal, referencias a uma nova “ideologia” política denominada de “linearidade doutrinária”, “nacionalismo espiritualista” e outras expressões estranhas, que na verdade representam uma tentativa de ressuscitar o Integralismo, movimento velho conhecido nos círculos da extrema-direita.
Em seus artigos, o movimento menciona sua intenção de combater tanto a “internacional vermelha”, representada pelos “comunistas”, como a “internacional dourada”, representada pela “burguesia” capitalista.
Considerando que o velho “perigo vermelho” já não existe mais á décadas, e que até mesmo os velhos partidos comunistas mudaram de nome e adotaram propostas democráticas e neoliberais, fica claro que “comunista” para esses senhores será qualquer um que discorde de suas idéias.
Quanto ao combate a burguesia e ao capitalismo o assunto se torna bem mais complexo. E para entender melhor é necessário conhecer um pouco as origens do movimento. Para tanto, valemo-nos primeiramente de simples registros enciclopédicos:
A Enciclopédia Barsa, no volume 4, página 37 define Integralismo assim: “O partido, Ação Integralista Brasileira, foi fundado pelo escritor Plínio Salgado e conquistou, a partir de 1932, numerosos adeptos, graças ao apoio de uma parte do clero e de muitos intelectuais, e pela tendência política geral da época, que favorecia os movimentos inspirados no fascismo”.
A Nova Enciclopédia Ilustrada Folha – no volume 1 – página 498 nos dá a seguinte definição: “Integralismo: Versão brasileira do fascismo, o integralismo pregava o governo ditatorial ultranacionalista, que promoveria uma limpeza no país baseada no lema ‘Deus, Pátria, Família’. Sua expressão partidária foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada em 1932 que obteve grande apoio nos setores mais conservadores da sociedade, como a oligarquia tradicional, os militares e o clero”.
Visto isso, fica difícil aceitar que os integralistas de fato se oponham ao capitalismo. Na verdade, a essência de sua metamorfose moderna é descrita como “nacionalismo espiritualista”. Não é difícil portanto concluir que tudo leva a conhecida fórmula da extrema-direita no mundo todo: Xenofobia e desprezo pela democracia.
Quanto às alegações de que o movimento não tem relação com o fascismo, também podemos recorrer a uma simples consulta a “História do Século 20” – Volume 4 – página 1593, onde podemos ler:
“Em Hierarchia (cujo título inspira-se no órgão oficial do fascismo italiano) colaboraram alguns dos futuros dirigentes e intelectuais integralistas: Plínio Salgado, San Tiago Dantas, Hélio Viana, Obiano Mello, Madeira dae Freitas e Antonio Galotti”.
“No seu exemplar de março/abril de 1932, com um retrato de Mussolini com dedicatória especial para a revista encontra-se um artigo de Plínio Salgado, anterior ao lançamento da ABI, intitulado ‘Como eu vi a Itália’”.
“Refere-se ao encontro direto entre o futuro chefe integralista e o Dulce quando da viagem do primeiro ao oriente e a Europa em 1930:”
Reproduzimos a seguir parte do referido artigo:
“O que estamos presenciando hoje é o espírito de Roma se levantando, com o seu eterno senso de equilíbrio e de simetria, a sua capacidade de totalização dos elementos individuais e sociais, de concepção do mundo sob um critério integral, onde não há choques nem tendências dissociativas. Roma, fascista, tão caluniada pelos demagogos ébrios da cocaína libertária, constitui atualmente a suprema garantia de liberdade”.
Se não bastasse isso, o integralismo “abrasileirou” praticamente cada elemento da ritualística fascista e alguns do também nascente Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, o NSDP ou “Nazi”, de Adolf Hitler e Rudolf Ress. Senão vejamos:
Os militantes integralistas passaram a usar e a se denominar “camisas verdes”, uma clara cópia dos “camisas negras” fascistas e dos “camisas pardas” das Sturmabteilungen (“seções de assalto”), as “SA” dos nazistas.
O lema fascista “Acredita! Obedece! Luta” foi adaptado para “Deus, Pátria, Família”.
A expressão “Anauê” de origem indígena, é uma evidente imitação do “Sig Heil” nazista.
O “Sigma”, símbolo do integralismo, é uma óbvia emulação da suástica nazista.
Plínio Salgado é chamado de “Nosso chefe” e “Grande Condestável” pelos seus seguidores, numa clara alusão ao “Dulce” italiano e ao “Führer” alemão.
Toda a “coreografia” das manifestações integralistas é copiada dos eventos fascistas e dos grandes “festivais” nazistas. A profusão de bandeiras, a saudação com o braço direito estendido, os uniformes para-militares, a mania de distintivos e medalhas, tudo não passa de adaptação e imitação.
As únicas diferenças, ficam por conta de impossibilidades evidentes de adaptação:
O integralismo não era racista. Mas devemos nos lembrar de que o fascismo também não era anti-semita. Mussolini só começou a fazer discursos contra os judeus para agradar Hitler, quando já eram aliados no “Eixo”.
No Brasil, o anti-semitismo sempre foi praticamente inexistente entre o povo. Com uma população 70% mestiça, veleidades sobre “raças superiores” seriam obviamente um absurdo. Também qualquer idéia de expansionismo territorial seria ridícula.
Mesmo a alegação de que o integralismo teria um lado “espiritualista”, em oposição ao nazi-fascismo, é completamente falaciosa. Sabemos que tanto Mussolini quanto Hitler, apesar da incompatibilidade de suas doutrinas com o cristianismo, jamais hostilizaram a Igreja, onde alias tinham muitos adeptos e admiradores (e alguns colaboradores do mais alto nível).
O “espiritualismo” de Plínio Salgado pode ser avaliado por sua obra “A vida de Jesus”, que na realidade é uma espécie de “Evangelho segundo o fascismo”. Entre outras preciosidades, a obra compara Julio César com Jesus Cristo, e afirma claramente que: “César e Cristo não são antítese um do outro. Para que César viva, não é necessário que Cristo morra; e para que Cristo impere não é preciso que César seja eliminado”.
Em outras palavras, os ditadores fascistas seriam uma espécie de complemento, nesse mundo, do poder de Deus.
Que ninguém se iluda, o novo movimento integralista se insere perfeitamente dentro de um fenômeno típico da nossa época, em que a completa falência do marxismo e das utopias de esquerda, aliadas a rejeição aos abusos do capitalismo global, engendra movimentos baseados no ódio e na intolerância.
Mais uma vez, trata-se de imitar os movimentos “patriotas” norte-americanos, neonazista e neofascista na Alemanha e na Itália, os partidários de Le Pen na França e toda a fauna de extrema-direita que prolifera pelos cantos obscuros do mundo.


Li este texto e achei muito providencial em refletir um evento que vi estes dias. Estava eu (Leonardo) na aula da Escola de Magistratura com a Fernanda (minha namorada) olhando e reparando naquelas aulas difíceis e normativas, sem entender muita coisa, mas com muita crítica a fazer. O professor que ministrava a aula era um velho, desses bem velhos mesmo, daqueles em que o conservadorismo escorre por seus poros. Ele até aparentava ser um bom sujeito, falava sobre as mudanças do Código Civil (que não era modificado desde o começo do século passado), sobre os artigos, sobre os parágrafos e emendas. Aquilo tudo foi me deixando muito confuso, e ao mesmo tempo eu pensava o tanto que a nossa carência de memória histórica fazia falta. Algumas leis eram mudadas e, passado um tempo, mudadas de novo, revogadas, derrogadas, e esquecidas. E enquanto o professor falava de todas essas mudanças e reviravoltas ninguém pensava em como aquilo se sucedeu, ninguém pensava em qual fenômeno histórico levou aquilo a acontecer. Como a aula foi muito rápida, o povo estava interessado mesmo em copiar o máximo de conteúdo que o mestre passasse. O interesse não era em saber porque as leis privilegiavam os homens, os ricos, os poderosos, os brancos. O interesse é passar no concurso de juiz. O interesse é decorar ao máximo os códigos e a constituição para depois formular alguma reflexão.
Não vejo nada de errado nisso, é uma escolha que cada um faz. Espero que todos estejam cientes da responsabilidade que é ser um Juiz, ter a faculdade de julgar. É uma profissão tortuosa, e para alguns pode até ser prazerosa, visto que na Tv atual o que reina são canais onde o público julga segundo seus critérios quem sai da casa, quem é feio, quem merece dinheiro, quem merece atenção, quem é chato...
Bom, a minha intenção nem era sair do ponto que estava falando. Eu vou viajando e depois ninguém entende nada do que eu escrevi. Mas é bom ficar pensando e extrapolando a reflexão nas mais diferentes esferas do social.
A minha questão mesmo é com relação a uma frase que o professor disse. Como todos que fazem Direito sabem, o Miguel Reale é o guru das leis, o cara mais sábio do mundo jurídico (dizem alguns juristas). O juiz que dava a aula numa certa altura resolveu contar que o irmão dele tinha estudado com o mítico e inalcançável Reale, até ai tudo bem. Logo depois ele revelou uma coisa da qual eu nem sabia, o Miguel Reale era integralista, e dos mais militantes. Pra piorar, o mestre revelou que seu irmão também era militante do integralismo, e disse isso com todo o orgulho. Se fosse em alguma época pretérita da nossa história com certeza ele iria ser fortemente vaiado. Mas, como a nossa juventude não está nem ai, ninguém se lembra do passado e hoje todo mundo é igual perante a lei, e fomos todos anistiados, então o negócio é esquecer mesmo. Pra quê lembrar de um tempo em que não tinha shopping center, sem big mac, sem globo, sem Internet, sem nada pra fazer. Por quê lembrar o tempo da vovó, deveria ser tudo muito chato mesmo, e também, nada do que acontece hoje tem referência a aquele tempo.
Certamente muita gente pensa assim, é por isso que os Severinos, os ACM, os Sarney, os Maciel, os Marinho, os Maluf, e muitos outros são, e se nada mudar vão sempre ser Os Donos do Poder. E o que é pior, seres fascistas e ridículos vão passar despercebidos por nós, vão se organizar e profetizar sua fé estúpida. Chega de ufanismos, chega de líderes, de populistas, de caudilhos, ta na hora do Brasil crescer. Mas para isso tem que haver uma ruptura com o passado, realmente acabar com esse Estado paternal, colonial, patrimonial, plutocrático e centralizador.
Chega de anticomunismo, chega de TFP. Vamos acabar com esse discurso moralista e hipócrita. Pra terminar eu deixo um pedaço de uma resenha minha sobre um livro que aborda o anticomunismo: “a todos que anseiam conhecer a verdadeira história e não somente aquela contada nos livros didáticos obsoletos. Desenterrar o passado e esmiuçá-lo é tarefa que deveria ser seguida por todos, não apenas por pesquisadores e historiadores. O que somos, o que pensamos e o que sentimos está intimamente ligado a nossa construção histórica. Os vínculos com o passado não foram quebrados: o anticomunismo ainda está presente, apesar de estar diluído no social e aparecer nas entrelinhas de nossas atitudes e convicções. Esse ranço ainda está ativo. Mesmo que já moribundo, ele permeia o inconsciente coletivo e se materializa nos nossos valores, na família, na submissão à ordem vigente, no seguimento às doutrinas religiosas e também a instituições remanescentes como a TFP.”

Severino falou, Severino avisou...


Lulinha, essa música é de uma outra conjuntura, mas bem que ela continua cada vez mais atual. Desta vez, foi o Severino que mostrou o que é possível se fazer com 300 picaretas.

Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou

Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da nação
É lobby, é conchavo, é propina e jeton
Variações do mesmo tema sem sair do tom Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída

Pra fazer justiça uma vez na vida
Eu me vali deste discurso panfletário
Mas a minha burrice faz aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par se sapatos, um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados
Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez
O congresso continua a serviço de vocês
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão
Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição
Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena
João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM e de televisão Rádio FM e televisão

Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor

Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da nação
É lobby, é conchavo, é propina e jeton
Variações do mesmo tema sem sair do tom
Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída

Pra fazer justiça uma vez na vida
Eu me vali deste discurso panfletário
Mas a minha burrice faz aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par se sapatos, um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados
Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez
O congresso continua a serviço de vocês
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão
Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição
Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena
João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM e de televisão Rádio FM e televisão
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor

Dedicado ao nosso querido ex-deputado João Alves que morreu em novembro do ano passado.
Coitado, ganhou tanto nas loterias e tudo por iluminação divina...

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Saiba quem é Severino Cavalcanti, que promete elevar salário dos deputados

Em seu terceiro mandato consecutivo, o pernambucano Severino José Cavalcanti Ferreira (PP), 74, construiu sua candidatura à presidência da Câmara com a promessa de elevar salários e de melhorar as condições financeiras de atuação dos colegas deputados.
Com forte apelo no chamado baixo clero, o deputado pernambucano faz parte da mesa diretora da Câmara há oito anos --mesmo período em que tenta a presidência da Casa.
Cavalcanti ficou conhecido na Câmara por lançar sua candidatura independente em outras duas ocasiões. Apesar da candidatura, o deputado sempre acabava entrando em acordo com os demais candidatos e desistia da disputa. Pelo acordo, ele apresentava a sua desistência e, em contrapartida, recebia um outro cargo na mesa.
Dessa vez, porém, Cavalcanti preferiu pagar para ver e foi até o fim com sua candidatura.
Severino Cavalcanti foi prefeito de João Alfredo, sua cidade natal, de 1964-1966, pela UDN (União Democrática Nacional), partido que liderou a oposição a Getúlio Vargas quando o presidente ainda era vivo --morreu em agosto de 1954.
Hoje no PP, Cavalcanti passou por diversos partidos após sua estréia pela UDN. Em 1966, entrou para a Arena (Aliança Renovadora Nacional), o partido de sustentação da ditadura militar. Em 1980, foi para o PDS e, em 1987, para o PDC (Partido Democrata Cristão), onde permaneceu até 1990, quando entrou no PL (Partido Liberal).
Ficou pouco no PL, apenas até 1992, quando foi para o PPR. Em 1994, transferiu-se para o PFL e no ano seguinte, para o PPB, onde permaneceu até 2003, quando o partido mudou o nome para PP.

O novo presidente da Câmara foi o autor da denúncia que levou o governo militar a expulsar do país o padre italiano Vito Miracapillo, em 31 de outubro de 1980.
Cavalcanti liderou o movimento contra o religioso porque ele se recusou a celebrar uma missa comemorativa à Independência. Miracapillo alegou que o país ainda não havia efetivamente conquistado a sua independência.
Ligado à ala progressista da Igreja Católica, o padre, que vivia no Brasil desde 1975, atuava em Ribeirão (a 100 km de Recife, PE), município localizado na Zona da Mata, uma das áreas de influência do deputado, à época.
O parlamentar formalizou a denúncia ao então ministro da Justiça, Ibrahim Abi Ackel, e, pouco mais de um mês depois, no dia 15 de outubro, o presidente da República, general João Baptista Figueiredo, assinou a expulsão.
O instrumento legal usado para banir Miracapillo do país foi o Estatuto do Estrangeiro, que havia sido recentemente aprovado e que proíbe os estrangeiros admitidos no Brasil de exercer atividade de natureza política (a mesma lei foi utilizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar banir do país o jornalista americano Larry Rohter, no ano passado).
O decreto de expulsão de Miracapillo foi revogado em março de 1993 pelo presidente Itamar Franco, mas o padre --que hoje, aos 60 anos, vive na Itália --ainda não pode morar no Brasil porque aguarda a anistia.
A expulsão de Miracapillo teve repercussão internacional, mas em nenhum momento o parlamentar, na época filiado ao PDS, mostrou arrependimento. Ele justificou seu ato afirmando que o padre estava desagregando os moradores de Ribeirão. (tirado da Folha online)

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

uma idéia

Cesar Cardoso

- Eu tenho uma idéia. Vamos fazer um país, mas um país novo, partindo do zero. Bota aí uns 200 milhões de pessoas.
- Tá doido, é muita gente!
- Mas é pra ser muita gente mesmo.
- Mas é gente demais, não é, não?
- Tá bom, 180 milhões e não se fala mais nisso.
- Sei não. Vem cá, pra começar, como é que você vai arranjar trabalho pra essa gente toda?
- Não vai ter.
- Ué, não?
- Não. E é bom que não tenha. Tendo mais gente que trabalho você paga pouco a quem trabalha.
- Visto por esse ângulo... Mas eles vão trabalhar em quê?
- Nas empresas, é claro.
- Claro? Pra mim tá é escuro. Bota aí metade deles trabalhando, já são 90 milhões. Como que você vai fazer empresa pra essa gente toda?
- Nós não vamos fazer empresa nenhuma.
- Ué, não?
- Não. Vamos trazer as empresas de fora, que já estão prontas.
- E a troco de que elas vão topar vir pra cá?
- A troco não, a dinheiro graúdo, o dinheiro que eles vão economizar pagando muito pouquinho aos 90 milhões.
- Bom, visto por esse ângulo...
- Além do monte de matéria-prima novinha em folha que a gente vai dar pra eles.
- A gente vai dar?
- Dar é modo de dizer. Mas vai.
- Vem cá, você não acha que os 90 milhões que trabalham e ganham miséria vão acabar chiando?
- Acho.
- E fica por isso mesmo?
- Claro que não. A gente pega 2 milhões deles e faz eles ficarem milionários, com um vidão de primeiro mundo pra nenhum botar defeito.
- Você é doido! Os outros vão morrer de inveja!
- Lógico, a idéia é essa.
- Ué, não entendi.
- A inveja é a filha mais nova e mais gostosa do desejo.
- E daí?
- Daí a gente bola uns anúncios dizendo, melhor, prometendo que esse desejo está ao alcance de qualquer um.
- E eles vão acreditar?
- E quem é que não acredita num anúncio bem-feito, com calda escorrendo e a mulher mais linda dizendo que você é o tal? Hein? Hein?
- Bom, visto por esse ângulo... Mas e os outros 90 milhões que nem ganhar pouco ganham?
- O que que tem esses 90 milhões?
- Ah, esses não vão acreditar nem em anúncio bem-feito.
- Claro que acreditam, esses aí são muito mais fáceis de enganar. Eles nem foram à escola!
- Não?
- Claro que não. Se não tem emprego pra eles, pra que vai ter escola?
- Mas é tão bacana ir à escola!
- E você acha bacana ter 90 milhões de pessoas espertas, esclarecidas e sem nada pra fazer?
- É, não é uma boa idéia, não. Mas eu acho que mesmo assim eles vão aprontar.
- Vão, com certeza vão. Tem gente que vai roubar, tem gente que vai matar.
- E aí?
- Aí a gente diz que a culpa é deles. Se tem 90 milhões que estudam e se matam pra ter um pouquinhozinho de dignidade por que os outros 90 milhões são desempregados? Porque não querem nada com o batente.
- Mas eles não têm emprego nem que queiram.
- Mas, se você contar isso pra eles, meu amigo, eu sinto muito mas vou te prender e te chamar de terrorista.
- Aí já sei, mesmo eu sendo teu melhor amigo, você acaba com a minha raça.
- Eu? Não toco em um fio de cabelo seu. Deixo você fugir e anuncio que o terrorista perigoso, uma ameaça às famílias, está solto!
- Pô, eles vão querer me matar!
- Mas eu sou teu amigo, e não deixo eles te matarem. Assim esse joguinho não termina nunca.
- Mas a gente estava falando dos 90 milhões de desempregados.
- Que desempregado! Não vai ter desemprego no nosso país.
- Como não?
- Ta na cara, eles só são desempregados porque não querem trabalhar, o que faz com que eles deixem imediatamente de ser desempregados e passem a ser vagabundos. E não vão ser todos.
- Como é que você sabe que não vão?
- Essa é fácil. Religião.
- O que que a religião tem a ver com isso?
- É uma receita. Pegue um desocupado e encha a cabeça dele de religião, cria logo umas três ou quatro pra eles disputarem qual é a melhor. Além de obedientes, eles não vão pensar em fazer besteira.
- Será que não?
- Vai por mim, pra criar obedientes, a religião é melhor que o quartel. E quem não seguir uma religião qualquer nem for empregado só pode ser um marginal. E marginal, a ciência já provou que é um problema de nascença ou de código genético, área do cérebro, algo assim.
- Eu não sabia. Que ciência provou isso?
- A que a gente quiser. Afinal, quem é que vai pagar os cientistas?
- Bom, visto por esse ângulo...
- E aí, gostou da minha idéia?
- Sei não, você tem sempre idéias mirabolantes. Acho que esse troço não vai dar certo. Como é o nome dessa idéia?
- O nome? Eu pensei em Brasil.
- Brasil? Daonde você tirou isso?
- Sei lá. Acho que li em algum lugar e ficou na minha cabeça. Brasil.
- Bra-sil, não sei. Eu prefiro Zimbábue. É mais sonoro, tem mais ritmo, Zim...bá...bue!
- E por que não Nepal?
- Ih, mas você cismou com esses nomes curtinhos terminados em l...

Essa cervejaria devia ser um sucesso na época em que o nosso guru, Lévi-Strauss veio pra cá.

O que é isso companheiro?

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Estou postando um artigo do Ferréz, não sei por quê. Ele escreve para a Caros Amigos. E, como muitos que escrevem para esta revista, ele não sabe muito bem se expressar. Não que eu saiba e tal, mas há uma arrogância de alguns escritores quando se trata de sua origem social. Eles se acham os “da favela”, e escrevem com se tivéssemos culpa disso. A gente tem culpa sim, mas nós queremos o que os grandes não querem, a mudança. Outra que eu também coloco nesta categoria é a jornalista Marilene Felinto. Ela só escreve para criticar, descer o pau, literalmente. Não há um embasamento preciso daquilo que ela escreve. E, não há muita teoria em toda a revista, salvo exceções como: José Arbex Jr., Gershon Knispel, Emir Sader, Gilebrto Felisberto Vasconcellos... O caso é que, Ferréz resolveu escreveu sobre algo que penso muito nestes últimos dias. Sobre a subserviência de antigos “rebeldes” da música para o marketing e a propaganda. Acho que ele foi bem direto naquilo que está questionando.

Esses dias parei pra pensar

por Ferréz
Diminuí o ritmo, cancelei os compromissos, parei de pensar na grande mudança, comecei a ver os detalhes de tudo novamente, aumentei a observação, abaixei a cabeça e fiquei só de boa, por horas e horas.
Esses dias parei pra pensar, porque as pessoas sinceras não têm mais vez nesse nosso mundo.
E, enquanto eu mudava de canal, pulei de um comercial do Marcelo D2 junto com o Seu Jorge e o Zeca Pagodinho (que já é experiente nisso), todos doutrinando a mesma cerveja. Sabe, eu não espero mais nada de ninguém, mas, usar o hip-hop como pano de fundo, aí já é demais.
Pisamos em tanto barro pra chegar até aqui, passamos por tantas salas de aula, por tantos salões, por tantos campos de futebol, todos eles lotados de meninos e meninas que chamamos de manos e manas, e tentamos convencer que um caminho melhor é possível, tentando provar através de nossas próprias vidas que há um caminho lá fora pra todos, e ele não está ligado com os vícios e com as armadilhas do sistema.
Tudo isso é jogado fora quando se fecha um contrato de um comercial desse tipo.
E o hip-hop que tanto amamos se torna um detalhe, uma parte de trás do figurino, escondido lá atrás do Nã, Nã, Nã.
Quem é às vezes num comenta, fica só na espreita, pronto para dar o bote, tudo tem uma conseqüência, nêgo.
Assisti um filme chamado Riddick, é feito por uma ator chamado Vin Diesel, o filme é de ficção cientifica, e além do mais é estadunidense, mas nele eu vi algo que está realmente acontecendo, a grande organização que faz a lavagem cerebral, que quer a qualquer custo todos idolatrando somente um.
A unidade total.
Notícias quentes, os Estados Unidos estudam atacar o Irã, e todo mundo comentando sobre o Big Brother.
Eu não sei o que é pior, maldita hora que tomei a pílula da verdade, maldita hora que me tornei um “diferente”.
Vejo meninos todos os dias, não olho mais para os adultos, eles me dão nojo, olho para as crianças, vejo eles todos os dias, repito o gesto que faziam comigo quando era pequeno, toda vez passo a mão na cabeça de um, lhe dou um pequeno afago.
Passo pela viela e escuto:– E aí, rapaz!
E de todos que me cumprimentam sinto mais verdade nos pequenos, eles me olham como um cara legal, não como o cara que viram na TV, nem como o cara que fez um livro e saiu no jornal, eles não, eles são um dos meus.
Na minha mesa tem alguns brinquedos, todos eles ganhados, quando um menino que não tem quase nada te dá um brinquedo de presente é porque você conquistou algo, e isso é muito melhor do que um contrato, eu sei que ele apanha do pai, eu sei que a mãe dele também apanha do pai, e eu sei que o pai dele bebe pinga e cerveja.
Grupos que se diziam politizados, como o Rappa, que tem na linha de frente o vocalista Falcão, dançando e cantando com uma latinha na mão, aí vai tudo por água abaixo, e tiozão ninguém tá julgando ninguém, mas as coisas passam batido, não desapercebido.
Porque aqui na minha quebrada isso é pecado, porque aqui a conseqüência do marketing atinge seu nível mais nojento e grotesco.
Eu curti o final de ano na laje do meu amigo Cacá, dentro da favela Santiago, os fogos eu vi de pertinho, aí tinha o Dinoitinha, um menino de 6 anos, ele não sobe nessa laje por medo da mãe do Cacá, ele ficou me chamando, eu desci, e pensei que ele tava querendo beber alguma coisa, então levei um guaraná pra ele, quando estendi a mão para dar ele disse:
– Isso não, eu quero cerveja.
Acabou, não querendo ser moralista, mas acabou, tá faltando algo aqui, tá faltando reajustar as coisas, eu caminho o dia inteiro, e tento não ver os erros, mas não consigo, tentar evitar não se parece comigo, os sofredores que são amigos se parecem comigo.
Os pagamentos da prefeitura foram cortados, o Terminal Capelinha tá podre, dá nojo tomar ônibus lá, e eu lembro da fala de uma conhecida minha daqui que gritou:– Votar na Marta? Cê tá loco, vou votar no Serra que é mais gostoso, que é homem.
Esses dias, uma outra mulher daqui parou ela e perguntou como ela se sentia vendo o Serra já entrando assim, ela disse:
– Deixa o povo se fuder, eu num vou me fuder sozinha mesmo.
E assim vai indo, a corrida pelo material escolar começou, ninguém acredita que ele vai dar continuidade nos projetos e a Folha me ligou:
– O que você acha da Marta ter tirado dez dias para passar férias em Paris?
Eu respondi na lata:
– É bom, para o povo se acostumar a ficar sem prefeito, pois isso será por quatro anos.
A pena disso tudo? Os muleques. Eles vão pagar também, embora não saibam nada de política, mas Carnaval tá chegando, né? Pra que se preocupá cum essas coisas.
E tem madame ajudando as vítimas do maremoto.
– Num tenho dinheiro, não, menino, num precisa olhar o carro, que tem seguro.
– Senhor guarda, olha aquele menino ali, eu vim fazer um depósito para as vítimas do maremoto, e acho que ele está me esperando para efetuar um assalto.
“É apenas uma criança, minha tia”, foi o que passou pela cabeça do guarda, mas ele foi lá e mandou o muleque sair fora.
É tanta fita que você nem acredita, apreenderam o documento do carro do Bolha, e lhe deram uma pá de multa, motivo? Acharam a Literatura Marginal 1 no porta-malas dele, eles folhearam e viram o desenho onde tem um PM com chifre e rabo, aí já viu, né, inventaram de tudo para multar.
É tanta coisa contra, mas na real a atitude dos verdadeiros não se compra, meu manifesto NÃO é com a lata na boca.
Ferréz é escritor, autor de Capão Pecado (Labortexto) e Manual do Ódio (Objetiva).

domingo, fevereiro 13, 2005


Este é o quarto da consciência, que nem sempre é usado para isso. O ócio impera neste lugar, mas também reina o apavoro dos trabalhos de última hora e dos estudos exaustivos.
Ele era um lugar inóspito e caiu no ostracismo, foi aí que tivemos a idéia de comprar um computador. Pronto. Hoje passo boa parte do tempo neste ambiente, muitas vezes cativando meu ócio.

A barata do Peixe. É por isso que eu adoro lá, não há hipocrisia, se aparece uma barata a gente joga uma calabresa pra ela curtir também.

sábado, fevereiro 12, 2005

Réquiem ao PT

Decididamente , não. Mas o processo de acomodação do PT às exigências da ordem não ocorreu sem fortes embates dentro do partido. Decididos a chegar ao governo a qualquer custo, os atuais dirigentes do partido esmagaram todos os que se colocaram diante de seu caminho. A vitória do pragmatismo desfigurou o partido. As carreiras individuais sobrepuseram-se ao projeto coletivo. A organização do povo, que constituía a essência da vida partidária, foi abandonada, e o PT virou uma simples máquina eleitoral, com todos os vícios da política burguesa.
Essa guinada à direita é ainda mais grave se lembrarmos que o partido foi forjado nas lutas contra a opressão política e a exploração econômica, tornando-se um importante instrumento do povo brasileiro na sua caminhada pela construção de uma sociedade justa e democrática.
Impulsionado por sua aguerrida militância, o PT cresceu e se consolidou como a principal força política do Brasil, tornando-se o grande portador do sentimento anticapitalista que brota das terríveis contradições de uma sociedade em crise permanente. É inaceitável, portanto, que no seu governo não haja o menor vestígio de transformação social.
Seguindo à risca as recomendações do FMI, o governo Lula aprofundou o neoliberalismo, transformando o Brasil num paraíso dos grandes negócios. Sob a consigna "tudo pelo capital, tudo para o capital", aos endinheirados o governo oferece vantagens tangíveis: megasuperávits primários, populismo cambial, juros estratosféricos, arrocho salarial, reforma da Previdência, gigantescos saldos comerciais, Lei de Falências, independência do Banco Central, Prouni, Parceria Público-Privada, liberdade para os transgênicos, cumplicidade com os "contratos espúrios" que sangram o erário e espoliam a população, opção preferencial pelo agrobusiness, reforma trabalhista.
Convertido à filosofia do Banco Mundial, o governo do PT abandonou toda veleidade de combater as desigualdades e eliminar a pobreza. Aderindo à lógica das políticas compensatórias, que atuam sobre os efeitos dos problemas sociais e não sobre as suas causas, contenta-se em minorar, dentro das limitadas possibilidades orçamentárias, o sofrimento do povo. Sob a palavra de ordem "tenham paciência e confiem em mim", aos descamisados Lula faz promessas vãs. Sem qualquer fundamento, ressuscita o "mito do crescimento" -há muito desmascarado por Celso Furtado e Florestan Fernandes. Com uma mão, retira direitos sociais, e, com a outra, distribui fortuitamente as migalhas da arrecadação fiscal, anunciando um punhado de programas sociais esquálidos, mal definidos e desarticulados (Bolsa Família, Fome Zero, Programa de Crédito Fundiário (ex-Banco da Terra), Prouni, Farmácia Popular, etc).A política externa, apresentada como a frente mais ousada da administração petista, mal dissimula sua subserviência aos cânones da ordem global. Nos fóruns internacionais, Lula faz bravata e cobra coerência neoliberal aos países ricos. Nos bastidores da diplomacia, em troca de um eventual assento no Conselho de Segurança da ONU, negocia o envio de tropas ao Haiti para cumprir o triste papel de gendarme do intervencionismo norte-americano.
A chegada de Lula ao Planalto iniciou o último ato do desmonte. Em nome de uma suposta "razão petista de Estado", começou um vale-tudo: alianças políticas espúrias, massificação das filiações, acordos eleitorais com oligarquias retrógradas e corruptas, campanhas eleitorais milionárias, atropelos ao estatuto do partido, censura e expurgos de parlamentares, cooptação e intimidação dos militantes, absoluta subordinação do partido aos interesses do Planalto. Enfim, o PT completa seus 25 anos vivendo uma grave crise de degeneração política e moral.A ruptura com a tradição de luta em defesa dos trabalhadores obrigou a direção a sufocar o debate democrático. É inútil continuar lutando nas instâncias do partido. O PT é irrecuperável. O tempo do PT acabou, mas o das transformações sociais não. A retomada das lutas populares é mais necessária do que nunca, pois, ao contrário do que diz a propaganda oficial, nada foi feito para enfrentar os problemas responsáveis pelas mazelas do povo. Na realidade, o Brasil entra na terceira década de estagnação econômica e grave crise social.Estar livre das amarras do PT é condição necessária para combater o ilusionismo lulista e derrotar a ofensiva neoliberal que acelera o processo de reversão neocolonial e faz avançar a barbárie. Estar fora do PT é condição necessária para começarmos, em franco debate com todas as forças comprometidas com a mudança social, a árdua tarefa de reorganizar a esquerda brasileira.

Plinio Soares de Arruda Sampaio Jr., 47, doutor em teoria econômica, é professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). É um dos organizadores do manifesto "Momento de Ruptura", que conclama a militância petista a abandonar o partido.

Augusto dos Anjos
Ceticismo

Desci um dia ao tenebroso abismo,
Onde a dúvida ergueu altar profano;
Cansado de lutar no mundo insano,
Fraco que sou, volvi ao ceticismo.

Da Igreja - a Grande Mãe - o exorcismo
Terrível me feriu, e então sereno,
De joelhos aos pés do Nazareno
Baixo rezei, em fundo misticismo:

- Oh! Deus, eu creio em ti, mas me perdoa!
Se esta dúvida cruel qual me magoa
Me torna ínfimo, desgraçado réu.

Ah, entre o medo que o meu Ser aterra,
Não sei se viva p’ra morrer na terra,
Não sei se morra p’ra viver no Céu!

Esse aí é meu etzinho.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

O melhor e o mais político dos Fóruns

GILBERTO MARINGONI
31/1/2005 (tirado do site Carta Maior, para maiores informações sobre como foi o Fórum eu recomendo a visita ao site www.cartamaior.com.br )

Este foi o melhor de todos os Fóruns. Não pelos debates, ou mesas redondas apenas, mas pelo roteiro não previsto que o encontro acabou seguindo nesses seis dias de calor abrasador às margens do Guaíba. Em meio a toda dispersão que uma atividade desse tipo inevitavelmente apresenta, pode-se também, por mais estranho que possa parecer, dizer que esta foi a menos fragmentada de todas as suas cinco edições. Como? É preciso atentar sobre a maneira como se dá esta partição entre as várias atividades.
Horizontalmente há de fato divisões e subdivisões de temas, organizações e propostas localizadas, que se traduzem num cipoal de mais de quatro mil atividades paralelas. Mas verticalmente, este foi o grande momento das articulações entre entidades, redes, associações, ONGs e agremiações políticas de todo o mundo. Cada um veio procurar sua turma. Foi aqui que os partidos de esquerda reuniram centenas de militantes, em que facções do PT lançaram manifestos, em que redes de mulheres, jovens, camponeses, gays, lésbicas etc. etc. buscaram agendas comuns para o curto e o médio prazo. Foi o encontro dos encontros.

Divã
Foi também um Fórum no divã, o primeiro em que a iniciativa pôs-se a pensar sobre si mesma, a “discutir a relação” com o período inter-fóruns e com a realidade objetiva. Quem somos, de onde viemos, para onde vamos? Não se trata de centenas de assembléias que se diluem numa vaga concepção de que “tudo é tudo”, de o que vale é o “espaço plural”, mas de uma fragmentação tensa, para voltar à palavra mais ouvida nesses dias por aqui. Fragmentação tensa por não se conformar com este estado da arte em pedaços, mas por ser uma situação em permanente movimento e em constante vir a ser.
Irrompe nesta reflexão o fato de este FSM se realizar sob o signo da derrota do PT em Porto Alegre, o que coloca limitações e possibilidades para suas futuras repaginações. Saber se os futuros encontros serão aqui, ou não, se serão um ou quatro, descentralizados, se acontecerão uma vez por ano, ou em períodos maiores, importa menos pelo sentido puramente geográfico e mais pelo aspecto da potencialização das ações concretas do movimento “altermundista”, neologismo cabeça criado nos últimos anos. A derrota impõe necessidades práticas e políticas para entendê-la e superá-la. A derrota em Porto Alegre repercute no mundo e confronta a todos com indagações cortantes: afinal, se é um encontro da chamada “sociedade civil”, para que se necessita do Estado a apoiá-lo, entidade exorcizada na carta de princípios inicial do Fórum?

Eixos e autogestão
A decisão de se acabar com os grandes eixos de conferências e testemunhos, espinha dorsal das edições anteriores do FSM, em favor de atividades auto-geridas, acabou se mostrando positiva. A presença dos partidos políticos, também limitada pelos princípios originais do Fórum, foi inevitável e acabou incrementando os debates por alternativas. Se cada um se responsabilizava por suas atividades, não há como impedir a participação de quem quer que seja.
Nos encontros partidários, aconteceu um riquíssimo embate de idéias sobre o que fazer diante do que julgam ser uma rota continuísta do governo Lula. Estamos ou não no limiar de uma nova diáspora entre a esquerda, a exemplo do que aconteceu após 1964, com as sucessivas crises e cisões desastrosas do Partido Comunista Brasileiro? A criação de novas agremiações, facções, rachas, manifestos nos levará a que escalas nessas incertas rotas em direção à transformação social?

Utopias e simpatias
O FSM também não é mais apenas um encontro de ONGs, com sua miríade de pequenas utopias, focadas em realizações parciais. A realidade do “mundo lá fora” se impõe, na busca por vontades e saídas mais gerais. A declaração de José Saramago, de que não é utópico, mas quer mudar o mundo já, pautou a semana. Popularmente, poderia-se traduzir suas palavras na expressão “chega de muito corococó e pouco ovo”. Vamos à luta, vamos ao concreto!
Pode-se mudar o mundo sem tomar o poder?, é a pergunta que rendeu acalorados seminários nesses dias. É possível limitar nossos esquadros em se pensar globalmente e agir localmente?, indagam-se outros. Por trás dessas questões, diferentes nuances de concepções de mundo se agitam. O Fórum acontece hoje apenas em Porto Alegre, ou também onde há resistência real à globalização neoliberal, como no Iraque, na Palestina, ou na Venezuela?, para citarmos os casos mais evidentes. Estas alternativas foram clarificadas pelo manifesto lançado por alguns intelectuais participantes da própria gênese dos Fóruns Sociais Mundiais, e que reflete o denso choque de opiniões externados no verão gaúcho, pedindo bandeiras e ações mais definidas.
Alguns mais céticos se recordam do terceiro Fórum, animado pelas gigantescas manifestações contra a guerra, para lamentar a falta de uma bandeira mais clara. É preciso ir ao detalhe e verificar que aquela iniciativa tinha a nitidez do contraste a balizar suas discussões, o contraste com o ataque ao Iraque, contra um império não apenas política e militarmente agressivo, mas moralmente repugnante, pelo morticínio que causa. É uma necessidade bater-se contra tal inimigo! Mas dois anos depois é preciso afinar a sintonia do que fazer.

Novo ícone
Pode-se, sem medo de errar, afirmar que os participantes do Fórum são majoritariamente anticapitalistas e quase que unanimemente antiimperialistas. Não é à toa que, tendo se iniciado com a presença de Lula cercada por um cuidado para se evitarem hostilidades, o encontro termine com a sagração do presidente venezuelano Hugo Chávez como novo ícone das esquerdas globais. A ida do mandatário brasileiro a Davos não causa mais surpresa, dada a senda escolhida pela administração federal. Mas a apoteose que cercou Chávez é uma novidade.
O líder venezuelano, lembrou Ignácio Ramonet, ao apresentá-lo no domingo, para cerca de 30 mil pessoas que se dirigiram ao ginásio do Gigantinho, suscitou muitas dúvidas ao ser eleito, em 1998. Isso, por se tratar de um militar que tentara um golpe, “num continente escaldado por vários golpes militares”. As palavras, e principalmente as ações de Chávez em sua peleja contra as oligarquias locais e a Casa Branca, paulatinamente foram evidenciando surgira ali um “dirigente de novo tipo”, para valer-nos mais uma vez das palavras de Ramonet.
Ao longo de uma hora e trinta e cinco minutos, Chávez exibiu sua pauta: poder aos pobres, democracia, combate aos privilégios e ataque ao império. E, banhado pela legitimidade incontestável conquistada no referendo revogatório de agosto último, resolveu avançar o sinal. Até aqui, sempre que perguntado sobre seu projeto, o ex-militar afirmava não ser nem o capitalismo e nem o socialismo, mas o “bolivarianismo”, vago coquetel de concepções nacionalistas. Em Porto Alegre, não titubeou: “nosso projeto e nosso caminho é o socialismo”, exlamou com voz de barítono para as telas de todo o mundo. A declaração lembra a de Fidel castro, em 1961, quando definiu cristalinamente o caráter socialista da Revolução Cubana.
Que isso tudo tenha acontecido em Porto Alegre, sob o manto do Fórum Social Mundial, lhe dá outra qualidade. Entre 26 e 30 de janeiro de 2005, algo se move não apenas no FSM, mas em grande parte das esquerdas planetárias. O quê, exatamente, os próximos meses dirão. Mas se estivesse aqui, sob o sol do sul, James Carville, o hábil e grossísimo marqueteiro de Bill Clinton, ele poderia atualizar a frase que o consagrou:
- É a política, estúpido!

Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista da Agência Carta Maior, é autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo) e observador, a convite do CNE, no processo do referendo revogatório na Venezuela.

Violência no V FSM

divulgado no CMI Brasil

O Acampamento da Juventude (AJ) durante o V Fórum Social Mundial tornou-se espaço para outros fins além dos de articulação e troca de experiências políticas, de interação entre grupos, de venda de produtos – socialmente responsáveis ou não -, de manifestações artísticas. Lá também sentimos na pele uma avalanche de furtos, estupros, espancamentos, roubos e outras violências das quais poucos saíram ilesos, sejam como vítimas, seja assustados pela boataria e paranóia.
“Com a multidão que chega, nenhum processo é controlável. A manifestação coletiva ninguém segura”. Assim Cristina Ribas, membro da comissão de programação do Comitê de Organização do AJ definiu o descompasso entre as intenções do comitê e o que se viu nestes 6 dias, em que cerca de 30 mil pessoas ocupara o Parque da Harmonia, em Porto Alegre. Em 2003, durante o III Fórum, ouviu-se muito falar de roubos e furtos, mas nada comparável a este ano. Wilson Henrique, militante do movimento comunitário na cidade do Rio de Janeiro, estava embasbacado em frente à tenda de segurança do AJ, lamentando um prejuízo de mais de 2000 reais. Na noite anterior, sua barraca fora roubada e ele perdera uma câmera de vídeo de 1500 reais, 500 reais em dinheiro, a passagem de ônibus de volta para sua cidade natal, mais os pertences pessoais. Alguém entrara em sua barraca pela madrugada do dia 30 para o dia 31/1, aproveitando que ele estava adormecido, abriu a porta e levou sua mochila. Casos semelhantes a este eram escutados em qualquer lugar do acampamento. O próprio Wilson relatou casos de espancamento de seguranças, roubo, tentativa de linchamento e estupro.
O coordenador de segurança do AJ, da empresa de segurança PSV, estimou que diariamente aconteciam quatro estupros, além de diversas tentativas e assédios, o que vem a confirmar relatos já postados no CMI. Aproveitando que os chuveiros coletivos eram mistos e ao ar livre, grupos de homens paravam para observar as mulheres, que se constrangiam. Uma jovem encontrava-se em coma após ter sido estuprada e espancada e ter sofrido traumatismo craniano, que por sua vez originou um coágulo no cérebro. Tudo isto nas palavras do coordenador, que destacou também a profusão de furtos (mais de 20 ocorrências diárias, cujo método mais comum era o de rasgar as paredes das barracas com navalhas ou estiletes e levar o que havia em seu interior), brigas, arrastões, linchamentos que culminaram em agressões aos próprios seguranças. O saldo final eram 8 agredidos e 2 hospitalizados.
Cristina Ribas comentou sobre o contrato da empresa PSV, afirmando que devido aos cortes de orçamento do FSM e do AJ, optou-se por contratar a empresa de segurança mais barata e com preparo insuficiente. Segundo ela, a equipe tinha certa competência para cuidar do patrimônio do AJ – como no Laboratório de Conhecimentos Livres, repleto de equipamentos eletrônicos e computadores – mas não sabiam lidar com pessoas, tendo sido agressivos com os acampados. Além disso, a empresa chegou ao Parque Harmonia apenas dois dias antes do Fórum, quando a estrutura do acampamento já funcionava, com gente acampando. A idéia da organização era não repetir 2003, quando a brigada militar gaúcha reprimiu os ocupantes do acampamento, tanto que ouve diversas conversas com a instituição, a fim de garantir que ela não atuasse lá. Tal decisão, segundo Cristina teria sido tomada de forma consciente pelo Comitê Organizador, visando a assegurar a liberdade de entrada de todos – o que não deixou de expor as contradições da cidade onde o acampamento está inserido.
Outro ponto recorrente foi o desencontro de informações. Não se sabe ao certo o número de queixas, quais seus tipos. Poucos registraram queixas, tanto que a Brigada Militar do Fórum, contando com um contingente de 2 mil guardas, registrou apenas 214 queixas no decorrer de seis dias. Isto não só no perímetro do acampamento, mas em toda área da Usina do Gasômetro, onde distribuíram-se as atividades do evento. 118 queixas referiam-se a “furtos descuido”, ou seja, que contaram com a distração dos donos em relação a seus próprios pertences, segundo explicação da sargenta Janice Santana, assessora de imprensa da Brigada. 35 pessoas presas, 13 roubos, 3 brigas: este foi o saldo de problemas até a hora do almoço do dia 31, o que ela qualificou como uma “quantidade esperada de ocorrências”. Nenhum estupro, segundo ela. Ou espancamento. Nenhuma tentativa de linchamento. Além disso, afirmou que não houvera conversa alguma entre organizadores do acampamento e diretores da Brigada, para que outro tratamento, mais brando, fosse fornecido. Osvaldo Bonetti, do espaço Che, destinado aos cuidados de saúdo dos acampados, também não registrara nenhum atendimento a estupros, 3 atendimentos a mulheres agredidas e uma tentativa de linchamento de um ladrão tomado por estuprador.
No entanto, era só caminhar um pouco entre as barracas para confirmar casos como o de Wilson Henrique. Membros de minha delegação (Rádio de Tróia – 102,9 FM Livre – Florianópolis) tiveram barracas vandalizadas e assaltadas, bolsas furtadas, presenciaram tentativas de linchamento. Um deles me confidenciou que, também durante a madrugada do dia 30, uma turba que assistia a um conflito perto da tenda Raízes berrava exaltada: “Idade Média, Idade Média!”.
Cabe pensar se as formas de organização de segurança do AJ – para as quais havia um grupo de trabalho específico dentro do Comitê Organizador – deveriam ter sido explicitadas antes, tanto no sítio do acampamento na internet quanto durante o credenciamento, para que pudéssemos nos auto-organizar melhor, e preservar nossa integridade. Talvez nem ter vindo. Segundo Cristina, uma opção para tornar as coisas mais seguras e centradas nos objetivos primordiais do Fórum seria transferir a sede do acampamento – e, conseqüentemente, o próprio FSM – para um lugar mais rural, no interior, para onde somente os interessados gostariam de ir.
Difícil saber como seria. E em Mumbai, como terá sido?