segunda-feira, dezembro 13, 2004

José Roiz (RIP) Eu amo esse cara!!

Médico, mas não um médico qualquer, o doutor José Róiz é um cientista extraordinário que não passa nem sequer um dia sem estudar, com seus 80 anos de idade, morando em Belo Horizonte e escrevendo em esperanto para uma revista editada na Polônia.

Dele tomei conhecimento lendo-o na magnífica Revista Brasileira de Medicina dirigida por Silva Mello (1886-1973), da qual foi redator e colaborador assíduo. Ele topou colaborar em Caros Amigos. Sorte da revista. Sorte dos leitores. Eis seu magnífico e bem fundamentado artigo sobre a deseducação física. (Gilberto Felisberto Vasconcellos)

As ginásticas suecas surgiram no início do século 19. Na década de 30, ainda adolescente, fixei, no quintal de minha casa, uma barra metálica
entre dois mourões para fazer exercício físico, com a intenção de desenvolver os músculos do tórax e dos membros superiores. Naquela época, a medicina ainda estava engatinhando. Acreditava-se que apendicite era nó-nas-tripas e que indivíduo musculoso é mais sadio do que o que possui músculos normais.

Associaram ginásticas suecas aos jogos olímpicos e criaram uma escola, a de Educação Física. Essa denominação é imprópria, porque não se pode educar o físico, mas tudo é possível em época de muito atraso. As escolas de educação física proliferaram em todo o país e tornou-se obrigatória em todos os colégios a freqüência às suas aulas. Mas os alunos não são submetidos a exames complementares para saber se estão em condições de fazer qualquer tipo de exercício físico.

Alguns ortopedistas fizeram pesquisa sobre problemas de coluna entre adolescentes de Belo Horizonte e constataram anormalidade em 8 por cento de 40.000 examinados, sendo o fato mais grave a incidência de escoliose a partir dos 10 anos de idade!


Jovem com problema de coluna vertebral jamais poderia fazer qualquer tipo de exercício físico. Deveria submeter-se somente aos que possam corrigir o defeito físico.

Deve ter sido a associação da beleza dos jogos olímpicos com o desenvolvimento muscular que encantou os professores de educação física. De fato, esses jogos estão cada vez mais bonitos. Por outro lado, continua crescendo a suposição de ser benéfica a evolução de qualquer força muscular.

Antes dos 25 anos de idade, isto é, antes do completo ama-durecimento, todas as partes de nosso corpo crescem e se desenvolvem ao mesmo tempo. Dar preferência ao desenvolvimento muscular nessa fase acarretará atraso no desenvolvimento de todos os outros órgãos. É claro que esse atraso não deve trazer sérios prejuízos, porém, o cérebro, por exemplo, possivelmente não deve ficar satisfeito de ser relegado a segundo plano, justamente pela parte menos importante do conjunto.

Se o desenvolvimento muscular se der depois dos 25 anos, isto é, quando começa o envelhecimento, o prejuízo para todo o organismo é muito grande. Isso acontece porque, à medida que envelhecemos, aparecem as atrofias generalizadas, que têm por finalidade diminuir a sobrecarga do coração e permitir que ele continue nutrindo toda a parte restante com a mesma eficiência. O desenvolvimento muscular nessa fase determina atrofias mais acentuadas e envelhecimento precoce.


Não deve agradar ao coração nem o pequeno desenvolvimento muscular ao nível da região inguinal para reduzir hérnia nesse local.

O desenvolvimento muscular no exercício aeróbico, como na corrida, por exemplo, implica um estresse físico. Nas competições, a esse estresse se associa o estresse psíquico da expectativa do evento, o medo de ser derrotado e decepcionar os parentes e amigos. A maioria desses contendores é constituída de jovens e, por esse motivo, não aparece imediatamente o prejuízo causado pela prática do esporte. Mas esses estresses, repetindo-se com muita freqüência, como geralmente acontece, causam enorme transtorno no organismo da maioria porque nela predomina o glicocorticóide sobre a insulina. O glicocorticóide, como se sabe, é um dos hormônios do estresse.

A humanidade se divide em duas categorias: longevo e não-longevo. Nos longevos deve predominar a insulina sobre o glicocorticóide, daí a facilidade que essas pessoas têm de enviar para os tecidos as diferentes substâncias orgânicas, o contrário do que acontece com a maioria, que é constituída de não-longevos. Nestes, a dificuldade de nutrir os próprios tecidos deve prejudicar a formação de anticorpos e diminuir a resistência a todas as doenças, inclusive ao câncer, é claro.

Se naturalmente a maioria já tem dificuldade de nutrir todas as células de seu organismo, a prática de esporte só pode piorar essa situação e deixá-la em condições precárias. Não existe nada para contornar essa situação. A única solução seria abandonar o esporte e fazer longas caminhadas.

Todos os esportes são nocivos. Em Pará de Minas, minha cidade natal, estão construindo quatro ginásios poliesportivos. Que mal fizeram a Deus os jovens de minha terra para merecer esse castigo?


A intenção de levar os jovens a praticar esporte para afastá-los das drogas é o mesmo que prestar culto ao diabo para não ir para o inferno.

Os privilegiados professores de educação física não sabem nada disso. Pelo contrário, para eles, esporte é vida e saúde.

Aqui no Brasil há Secretaria de Esporte em cada Estado e até Ministério do Esporte.

Tenho um livro intitulado Esporte Mata! A Secretaria de Esporte procurou o distribuidor de meu livro e lhe disse que ele estava proibido de circular. Nas livrarias onde estava exposto à venda, o livreiro foi obrigado a recolhê-lo. Recomendei ao editor fornecer gratuitamente o livro a quem estivesse interessado em sua leitura, mas a Secretaria de Esporte o impediu de fazê-lo, só que dessa vez não logrou êxito, pois o livro foi doado a algumas pessoas.

O professor de educação física pôs na cabeça dos jovens que o mais importante é competir. Assim, ele os mantém nessa roda-viva de gostar do que faz mal, com a intenção de não faltar à próxima olimpíada, conduzido por avião, hospedando-se em hotel cinco estrelas, levando, às vezes, um único atleta para competir e até se esquecendo de que aqui ficaram milhões de brasileiros passando fome. Se o atleta sair vitorioso, será tocado nosso hino nacional em homenagem ao aluno aplicado e ao professor também, por que não? E, então, todos os brasileiros ficam sensibilizados. Inclusive os que estão com a barriga vazia? Tenho minhas dúvidas.
Fico muito angustiado quando vejo jovens jogadores de vôlei usando joelheira inútil, com a intenção de se proteger contra o impacto de todo o peso do corpo sobre o joelho, quando ele faz a impulsão para cortar e arremessar com muita força a bola ao chão, impedindo que o adversário a defenda.

Alguns clubes já estão forrando a quadra de vôlei com tapete de borracha, que só poderia oferecer alguma proteção se tivesse, no mínimo, 25 centímetros de espessura, mas, se ele tivesse realmente essa espessura, o jogador não poderia fazer nenhuma impulsão. Esse tapete é mais uma tapeação

Assim, todos continuam cada vez mais enganados, acreditando que o mais importante é competir. De vez em quando um se destaca, como o da “jornada nas estrelas”. Mas é só. Nem poderia ser de outra maneira, pois o número de competidores é muito grande e o de vitoriosos, muito pequeno.

José Róiz

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