quarta-feira, dezembro 15, 2004

Por que adiar a reunião da Ancinav?

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A reunião plenária do Conselho de Cinema prevista para depois de amanhã foi desmarcada. Fala-se uma nova data em janeiro, no meio das férias de verão. Por que esse adiamento?
Dificilmente os nove ministros e 18 representantes do setor e da sociedade civil cancelaram a reunião por falta de tempo para coroar um processo de negociação espinhoso, mas aberto à manifestação dos mais diversos segmentos envolvidos. As pressões sobre a criação da Ancinav são imensas.
Basta lembrar que a Ancine era Ancinav até a véspera da promulgação da medida provisória que a instituiu. A pressão das emissoras de TV levou à redução da agência ao âmbito do cinema.
A Agência Nacional do Audiovisual proposta no projeto gestado no Ministério da Cultura mexe com interesses pesados: televisão, telefonia celular, monopólio de direitos autorais etc. Ela confronta as arquipoderosas emissoras de TV, que superaram temporariamente suas diferenças, se aliaram com outros segmentos empresariais, fundaram uma nova entidade, o Fórum do Audiovisual e do Cinema (FAC), que se reúne hoje em São Paulo para defender a "liberdade de expressão e a livre iniciativa" (sic).
Ironicamente cineastas remanescentes do cinema novo legitimam a reunião se prestando a enfeitar um bolo de gosto duvidoso.
É difícil imaginar que quase 20 anos depois da queda do Muro de Berlim, em plena democracia brasileira, um projeto de regulamentação do setor do audiovisual ameace a propriedade privada e a liberdade de expressão.
Afinal, que cláusulas tão bombásticas esse projeto contém? Esperamos que os interesses contrariados expressem suas reivindicações em termos bem concretos.
Ou ficará a sensação desagradável de que corporações falam mais alto que o interesse público justamente em um momento em que a tecnologia digital acena com uma série de possibilidades libertadoras.



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Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

Procuradoria cria força-tarefa antibaixaria

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

O Ministério Público Federal (MPF) criou uma força-tarefa para fiscalizar a TV. O foco da ação serão os dez programas que lideram o ranking da baixaria, elaborado pela campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados.
Chamada de Grupo de Trabalho de Comunicação Social, "a força" é formada por uma equipe de seis procuradores de diferentes Estados, liderados por Ela Wiecko, subprocuradora-geral da República e chefe da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão.
Dois procuradores acabam de ser destacados para monitorar os programas que estão no ranking da baixaria. Marcus Vinicius Macedo, do Acre, ficou encarregado de vigiar o "Pânico" (Rede TV!) e o "Cidade Alerta" (Record). Ele diz que está gravando os programas e reunindo cenas que desrespeitam os direitos do cidadão.
Sérgio Suiama, procurador da República em São Paulo, ficou encarregado de monitorar programas que veiculam preconceitos ou discriminações contra minorias. Ele deve fechar parceria com ONGs que irão ajudá-lo.
O grupo volta a se reunir em fevereiro para definir as ações _administrativas ou judiciais_ que tomará. Irá elaborar um conjunto de princípios que norteará o MPF em todo o país. Entre esses princípios já estão o preconceito e a presunção de inocência. Estuda-se promover curso sobre comunicação para todo o MPF.


Contos de andanças do ano vai morrer

Estou postando este pequeno artigo para uma possível reflexão futura de meus companheiros cientistas sociais. A discussão está aberta para todos, o texto é muito bom. Leiam com cuidado, ele pode persuade-lo.
Eu encontrei esta pérola em São Jorge, uma cidade que fica perto de Brasília. Foi numa igrejinha que minha mãe quis entrar para rezar. Eu fui atrás para dar uma olhada no local e pequei um folheto para lê-lo durante a viajem. Ao chegar a última parte, me deparei com o seguinte artigo. Não liguem para os erros de concordância.

A COERÊNCIA DA FÉ (NA HORA DE VOTAR)

Ser católico é ter fé em Jesus Cristo e seguir seus mandamentos, além de ter sido batizado e pertencer à Igreja. Há pois uma coerência entre a fé e a vida. Em outras palavras, o cristão vive de acordo com o que crê. Procura colocarem prática o que professa pela fé.
Vivemos numa sociedade pluralista. Por isso o cristão está aberto ao diálogo com todos. Não impõe seu próprio ponto de vista nem fé a ninguém. Não julga a vida particular dos outros, porque cada um responde perante deus e perante sua própria convivência acerca de seus atos.
Mas quando se trata de votar, respeitando a posição de cada um, o católico evidentemente tem diante se si as exigências de sua fé, para a promoção do bem comum. Seu critério de votação são os dez mandamentos, não no sentido de examinar como cada candidato os cumpre - isto não é de sua alçada - mas como cada candidato os utiliza para a construção do bem comum, em cuja ação deve representar o eleitor.
Por isso o católico não votará em candidato que:
Primeiro: defende princípios que atentem contra a liberdade religiosa, não deixando para Deus o espaço que Ele merece, de ser amado sobre todas as coisas, como fizeram todos os partidos marxistas quando chegaram ao poder;
Segundo: não respeita o nome e as coisas de Deus, tentando eliminar as expressões religiosas nos lugares públicos, quer pelo repúdio às imagens católicas, quer pela substituição dos nomes que identificam nossos lugares, à semelhança do que fizeram os Talebans;
Terceiro: se opõe à santificação e consequente repouso nos domingos e à abolição dos dias santos de guarda;
Quarto: promove medidas que desestruturam a família, desestabilizando-a pelo divórcio, diminuindo a autoridade dos pais sobre os filhos, promovendo uniões contrárias à Lei de Deus;
Quinto: defende o aborto e a eutanásia, bem como tenta justificar a violência e o desrespeito à vida;
Sexto: propaga que, em matéria de sexo, não existe certo e errado, e que seu uso é apenas questão de diversão;
Sétimo: incentiva invasão de propriedades legitimamente adquiridas ou de utilidade pública, querem prédios, quer em terras; ou legitima saques e arrombamentos como meios de organizar a sociedade; ou pauta sua conduta e suas posses usufruindo indevidamente de bens que deveria administrar, deixando-se levar pela corrupção e deso-nestidade neste campo; não tem visão de justiça e de bem comum;
Oitavo: Não prima em sua verdade: mente, faz propaganda falaciosa, engana, não merecendo crédito;
Nono: promove "uniões livres", isto é, sem compromisso de fidelidade; apóia a prostituição;
Décimo: apresenta falsas promessas da repartição de bens, que não lhe pertencem, e leva as pessoas a se organizarem para obter, à força, o que não querem merecer pelo trabalho; cria insatisfações no povo para levá-lo a medidas radicais.
Lembramos que os des mandamentos não são invenções humanas mas provêm de Deus. Cristo veio mostrar que o essencial de todos eles está no amor: amar a Deuas e amar o próximo. Isto significa: 1. adorar Deus; 2. amaras coisas de Deus: seu nome e suas expressões; 3. respeitar o tempo e o espaço de Deus; 4. amar a família que Deus nos deu; 5. amar a vida; 6. amar o corpo, tal como o recebemos do Criador; 7. amar os bens que Deus nos colocou à disposição; 8. amar a verdade; 9. amar op matrimônio indissolúvel; 10. amar os outros como tudo o que eles são e possuem.
Cartilha Eleitoral - 2002
Dom Dadeus Grings
(tirado do informativo mensal da diocese de Formosa - GO. ANO 4, N 47 - JULHO - 2004. DIACONIA)

Bom, nem sei o que dizer. Este texto é muito du caralho, a gente nem sabe por onde começar. Além de muito mal escrito, o texto é paradoxo do começo ao fim, assim como a Igreja católica.
Eu estou com muito sono agora para escrever alguma leitura minha sobre este texto. Reflitam sobre ele, mais tarde eu escrevo algo mais adequado. Mas o texto é inspiração para um livro inteiro. Dá muita vontade de escrever, se expressar, quando a gente lê uam coisa dessas. Por mais que eu tente tolerar o poder eclesiástico, quando a gente menos espera eles mandam uma bomba dessas. E isso é diariamente. Imaginem quantos lares recebem estes informativos e o colocam embaixo do braço como se fosse a mais pura expressão da verdade divina.
vocês leram o texto, nele têm menções sobre o taleban, sobre os marxistas, assuntos circunstanciais colocados e generalizados sobre um prisma estrutural de uma maldade sem fim e piedade. Pensem, minha mãe leu este folheto, ou folheou. Mas, não faz a menor importância, o assunto é outro, e é muito mais grave. Quando eu li este folheto logo pensei na minha apresentação sobre o anticomunismo, caiu como uma luva. Só que, como eu sou muito desligado, perdi o maldito e achei que minha mãe tivesse jogado fora. No entanto, como deus sempre ilumina quem crê, minha mãe achou a porcaria e me mostrou hoje a tarde. E agora eu disponibilizo ela para todo mundo.
O original eu vou levar para Londrina. Vou recorta-lo e prega-lo em algum lugar no meu quarto.
Vocês viram que na fé existe muita coerência mesmo.

São João do Paraíso

Bom, não tenho muito o que dizer. Estou sem meu equipamento de produção. Estou sem uma boa conecção, sem textos, sem aulas... Aqui eu mato o tempo vendo filmes, e até isso está difícil. Eu vi "O Outro Lado da Rua", um filme bem interessante, com câmeras subjetivas e atuações de peso. Mas não se emplogue tanto, o roteiro não tem tanto brilho e é um enredo muito parado e mal contado. Ah, sei lá, eu to meio sem saco para escrever sobre esse filme agora. Ele merece ser visto, por n razões. A primeira: por ser brasileiro. Eu acho que, sem querer ser ufanista, temos honrar a pátria, vestir as chuteiras; segundo, Raul Cortez e Fernanda montenegro. Acho que só isso já é um convite e tanto para uma bela diversão de qualidade. Pena mesmo é do roteiro e da direção. Prometo que outro dia escrevo algo mais apropriado para refletir os filmes que assisto. Eu também vi outros filmes esses dias. Não obstante, eles não merecem qualquer menção neste blog. Não porque eu seja enjoado e me ache o intelectual da sétima arte. É que os filmes são ruins mesmo e, não devemos perder tempo com eles.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

ALIMENTAÇÃO E OBESIDADE

Enquanto não acho o livro de José Roiz para comprar, vou deixando alguns trechos dele aqui no blog. O cara era sensassional, pena que já morreu, mas o velho diz coisas impressionantes. O livro dele, "Esporte Mata", foi censurado e não pode ser publicado. Agora a Caros Amigos corre atrás e tenta publicá-lo denovo. Vamos ver no que dá. Na realidade eu to meio por fora disso, mas vou ligar lá na editora Casa Amarela.

O doutor José Róiz apresenta neste texto as duas razões que levam a pessoa a engordar demais, propõe uma dieta inteligente e coloca o sal das refeições na condição de veneno

Escutei pela televisão que 40 por cento dos brasileiros têm excesso de peso. Em outros países essa porcentagem deve ser maior ainda. Qual a verdadeira causa disso? Sabemos que tudo tem um princípio e um fim. O início deve estar na ingestão excessiva de alimentos. Se não houvesse esse fator, jamais poderia haver excesso de peso. Mas por que se ingerem alimentos demais? Deve haver algum motivo. Na minha opinião, existe até mais de um, ou melhor, dois: o paladar agradável e a frustração. Sim, a frustração. Não conseguimos vencer em determinada circunstância ou a vitória está demorando a chegar. Então apelamos para as guloseimas ou por diferentes pratos realmente deliciosos para compensar a derrota ou para aguardar o êxito com ansiedade.
Caímos num buraco e somente a reeducação alimentar é capaz de nos fazer sair dele. Mas não é fácil essa empreitada, porque são muitas as guloseimas e inúmeros os pratos realmente excelentes. Colocar esparadrapo na boca pode tornar-nos neuróticos, isto é, ansiosos para continuar ingerindo o que julgamos ser de bom paladar e recusar fazê-lo porque sabemos que isso pode aumentar mais ainda nosso excesso de peso.
E se fossem eliminados todos os livros de culinária e fechadas todas as confeitarias? Seria uma solução, mas quem colocaria o guizo no pescoço do gato?!
Devemos saber que o excesso de peso sobrecarrega o coração e condiciona o aparecimento de muitas doenças.
Não viemos ao mundo só para comer. Pelo contrário, devemos comer apenas para viver. Aliás, hoje devemos ingerir menos alimentos do que ontem. Isso deve ser feito porque, à medida que envelhecemos, nosso coração também envelhece, isto é, tem sua capacidade diminuída e, nessas condições, é conveniente que haja menos tecidos para ele nutrir, isto é, que ele tenha menos trabalho para realizar.
Até a idade de 25 anos, o jovem ainda está crescendo e se desenvolvendo, isto é, formando mais tecidos; porém, se ele ingerir excesso de alimentos, possivelmente sobrará algum para aumentar o número de células adiposas, tornando sua reserva de gordura mais acentuada, uma preocupação a mais para fazê-la voltar às dimensões da normalidade, o que nem sempre é conseguido. Assim, também o jovem deve evitar a ingestão excessiva de alimentos.
Nosso comentário sobre a diminuição progressiva da capacidade do coração, depois da idade de 25 anos, tem muita relação com a necessária diminuição de peso à medida que os anos passam. Até os 25 anos, o peso pode ser igual à altura, isto é, indivíduo que tenha, por exemplo, 1,78 metro pode pesar 78 quilos. Dos 25 aos 30 anos, o peso deve ser menor e, depois dos 30 anos, menor ainda. Para saber o peso ideal, supondo que sua altura é de 1,78 metro, faça a seguinte operação: 78 - 50 = 28; 3/4 de 28 = 21; 50 + 21 = 71. Com 1,78 metro, o peso aos 30 anos deve ser 71 quilos.
O intervalo longo demais entre o almoço e o jantar aumenta muito a produção de glicocorticóide e eleva a quantidade de várias substâncias no sangue. Além desse grande inconveniente, existe outro talvez mais grave ainda, que é a queda da glicose no sangue e no centro da fome, despertando muito apetite, levando o indivíduo a ingerir excesso de alimento. O excesso de fome leva-o a ingerir repetidas garfadas em curto intervalo de tempo. Mal começou a absorção dos alimentos e já está chegando mais alimento ao estômago. Assim, exageradamente, ele come duas a três vezes mais do que o necessário. O resultado disso não pode ser outro senão o excesso de peso.
Se o indivíduo ingerisse pequenas porções de alimento a cada duas horas e meia, a glicose se elevaria no sangue, eliminaria a fome, estimularia a produção de insulina, que impediria a elevação de muitas substâncias no sangue.
Todos os animais fazem repouso após a alimentação. Alimentando-se a cada duas horas e meia, não há necessidade de fazer a sesta, porque ficou dividido por sete pequenas refeições o que geralmente é feito em duas grandes refeições.
O problema agora é o sal. Ele é muito reduzido na dieta que recomendamos a seguir e que contém uma refeição comum de 250 gramas, que possui sal e encerra aproximadamente 1.000 calorias. A alimentação de cada dia seria do seguinte modo: café ou café com leite e um pãozinho com manteiga às 7 horas; uma fruta às 9 horas; às 12 horas, refeição contendo sal (feijão com arroz e um pedaço de carne, frango ou peixe, ou então macarrão ou só arroz com um pedaço de carne); uma fruta a cada duas horas e meia, até as 22 horas. A refeição contendo sal poderia ser deslocada para as 19h30.
Ao fazer essa dieta, sugerimos não se preocupar com o peso. Se aumentar um pouco depois de um mês, reduza a ingestão de frutas no mês seguinte.
A ingestão de apenas 250 gramas de uma refeição salgada deve diminuir bastante a ingestão desse veneno muito grande e que tem o pequeno nome, quase inocente, de sal.
Quanto ao problema social dos aniversários, onde se servem muitos salgados, não deixe de saboreá-los. O problema é só não ingerir demais. Aliás, isso possivelmente você não o fará porque já percebeu (pela percepção mesmo), que eles não são mais tão apetitosos como eram antes.
Com essa dieta já houve redução de 75 por cento na ingestão de sal. Daqui para a frente, você tem três opções: primeiro, continuar com essa mesma dieta; segundo, depois do sexto mês, substituir 50 por cento do feijão com arroz ou macarrão por frutas e as distribuir entre as outras refeições; terceiro, depois do nono mês, substituir o restante de feijão com arroz ou macarrão por frutas e distribuir a metade entre as refeições de frutas. Conservar a ingestão do pedaço de carne ou peixe ou o substituir por 125 gramas de queijo branco.
Assim, você fica livre definitivamente do sal que ajuda a condimentar nossa alimentação desde a época neolítica, há mais de 10.000 anos! Como “sem sal” há mais de 42 anos.
Se aparecer alguma cãibra, como deve acontecer, não se preocupe. É suficiente massagear o local.
No início, a gente fica meio trôpego, tropeçando com freqüência, Isso acontece porque já estávamos acostumados com o veneno. Não se assuste, vá em frente. Tudo passará e você deve ficar até mais inteligente, como aconteceu comigo, que aos 81 anos ainda estou pretendendo ensinar alguma coisa aos outros.


José Róiz é médico e autor do livro Esporte Mata.

José Roiz (RIP) Eu amo esse cara!!

Médico, mas não um médico qualquer, o doutor José Róiz é um cientista extraordinário que não passa nem sequer um dia sem estudar, com seus 80 anos de idade, morando em Belo Horizonte e escrevendo em esperanto para uma revista editada na Polônia.

Dele tomei conhecimento lendo-o na magnífica Revista Brasileira de Medicina dirigida por Silva Mello (1886-1973), da qual foi redator e colaborador assíduo. Ele topou colaborar em Caros Amigos. Sorte da revista. Sorte dos leitores. Eis seu magnífico e bem fundamentado artigo sobre a deseducação física. (Gilberto Felisberto Vasconcellos)

As ginásticas suecas surgiram no início do século 19. Na década de 30, ainda adolescente, fixei, no quintal de minha casa, uma barra metálica
entre dois mourões para fazer exercício físico, com a intenção de desenvolver os músculos do tórax e dos membros superiores. Naquela época, a medicina ainda estava engatinhando. Acreditava-se que apendicite era nó-nas-tripas e que indivíduo musculoso é mais sadio do que o que possui músculos normais.

Associaram ginásticas suecas aos jogos olímpicos e criaram uma escola, a de Educação Física. Essa denominação é imprópria, porque não se pode educar o físico, mas tudo é possível em época de muito atraso. As escolas de educação física proliferaram em todo o país e tornou-se obrigatória em todos os colégios a freqüência às suas aulas. Mas os alunos não são submetidos a exames complementares para saber se estão em condições de fazer qualquer tipo de exercício físico.

Alguns ortopedistas fizeram pesquisa sobre problemas de coluna entre adolescentes de Belo Horizonte e constataram anormalidade em 8 por cento de 40.000 examinados, sendo o fato mais grave a incidência de escoliose a partir dos 10 anos de idade!


Jovem com problema de coluna vertebral jamais poderia fazer qualquer tipo de exercício físico. Deveria submeter-se somente aos que possam corrigir o defeito físico.

Deve ter sido a associação da beleza dos jogos olímpicos com o desenvolvimento muscular que encantou os professores de educação física. De fato, esses jogos estão cada vez mais bonitos. Por outro lado, continua crescendo a suposição de ser benéfica a evolução de qualquer força muscular.

Antes dos 25 anos de idade, isto é, antes do completo ama-durecimento, todas as partes de nosso corpo crescem e se desenvolvem ao mesmo tempo. Dar preferência ao desenvolvimento muscular nessa fase acarretará atraso no desenvolvimento de todos os outros órgãos. É claro que esse atraso não deve trazer sérios prejuízos, porém, o cérebro, por exemplo, possivelmente não deve ficar satisfeito de ser relegado a segundo plano, justamente pela parte menos importante do conjunto.

Se o desenvolvimento muscular se der depois dos 25 anos, isto é, quando começa o envelhecimento, o prejuízo para todo o organismo é muito grande. Isso acontece porque, à medida que envelhecemos, aparecem as atrofias generalizadas, que têm por finalidade diminuir a sobrecarga do coração e permitir que ele continue nutrindo toda a parte restante com a mesma eficiência. O desenvolvimento muscular nessa fase determina atrofias mais acentuadas e envelhecimento precoce.


Não deve agradar ao coração nem o pequeno desenvolvimento muscular ao nível da região inguinal para reduzir hérnia nesse local.

O desenvolvimento muscular no exercício aeróbico, como na corrida, por exemplo, implica um estresse físico. Nas competições, a esse estresse se associa o estresse psíquico da expectativa do evento, o medo de ser derrotado e decepcionar os parentes e amigos. A maioria desses contendores é constituída de jovens e, por esse motivo, não aparece imediatamente o prejuízo causado pela prática do esporte. Mas esses estresses, repetindo-se com muita freqüência, como geralmente acontece, causam enorme transtorno no organismo da maioria porque nela predomina o glicocorticóide sobre a insulina. O glicocorticóide, como se sabe, é um dos hormônios do estresse.

A humanidade se divide em duas categorias: longevo e não-longevo. Nos longevos deve predominar a insulina sobre o glicocorticóide, daí a facilidade que essas pessoas têm de enviar para os tecidos as diferentes substâncias orgânicas, o contrário do que acontece com a maioria, que é constituída de não-longevos. Nestes, a dificuldade de nutrir os próprios tecidos deve prejudicar a formação de anticorpos e diminuir a resistência a todas as doenças, inclusive ao câncer, é claro.

Se naturalmente a maioria já tem dificuldade de nutrir todas as células de seu organismo, a prática de esporte só pode piorar essa situação e deixá-la em condições precárias. Não existe nada para contornar essa situação. A única solução seria abandonar o esporte e fazer longas caminhadas.

Todos os esportes são nocivos. Em Pará de Minas, minha cidade natal, estão construindo quatro ginásios poliesportivos. Que mal fizeram a Deus os jovens de minha terra para merecer esse castigo?


A intenção de levar os jovens a praticar esporte para afastá-los das drogas é o mesmo que prestar culto ao diabo para não ir para o inferno.

Os privilegiados professores de educação física não sabem nada disso. Pelo contrário, para eles, esporte é vida e saúde.

Aqui no Brasil há Secretaria de Esporte em cada Estado e até Ministério do Esporte.

Tenho um livro intitulado Esporte Mata! A Secretaria de Esporte procurou o distribuidor de meu livro e lhe disse que ele estava proibido de circular. Nas livrarias onde estava exposto à venda, o livreiro foi obrigado a recolhê-lo. Recomendei ao editor fornecer gratuitamente o livro a quem estivesse interessado em sua leitura, mas a Secretaria de Esporte o impediu de fazê-lo, só que dessa vez não logrou êxito, pois o livro foi doado a algumas pessoas.

O professor de educação física pôs na cabeça dos jovens que o mais importante é competir. Assim, ele os mantém nessa roda-viva de gostar do que faz mal, com a intenção de não faltar à próxima olimpíada, conduzido por avião, hospedando-se em hotel cinco estrelas, levando, às vezes, um único atleta para competir e até se esquecendo de que aqui ficaram milhões de brasileiros passando fome. Se o atleta sair vitorioso, será tocado nosso hino nacional em homenagem ao aluno aplicado e ao professor também, por que não? E, então, todos os brasileiros ficam sensibilizados. Inclusive os que estão com a barriga vazia? Tenho minhas dúvidas.
Fico muito angustiado quando vejo jovens jogadores de vôlei usando joelheira inútil, com a intenção de se proteger contra o impacto de todo o peso do corpo sobre o joelho, quando ele faz a impulsão para cortar e arremessar com muita força a bola ao chão, impedindo que o adversário a defenda.

Alguns clubes já estão forrando a quadra de vôlei com tapete de borracha, que só poderia oferecer alguma proteção se tivesse, no mínimo, 25 centímetros de espessura, mas, se ele tivesse realmente essa espessura, o jogador não poderia fazer nenhuma impulsão. Esse tapete é mais uma tapeação

Assim, todos continuam cada vez mais enganados, acreditando que o mais importante é competir. De vez em quando um se destaca, como o da “jornada nas estrelas”. Mas é só. Nem poderia ser de outra maneira, pois o número de competidores é muito grande e o de vitoriosos, muito pequeno.

José Róiz

Reforma do Judiciário

por Edvaldo Silva de Almeida Júnior


O governo Lula conseguiu lavrar, no início de dezembro, um importante tento, fazendo com que o Congresso Nacional aprovasse a Reforma do Judiciário.

Se você acha que estou me referindo à lei que implementa o controle externo do Judiciário, está muito enganado. Introduzir um mecanismo de controle externo, no meu entender, só vai inflacionar as teias de corrupção. Em vez de corromper apenas os nossos magistrados, os chefões do crime organizado terão agora de corromper também o órgão que fiscaliza os juízes que vendem as sentenças, para que faça vista grossa.

Já imagino, dentro de alguns anos, as denúncias sobre a corrupção do conselho que fiscaliza o Judiciário, e a proposta para a criação de um conselho que vai fiscalizar o conselho que fiscaliza o Judiciário. Aumenta a complexidade, mas não diminui a corrupção.

Não, caro leitor. A verdadeira "Reforma do Judiciário" começou com a aprovação pelo Congresso Nacional da Medida Provisória que dá status de ministro ao presidente do Banco Central.

Com as denúncias de corrupção contra Henrique Meirelles, Lula achou por bem transformá-lo em ministro. Assim ele passou a ter direito a foro privilegiado, só podendo ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Na prática isso significa que todo o processo investigativo fica sob segredo de justiça, saindo dos noticiários. Mais na prática ainda, isso significa que nada mudará. O novo ministro não será processado nem julgado, quer tenha enriquecido de modo ilícito ou não.

De qualquer forma, o governo Lula deu-me com isso a pista para propor a verdadeira reforma, que vai revolucionar completamente a Justiça brasileira. Talvez até exportemos essa legislação para o restante do mundo, como começamos a fazer com as urnas eletrônicas. A minha proposta é a seguinte:

Todos sabemos que um dos problemas da Justiça brasileira é a lentidão. Processos arrastam-se nos tribunais por décadas, sem chegar a qualquer conclusão. Milhões de processos estão arquivados, à espera de atenção por parte de um juiz. Outros receberam os chamados "embargos de gaveta", que ocorrem quando uma das partes interessadas no processo recusa-se a lubrificar (com reais) as engrenagens da Justiça. Tais processos são cuidadosamente guardados, pelo funcionário que solicitou a propina, naquela última gaveta do fórum, que só é visitada por alguns ratos que vêm, de tempo em tempos, visitar os parentes lá instalados.

Para por um ponto final nesse estado caótico de coisas, proponho que o governo edite uma outra Medida Provisória, dando a todos os cidadãos brasileiros o status de Ministro de Estado.

Em primeiro lugar, isso melhoraria a auto-estima do nosso povo, bem dentro da linha de propaganda do governo Lula. Seríamos o único país do mundo onde cada cidadão é ministro. Afinal de contas, o melhor do Brasil é o brasileiro...

Depois, teríamos resolvido o problema do desemprego com uma simples canetada. Não teríamos mais desempregados. Teríamos apenas ministros sem pasta e sem salário, distribuídos por todo o território nacional.

Finalmente, como todos teriam direito ao foro privilegiado, todos os milhões de processos nas gavetas das comarcas de todos o país seriam agora da alçada do STF. Bastaria então que os mui digníssimos magistrados daquela suprema instância (que já são ministros) decretassem a extinção de todos esses processos. A Justiça voltaria ao zero. Ficaria livre de tantos entraves. E os nossos juízes das instâncias inferiores ficariam sem qualquer atividade, podendo dedicar-se livremente à venda de sentenças e à construção (superfaturada) de novas sedes para os seus tribunais. O juiz Nicolau dos Santos Neto poderia, inclusive, ser nomeado Ministro do Superfaturamento, e ficar encarregado de ensinar aos seus colegas as técnicas que empregou na construção do prédio do TRT de São Paulo.

Na verdade, o governo Lula já começou a implementar a minha proposta. Se não percebemos isso claramente, é apenas porque ele o faz na sua habitual velocidade, ou seja, devagar e quase parando.

O vice-presidente, José Alencar, foi o primeiro contemplado. Recebeu o posto de ministro da Defesa. Esta é uma medida histórica, não apenas pela situação sui generis que criou, subordinando um homem a si mesmo. É também a primeira vez na história da nossa nação em que teremos um vice-presidente fazendo algo de concreto, sem que o presidente esteja morto ou deposto.

E é bem dentro do espírito da proposta que apresento, que gostaria de lembrar que o nosso amado presidente não pode ficar de fora dela. Como cidadão, ele também terá direito a um ministério. Com o precedente de um vice-presidente que também é ministro da Defesa, não será difícil fazer com que a população engula um presidente que também é ministro de algo. Não é difícil para a nossa população engolir os maiores absurdos, imagine uma coisa pequena como esta.

Mas, qual seria a pasta de Lula?

Perguntando a alguns amigos o que pensavam do assunto, um deles sugeriu que Lula deveria substituir o atual ministro da Justiça. Afinal, ele tem legislado mais que o Congresso Nacional com a suas medidas provisórias. As mesmas MPs que ele tanto criticava em FHC.

Se estivéssemos nos anos setenta, Lula seria ministro-chefe do IAA, o Instituto do Açúcar e do Álcool. Afinal, ele se elegeu com a açucarada imagem de "Lulinha Paz e Amor". E quanto ao álcool... É melhor não falar do álcool, senão me mandam embora do país e eu perco meu ministério.

A solução mais sensata, porém, veio de meu amigo Marcos Aurélio, um grande filósofo popular. Segundo ele, com o seu gosto pelas viagens, a única pasta que se adequa ao nosso Presidente é a de ministro do Exterior...



Edvaldo Silva de Almeida Júnior é jornalista.

Marrocos torna-se o novo pólo de cinema da África

A imagem de Marrakesh como lar de camelos e encantadores de serpentes está pronta a passar por uma transformação se os organizadores do festival internacional de cinema de Marrakesh conseguirem reescrever o roteiro da cidade marroquina.
O festival é peça central nos esforços do país para seduzir Hollywood e estabelecer a cidade como a Bollywood da África. O glamour não conhece limites enquanto astros como Sean Connery caminham pelo tapete vermelho e a família real oferece festas suntuosas para convidados que foram trazidos ao país para o evento.
Casablanca talvez tenha lugar no folclore de Hollywood, mas Marrakesh é que veio a se tornar o ponto focal da crescente indústria africana do cinema. A cidade é conhecida como a Nova York do Marrocos, em reconhecimento à atitude liberal da população local, o que a diferencia do resto do país.
No ano passado, tanto Ridley Scott como Oliver Stone usaram Marrakesh como local de filmagem de seus épicos. Enquanto o governo encoraja cineastas ocidentais a virem à cidade, os habitantes preferem assistir a filmes de Bollywood. Amitabh Bachan, uma das lendas de Bollywood, continua a ser o maior astro do cinema para os marroquinos, e o festival inclui uma retrospectiva de filmes da diáspora indiana.
Agora em seu quarto ano, o festival se tornou uma importante ferramenta de promoção para a indústria cinematográfica. Sean Connery o classificou como "o genuíno festival de cinema", ao receber um prêmio pelo conjunto de sua carreira antes de uma exibição de "Alexander", de Oliver Stone.
Stone foi o convidado seguinte a subir ao palco, e disse em francês que "sem o Marrocos, o cinema não existiria. É o lugar em que o Ocidente encontra o Oriente".
No dia seguinte, no Palais des Congres, Stone foi ainda mais eloqüente: "Tentamos realizar o filme em Hollywood. Mas quando computamos todos os custos na Califórnia, estouramos em muito o orçamento. No Marrocos, podíamos contar com entre 500 e 2.000 extras ao dia. Não se pode fazer esse tipo de filme nos Estados Unidos".
Também surgiram tentativas de encorajar marroquinos a produzir filmes, e, no ano passado, o país bateu um recorde, com dez produções nacionais. Nour-Eddine Sail, gerente geral do Centro de Cinema do Marrocos, disse que "não podemos esperar que Marrakesh se torne um centro do cinema do dia para a noite, mas o festival é parte do processo que encoraja os cineastas internacionais a nos escolher e os marroquinos a produzirem mais filmes. Desde que o festival surgiu, há quatro anos, o número de técnicos e atores aumentou muito".
O diretor britânico Stephen Woolley, que recentemente filmou em Marrakesh cenas de seu "The Wild and Wicked World of Brian Jones", um filme que ainda não chegou às salas de exibição, disse que "a equipe era eficiente e o ambiente era de família. Só tenho boas coisas a dizer sobre o Marrocos". Quaisquer preocupações que os cineastas pudessem sentir quanto a perturbar a sensibilidade islâmica local com cenas de nudez também são dirimidas por Woolley: "Filmamos cenas de nudez e ninguém na equipe parecia preocupado".
Os problemas do mundo islâmico perturbaram as tentativas do Marrocos para se estabelecer como centro de produção cinematográfica. Stone revelou que a produção quase foi suspensa depois de atentados a bomba em Casablanca no ano passado. "Havia muita pressão para que saíssemos do país, mas nos sentíamos seguros. O rei e seus ministros interferiram para nos ajudar."
O número de celebridades presentes ao festival deste ano indica que os atentados em Casablanca não afetaram Marrakesh. De fato, Alan Parker, presidente do júri do festival, acrescentou que "é notável a maneira pela qual as autoridades marroquinas vêm usando o cinema como ferramenta para reduzir a distância entre o Ocidente e o Oriente".
Marrakesh quer ser mais que a Bollywood da África. Quer ser a Hollywood da África, igualmente. É um plano ambicioso, e será preciso mais que encantadores de serpentes exibindo seu talento diante de celebridades para que obtenha sucesso. (tirado da Ilustrada)

Reflexões sobre a terra do nunca

Meus caros amigos, estou na minha cidade querida (Nhandeara). Aqui a vida é muito difícil, tenho muita coisa para fazer. O tempo também é muito corrido. As postagens para o blog vão ficar muito difícieis, porque aqui a internet é a base de carvão.
Infelizmente também, não vou conseguir colocar nenhuma foto no meu blog. Triste, triste, triste... e o pior é que aqui está cheio de pernilongos.
Hoje eu ainda vou para Rio Preto fazerum contato com outras sociedades. Nhandeara é um vilarejo habitado por velhos e crianças. Não há jovens aqui, eles vão todos embora. Outras esquisitices como, andar de cavalo na praça, ou ficar dando voltas na igreja são comuns aqui. Mais adiante farei alguma análise detalhada desta cidade que me diverte tanto.

sábado, dezembro 11, 2004

O poder simbólico em Salém

Esta é uma resenha que eu e oFernando fizemos. Eu estou colocando ela no blog a pedido dele. Apesar do meu estar nesta resenha, toda a idéia e desenvolvimento do pensamento antropológico foi por conta do Fernando. Da minha parte ficou apenas algum contexto histórico e alguma análise sociológia e política. Do resto, tudo é idéia dele, e eu acho que todo o mérito é dele também. Espero que alguém goste. Ano que vem eu vou me esforçar mais para fazer da Antropologia minha matéria preferida.
A resenha é sobre o filme Bruxas de Salém, se alguem não viu assistam porque é muito bom.


Fernando B. S. Martins
Leonardo Domingues [1]

O filme “As bruxas de Salém” é inspirado na peça de teatro: The Crucible e é dirigido por Nicholas Hytner. É estrelado por Daniel Day-Lewis e Winona Ryder. Nesta obra juntam-se às excelentes interpretações deste elenco e a poderosa história de paixão, pensamento mágico, ciúmes, manipulação e maldade.
A obra cinematográfica tem um discurso bastante crítico quanto à influência da igreja no destino das pessoas. Cenas como estas que são representadas no filme foram reproduzidas a exaustão dentro daquele contexto histórico. A caçada as bruxas e a Inquisição eram usadas sempre que um possível “mal” incompreensível e desconhecido pairavam no imaginário coletivo.
A história se passa nos fins do século XVII. O palco é Salém, pequeno vilarejo de Massachusetts. Os personagens são na maioria religiosos e a vida cotidiana deles gira em torno de uma moralidade cristã. A paz que reinava naquele local foi fatalmente abalada por uma crença na presença de espíritos malignos. Crianças inocentes foram corrompidas em rituais pagãos e ao confessarem sua sujeição nestes pactos as mesmas começam a acusar quais seriam os agentes responsáveis pela prática de feitiços, ou seja, as práticas ritualísticas não eram concebidas com de responsabilidade daqueles que aparentemente eram os atores, mas sim de feiticeiros que detinham o poder mágico.
Em 1696 o Reverendo Parris testemunha um ritual mágico nos confins de uma floresta nos arredores do vilarejo. Este ritual tinha como sacerdotisa Tituba. O antropólogo Stanley Tambiah define ritual como: “O ritual é um sistema cultural de comunicação simbólica. Ele é constituído de seqüências ordenadas e padronizadas de palavras e atos, em geral expressos por múltiplos meios. Estas seqüências têm conteúdo e arranjo caracterizados por graus variados de formalidade (convencionalidade), estereotipia (rigidez), condensação (fusão) e redundância (repetição).” [2]
O ritual aparentemente tinha por fim apenas ressaltar os desejos quanto a possíveis matrimônios por parte das participantes. Porém, devido a uma prática profana de Abigail, tendo o princípio motor de tal ação só esclarecido ao andamento do filme, o ritual resulta em uma perturbação aparentemente fisiológica em duas participantes do grupo. Estas destacam-se por apresentarem a menor faixa etária em relação aos participantes.
Devido à forma a qual a perturbação foi manifestada ao social (sendo uma patologia fisiológica), a ação do grupo quanto esta disfunção foi caracterizada por uma abordagem pautada na ciência dos males fisiológicos. O médico responsável por diagnosticar os efeitos anômalos não conseguiu formular um diagnóstico, desta forma, não encontrando a causa foi atribuído à categoria de bruxaria para o fenômeno. Evans-Pritchard em seu relato sobre A Noção de Bruxaria como Explicação dos Infortúnios explicita que: “A crença Zande em bruxaria não contradiz absolutamente o conhecimento empírico da causa e efeito. O mundo dos sentidos é tão real para eles como o é para nós. Não nos devemos deixar enganar por seu modo de exprimir a causalidade(...). Eles estão condensando a cadeia de eventos e, numa situação social particular, selecionam a causa que é socialmente relevante e deixam o restante de lado”. [3]
A razão pelo qual é possível confundir no filme males de origem fisiológica com disfunções criadas coletivamente se dá pelo fato de que os símbolos, quando compartilhados passam a desempenhar uma função no indivíduo maior até mesmo que seu funcionamento quanto ser biológico. Mauss evidencia este fenômeno em seu relato quanto a questão dos efeitos físicos nos indivíduos sugeridos pela coletividade. O trecho a seguir explicita tal concepção: “A consciência é então invadida por idéias e sentimentos que são totalmente de origem coletiva, que não revelam nem distúrbio físico. A análise não chega a perceber nenhum elemento de vontade, de escolha ou de ideação voluntária da parte do paciente, ou mesmo de distúrbio mental individual, exceto a própria sugestão coletiva. O indivíduo acredita-se enfeitiçado ou julga-se em pecado, e morre por essa razão”. [4]
As pessoas participantes do ritual ficaram temerosas quanto a reação desencadeada nas duas meninas pelo motivo que tal fenômeno iria despertar em toda a vila um certo ímpeto investigativo quanto a quem deveria estar se envolvendo com práticas de bruxaria. Não conseguindo conter a exaltação coletiva quanto a percepção do problema, as mesmas começaram a acusar os possíveis autores de práticas mágicas.
A princípio as pessoas acusadas por praticarem artes ocultas eram aquelas que não se adequavam ao ordenamento social vigente. Na sua maioria eram os tipos exóticos, mendigos, dentre outras irregularidades agressoras ao sistema coletivo. Num segundo momento, o sistema acusatório passou a utilizar-se do parâmetro de benfeitorias individuais a fim de afirmar sua prática. Tal método é facilmente visível na relação em que com a morte de certas pessoas acusadas outras teriam vantagens econômicas e, portanto iriam adquirir maior status em relação aos outros.
A grande temática do filme se apóia nesta relação entre vantagens produzidas pelo ato de acusar certas pessoas para beneficio individual. Abigail acusa a senhora Proctor para com isso conseguir ter laços afetivos com o marido da mesma. Cabe a ressalva que, Abigail outrora já havia tido um caso com o John Proctor. É possível acreditar que a personagem confiava que o relacionamento almejado por ela não era possível devido à existência da senhora Proctor como parceria legítima, reconhecida pelo social. Abigail precisava não apenas destruir o ser biológico senhora Proctor, mas sim, sua figura social. Para tanto, a mesma utilizou-se do poder acusatório, fruto do envolvimento com a atmosfera ritualística, a fim de difamar a condição moral estabelecida no meio coletivo de Elizabeth Proctor.
John no desenrolar do filme busca um modo de convencer Salém da inocência de sua esposa. O mesmo chega a confessar seu pecado de luxúria para a comissão inquisitória. Esta ação confrontada com o universo mágico que paira no imaginário de Salém parece sem importância, ou seja, o concreto passa a ser inválido frente a inesgotabilidade do pensamento metafísico. Nesta busca John acaba sendo acusado de bruxaria. Mesmo sabendo que todo o processo de inquisição é forjado, o mesmo encontra-se impotente na tentativa de questionar tal fenômeno social. Portanto Proctor aconselhado por sua esposa aceita o personagem de colaborador de práticas ocultas. Para Leví-Strauss, tal razão é comentada na passagem de seu livro Antropologia Estrutural, onde após relatar estudos feitos por M. C. Stevenson sobre os Zuni do Novo México conclui debruçando-se sobre o fato ate então relatado: “Vemo-lo pois construir progressivamente o personagem que lhe impuseram, com uma mescla de astúcia e de boa fé: bebendo amplamente em seus conhecimentos e em suas lembranças, improvisando também, mas, sobretudo, vivendo sua função e procurando, nas manipulações que delineia e no ritual que ele constrói de pedaços e de fragmentos, a experiência de uma missão cuja eventualidade, pelo menos, é oferecida a todos”. [5]
No processo de confissão, Proctor é informado que suas declarações iriam ser documentadas e apresentadas para toda a comunidade. Ao saber disso o mesmo se nega a continuar compactuando com a farsa coletiva. Ao fazer isso o personagem deixa claro que, sua morte biológica é desprezível frente a ruína de seu ser social.
Desta forma, por tudo o que já foi exposto é possível conceituar o filme como um grande conglomerado de informações dispersas a serem ordenadas, sistematizadas e investigadas por pesquisadores. Cabe ressaltar que o texto até então apresentado não se ateve à totalidade dos fatos sugeridos pelo filme, pois o mesmo teve como cerne a temática do pensamento mágico no universo de Salém.

[1] Alunos do segundo ano de Ciências Sociais
[2] Trecho obtido: PEIRANO, M. Rituais Ontem e Hoje. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
[3] EVANS-PRITCHARD, E. E. Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
[4] MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
[5] LEVÍ-STRAUSS, C. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.

Eu no Fórum Social Mundial em 2003. Boa sorte para quem for este ano, eu vor estar ocupado com outros eventos.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Vídeo sobre cidade natal de Bush leva prêmio Turner

Um vídeo sobre a cidade natal do presidente americano George W. Bush deu ao britânico Jeremy Deller o prêmio Turner deste ano - um dos mais prestigiosos das artes plásticas na Grã-Bretanha.
Memory Bucket é um documentário que enfoca Crawford, no Estado do Texas, e o cerco de tropas federais a seguidores de um culto religioso em Waco, também no Texas, em 1993.
Deller também é conhecido por recriar a chamada "Batalha de Orgreave", um dos choques mais violentos da maciça greve dos mineiros britânicos na década de 80, usando ex-grevistas e associações de cultivo da história.
Clique aqui para ver algumas das obras que concorreram ao prêmio Turner 2004
O trabalho de Deller inclui ainda um mural gigantesco em que palavras são conectadas para demonstrar como o estilo musical acid house está ligado às brass bands.
O artista também exibe fotos de um evento realizado na Espanha. Ele convidou brass bands para tocar músicas de acid house e organizou uma parada em San Sebastián para comemorar a diversidade da cidade.
Finalistas
Os vídeos - muitos com conotação política - foram a forma predominante de expressão entre os finalistas do prêmio Turner.
O artista de origem turca Kutlug Ataman exibiu um vídeo com entrevistas de pessoas que acreditam que passaram por uma reencarnação.
Yinka Shonibare, nascido em Londres e criado na Nigéria, usou tecidos com estampas batik multicoloridas para fazer referência a várias culturas como a africana. Seu trabalho incluiu uma versão do quadro O Balanço, do artista francês Fragonard, em que uma mulher aparece sentada em um balanço. Mas, na obra de Shonibare, ela não tem cabeça.
Seu vídeo Um Baile de Máscaras revive o assassinato do rei sueco Gustavo 3º em 1792 através da dança. Os personagens usam trajes europeus com estampas associadas à África.
Ben Langlands e Nikki Bell, que visitaram o Afeganistão em 2002, recriaram a casa do líder da rede Al-Qaeda, Osama Bin Laden, como um videogame e fizeram uma instalação baseada nos logotipos de organizações não-governamentais que atuam no país.
Qualquer artista com menos de 50 anos de idade e que trabalha na Grã-Bretanha ou é britânico e trabalha no exterior pode concorrer ao prêmio Turner. O vitorioso recebe o equivalente a US$ 48 mil, e os finalistas, cerca de US$ 9 mil. (tirado da BBC Brasil)

Salas deveriam exibir filmes nacionais por, no mínimo, 63 dias; Ancine admite que sistema "não é tão eficiente"

O método de cálculo da cota de tela, número obrigatório de dias de exibição de filmes nacionais nos cinemas, realizado a cada ano pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), é considerado pouco preciso pelo próprio órgão."O mecanismo não é tão eficiente quanto gostaríamos", admitiu o diretor da Ancine, Augusto Sevá, no último dia do 1º Seminário Internacional do Audiovisual, anteontem, em São Paulo.Boa parte dos exibidores não deve cumprir a cota de 63 dias neste ano. Em 2003, foram estipulados 35 dias, número que, segundo Sevá, foi atingido em junho.O problema seria a inexistência de uma base de dados da própria agência que pudesse embasar o cálculo. A cota deste ano foi feita a partir do ótimo resultado de 2003, impulsionado pelo sucesso de "Carandiru". Os ataques à cota e à metodologia empregada pela Ancine partiram do diretor de relações institucionais do grupo exibidor Severiano Ribeiro, Luiz Gonzaga de Luca, que comparou informações sobre o público de filmes nacionais em 2003 e 2004.No ano passado, o número de espectadores de filmes nacionais foi 22,8 milhões, 22,36% do total de 102,9 milhões. Neste ano, esse público caiu para cerca de 15,8 milhões, 14,1% de 112 milhões.De acordo com De Luca, haveria uma "inadequação do produto ao público". "Os filmes não têm a cara das salas de exibição. Cinema é para as classes A e B, de 15 a 25 anos. Quem não produzir para esse público vai cair no mercado de arte." Em resposta às críticas, o diretor da Ancine defendeu a "capacidade dos técnicos da agência em gerir os dados do setor", e ressaltou que a avaliação dos números deve ser feita num período superior a dois anos."Do ano passado para este, que deve fechar em 17%, houve um decrescimento de 5%, mas o histórico recente aponta para um crescimento."A cota para 2005 deve ser publicada no Diário Oficial como decreto de lei nos últimos dias deste ano.Já para Bruno Wainer, diretor da distribuidora Lumière, "a cota é coadjuvante". "Há um padrão que se repete: oito filmes nacionais respondem por 95% dos ingressos."Esses filmes seriam aqueles produzidos com recursos captados pelo artigo terceiro da Lei do Audiovisual, que permite às distribuidoras estrangeiras aplicar percentuais de seus impostos a pagar em produções nacionais. (tirado da Ilustrada)

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Marx...? Você já ouviu falar dele?

Este foi um trabalho que fiz no primeiro semeste deste ano. Haviam alguns temas e o que mais me despertou interesse era esse aí de baixo. Espero que isto sirva de inspiração ou incentivo para alguém. O texto abaixo mostra que ações e revoluções não se fazem somente de conflitos e de reivindicações, é preciso ter antes de tudo uma base ideológica muito forte e consolidada. O comunismo não teve a mínima chance de se consolidar no Brasil por milhares de razões, mas talvez a mais grave seja o desconhecimento total dos que aqui tentaram transformar a realidade para um mundo mais justo e igualitário.
Revolução não se faz só de militância, as vezes acho que isso é uma das coisas que menos importa. Uma revolução se faz por meio de conscientização geral e irrestrita. É preciso primeiro educar o povo e garantir igualdade de oportunidades para que desta forma ele decida os rumos das grandes questões sociais e políticas deste país. Para escrever este texto aí de baixo eu me prendi basicamente a um livro de Leandro Konder.

A Recepção das idéias de Marx no Brasil, até o ano de 1935
Segundo Leandro Konder e vários outros teóricos no assunto é difícil determinar quando foi a primeira referência pública a Marx no Brasil. As primeiras referências datam da época da Comuna de Paris, mais como uma forma de repercussão do levante parisiense do que de uma discussão teórica aprofundada no tema. A maioria dos pronunciamentos públicos feitos sobre o levante parisiense mostra repudio latente quanto ao comunismo embrionário, principalmente no Senado e na Câmara dos Deputados. Entre as menções apocalípticas, consta a do deputado Machado Freire Pereira da Silva, segundo o qual o comunismo era o “cancro do mundo moderno”.
Em outras esferas da sociedade a Comuna foi vista com simpatia, como entre os estudantes de São Paulo. Mas de qualquer forma, nem os simpatizantes e muitos menos os contrários as idéias comunistas tinham algum embasamento naquilo que diziam. E mesmo nos jornais, folhetos e outros tipos de publicações as idéias marxistas era apresentadas de maneira distorcida, poucas seriam as pessoas que no fim do século 19 tenham lido Marx de maneira plena e crítica. As matérias discutiam Marx pelo senso comum, de uma forma precipitada. Dentre elas há uma matéria que foi fortemente influenciada não só pelo espírito cientificista da segunda metade do século 19, mas impregnada até mesmo por teorias pseudocientíficas de extração romântica, como a dos “fisiognomonistas”, que garantiam que chegavam ao caráter de uma pessoa através do exame dos pormenores da sua aparência facial. O artigo em questão descreve Marx de maneira curiosa: “Sua larga fronte revela um pensador (...) dos extremos do nariz descem dois fundos sulcos, que vão perder-se nos lábios grossos e sensuais, e meio cobertos por um abundante bigode a confundir-se com uma barba grisalha, bastante espessa e quase patriarcal”.[1]
As referências a Marx, e as sua idéias vem a ter destaque na ocasião de sua morte. Em meio a este fato no Brasil vivia-se a crise do império e a campanha absolutista. O legado de Marx chega ao cenário nacional em forma de vários periódicos operários. Os idéias socialistas começaram a deixar de ser utópicos, passando a se apresentar em maior consonância com a marcha do socialismo europeu. No entanto, mesmo nessa aproximação da classe com o ideal revolucionário pouco pode se dizer que estas publicações tenham a teoria do filósofo alemão. Havia uma dificuldade enorme de encontrar os escritos de Marx, e o que se encontrava em periódicos nacionais de alguma forma deturpava as idéias e teorias do pensador. Até mesmo na América Latina era muito difícil encontrar quem tinha lido Marx.
As várias interpretações colocavam Marx como reformista, anarquista e alguns até o consideravam de tendência religiosa cristã. As precipitações quanto às leituras de Marx são bem aparentes. Rui Barbosa numa destas interpretações diz que: “...é Karl Marx, apostolando a partilha do capital”[2]. Se tivesse lido mesmo Marx, ele saberia de necessidade da superação do capital que o alemão tanto falava.
Até mesmo no ensino superior seu nome não tinha muita menção nas discussões e quando ocorria estavam sendo premeditados quanto a sua teoria. “Nas aulas de direito do professor Aderbal de Carvalho, no Rio, em 1915, Marx aparecia como autor da teoria segundo a qual a economia era o “fundamento básico” de todos os fenômenos sociais; e o professor ainda acrescentava que tal teoria havia sido “largamente desenvolvida por Greef”[3] Esse era um professor socialista da Universidade de Bruxelas que hoje está esquecido e naquele tempo não tinha muita importância.
Um período novo na difusão das idéias de Marx se deu após a Revolução Russa de novembro de 1917. A partir deste contexto foi fundado o Partido Comunista do Brasil, e a propagação das idéias e obras marxistas passaram a ter âmbito nacional.
Paradoxalmente, no entanto, com o aflorar do pragmatismo comunista e o seu novo Estado na Rússia, Marx ficou para segundo plano nesta discussão. Os militantes do PCB estavam muito mais interessados nas discussões do seu próprio organismo recém criado. “O fascínio exercido pela força prática do novo Estado e do movimento comunista internacional começou a colocar as teorias de Marx numa relativa penumbra”[4].
Havia também muita desinformação a respeito da Revolução Russa, as grandes publicações brasileiras não faziam idéia do que estava realmente acontecendo naquele período. As notícias eram completamente confusas e deturpadas. As informações sobre o que estava acontecendo na Europa eram escassas e precárias, os dados que vinham do exterior não ajudavam a superar a confusão reinante. Havia muitos equívocos em distinções de grupos muitas vezes homólogos, faziam confusão entre comunistas, bolchevistas, e surgiu uma designação muito corrente na época os maximalistas. Estes últimos de acordo com Sr. Palmer, Procurador-Geral dos Estados Unidos da América, numa notícia para um periódico progressista brasileiro pedia providencias imediatas. Segundo Palmer eles eram facilmente identificáveis por se vestirem de um modo estranho. “Muitos homens se distinguem por longuíssimas cabeleiras, ao passo que as mulheres cortam o cabelo bem curto.”[5] Significativamente, o primeiro grupo bolchevista brasileiro a se organizar foi chamado “União Maximalista”. Demorou algum tempo até que o termo “comunista” se fixasse, acompanhando, aliás, uma evolução dos próprios bolcheviques. Toda a ênfase dos periódicos se concentravam em denunciar as misérias e horrores atribuídos ao governo dos bolcheviques na Rússia. Quase nada tinham a dizer sobre as atividades dos comunistas nacionais, que nesta fase realmente chamavam pouca atenção, dada a fragilidade orgânica do PCB[6].
Entre os intelectuais brasileiros a Revolução Russa foi vista com hostilidade por alguns e simpatia por outros. Tanto os que se mostravam a favor, quanto contra não mostravam um entendimento muito claro das obras marxistas ou das teorias e práticas de Lênin. Por mais que o movimento operário se articulasse e se organizasse, a grande massa operária ficava a margem de toda a discussão. Segundo o relato do poeta Murilo Araújo, que consta na compilação, O Ano Vermelho, sobre a vinda do velho militante anarquista Pedro Matera. Mostra que, quando Matera chegou no lugar da reunião fez uma ironia: “Pensei que se tratava de uma reunião proletária e encontro meia dúzia de mocinhos bonitos.”[7]
A social-democracia naquele momento não mostrava caminhos para uma saída eficaz. Ela provocava repudio dos anarquistas, e ela não conseguiu mudar a tendência da esquerda brasileira para o anarco-comunismo. As posições desse anarco-comunismo eram as velhas posições do anarquismo, fazendo pequenas concessões terminológicas à Revolução Russa.
O precursor da política comunista, e sua conseqüente organização nacional centralizadora foi o jornalista Astrogildo Pereira Duarte Silva. Ele, que era um dos ativistas que mais se destacaram na difusão das convicções anarco-comunistas. Astrogildo tem papel fundamental na fundação do PCB. Ele fundou a revista Movimento Comunista que desempenha também papel decisivo na fundação do PCB.
O congresso de fundação do Partido Comunista do Brasil[8] foi realizado de 25 a 27 de Março de 1922. Astrojildo foi eleito secretário-geral, por proposta dele mesmo. No primeiro congresso tinham fora Astrojildo, mais sete delegados das diversas partes do país. Muitas das informações sobre este congresso foram confiscadas pela polícia do Rio em Junho de 1923. Esse despreparo quanto as suas informações e sua história pode ser explicado pela falta de compreensão que eles tinham do alcance do que estavam fazendo e da relevância da iniciativa que estavam tomando. Fundaram o PCB os seguintes revolucionários: Abílio de Nequete (barbeiro), Astrojildo Pereira (jornalista), Cristiano Cordeiro (contador), Hermogêneo Silva (eletricista), João da Costa Pimenta (gráfico), Joaquim Barbosa (alfaiate), José Elias da Silva (funcionário público), Luis Peres (operário vassoureiro), Manuel Cendón (alfaiate).Além de Nequete, foram eleitos para compor a primeira executiva as seguintes pessoas: Astrojildo Pereira, Antônio Canellas, Luís Peres, Antônio Gomes (efetivos); e Cristiano Cordeiro, Rodolfo Coutinho, Antônio de Carvalho, Joaquim Barbosa e Manuel Cendón.
O partido tinha dirigentes militantes muito ativos[9], e nenhum deles tinha tido a oportunidade de viver uma experiência social-democrata. Eles ignoraram todas as discussões sobre esta visão e ignoraram o que era discutido na Europa neste período. E o Marx não adentrava muito nestas discussões, ainda era muito raro alguém que realmente conhecia sua teoria a fundo. O PCB sofre alguns meses após sua criação as primeiras contradições internas entre os comunistas. Eles precisavam alcançar uma legitimação que assegurasse a sobrevivência da agremiação, correndo sério risco de se dissolver e desaparecer como ocorreu com tantos outros partidos operários. Três meses depois da fundação o partido foi empurrado para ilegalidade, na onda de repressão que se seguiu ao levante do Forte de Copacabana. Abílio Nequete que era secretário geral foi preso, e depois de algumas investigações alguns sugerem que o marxismo dele não era muito sólido. Em 1924 ele propõe ao marxismo uma drástica revisão, num folheto que falava da tecnocracia, ele afirmava que o proletariado não tinha condições para ser o protagonista da revolução socialista e que esta precisaria ser feita pelos tecnocratas. Depois Nequete foi descambar na “sociologia evidentista” que acolhia a crença da reencarnação das almas, divergindo de Kardec, essa era a solução da questão social.
O PCB sofreu uma grave derrota com relação ao 4O Congresso da Internacional Comunista. A delegação brasileira não foi admitida entre os outros países. Tiveram diversas divergências em relação à delegação uruguaia e a Argentina. Os delegados argentinos fizeram-se passar por orientadores da ação comunista em toda América do Sul. O PCB buscava o reconhecimento internacional e não apenas estar subordinado a um comando exterior. A Internacional também não dispunha nesta época de todo o aparato necessário para estabelecer um controle efetivo sobre os outros órgãos comunistas. Desta forma o PCB buscando o reconhecimento internacional não perdia também sua autonomia nos atos da política nacional.
Nos anos 20 o Brasil estava com uma sociedade mais diversificada, e observava-se uma acessão das camadas médias e da pequena burguesia. Estavam sendo criadas as condições para um Brasil industrial, embora tardiamente e bem gradualmente, estes passos significativos mostravam que o país estava mudando e que novos interesses surgiam e novas influencias também.
Embora os comunistas até aqui não tenham demonstrado grandes atos e intervenções na realidade brasileira. Em 1923, Octávio Brandão[10] traduziu do francês o Manifesto Comunista, de Marx e Engels. Essa tradução ficou como um marco no marxismo brasileiro, chegando com 80 anos de atraso e ainda assim causou uma repressão imensa. Os exemplares foram cassados e chamados de “subversivos”, a polícia anunciou que iria incinera-los[11]. O partido também anunciou o lançamento do semanário A Classe Operária, que logo depois foi fechado pela polícia. Em resposta o partido lançou um folheto comemorando os oito anos da tomada do poder pelos comunistas soviéticos. Com os “altos e baixos” do partido ele sobrevivendo e a agremiação ganhou importantes vitórias, como o reconhecimento oficial da condição de “seção Brasileira da Internacional Comunista”, grande parte deste reconhecimento se deve ao empenho de Astrojildo Pereira, Rodolfo Coutinho e Octávio Brandão. Graças as suas articulações o partido ganhou reconhecimento internacional.
Os marxistas brasileiros ainda tinham um enorme distanciamento das idéias de Marx. Suas teorias filosóficas se resumiam a critérios pragmáticos. Muito mais importante do que defender as idéias de Marx passou a ser justificar a ação de Lênin, a figura concreta que o marxismo tinha assumido, o Estado soviético. Quem trouxe a luz à dialética e as idéias marxistas foram os trotskistas. Foram amplamente perseguidos pelo stalinismo. No entanto, a radicalização militante e o autoritarismo fizeram com que eles escorregassem para uma posição na qual ficava prejudicada a relação deles com o movimento da sociedade em que viviam. A sociedade mudava e eles só conseguiam apreender alguns aspectos da mudança, pois não conseguiam mudar suficientemente junto com ela, nem conseguiam se renovar a ponto de desempenhar, ativamente, um papel decisivo na criação de um quadro novo.
As tentativas de aproveitamento do pensamento de Marx para conferir base teórica a ação do PCB no começo dos anos 30 se inviabilizaram em decorrência da conjunção verificada entre a crise política interna da agremiação, a chegada do stalisnismo e a influencia positivista e a conseqüente subestimação da teoria.
A conspiração anticomunista também era crescente. Com a adesão de Luis Carlos Prestes[12] e a formação da Aliança Nacional Libertadora (ANL)[13], o anticomunismo ganhou maior substância e a propaganda contra o “perigo vermelho” deflagrou a organização dos adversários. Enquanto as operações práticas não demonstravam muito resultado, as teóricas estavam muito longe de conseguir qualquer êxito. A dialética, no Brasil, não tinha quem a defendesse. A obra de Hegel era amplamente ignorada, junto com todos os teóricos do começo do século XX que iam contra o stalinismo em favor dos escritos de Marx. O PCB não via muita utilidade na dialética e permitia que seus militantes “engolissem” algumas de suas formulas. Na esfera exterior ao partido os tradicionalistas católicos repeliam a dialética como coisa do demônio.
Quanto aos próprios intelectuais a coisa não ia muito longe, poucos intelectuais podiam ler os escritos em alemão. O jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda era um deles. Mesmo não sendo marxista ele teve simpatia pela Revolução Russa e queria escrever sete volumes sobre o socialismo. Deste apenas um foi publicado, intitulado Anarquismo, Comunismo, Socialismo. Nele se percebe que apesar de Miranda ter acesso a literatura alemã não foi o bastante para ele desenvolver em senso crítico sobre a dialética do pensamento de Marx. Com a insurreição de novembro de 1935[14], fica clara a pobreza do instrumental conceitual dos marxistas no deficiente exame que eles fizeram da situação do Brasil, no momento em que consideraram madura para uma revolução de tipo leninista.
CONCLUSÃO
Apesar da relevância de todos os esforços promovidos pelos comunistas, anarquistas e de todos os grupos de aspiração a uma política de esquerda brasileira. Marx chega nos fins da década de 30 basicamente como entrou no Brasil, sua importância e o que predizia foi o grande impulsionador de toda efervescência militante brasileira. Sua teoria em grande parte não foi devidamente estudada e refletida, a dialética perdeu lugar ao pragmatismo de Stalin.
As dificuldades, como foram expostas, eram muito grandes. A teoria de Marx encontra um terreno muito distinto da qual ela nasceu. As diferenças de línguas, desenvolvimento industrial, posicionamento geográfico e outras barreiras (como a insignificância do Brasil e da América do Sul perante os outros países em relação à Europa), foram cruciais para que o ideal marxista viesse com uma estrutura altamente complexa e abstrata.
A militância autoritária, o anticomunismo, a Guerra Fria, a alienação das massas, entre outros fatores contribuíram para o comunismo no Brasil fosse uma realidade bem distante e muito pequena. Apesar dos esforços de todos os intelectuais, tanto simpatizantes quanto contrários ao marxismo, até 1935 não se achava no Brasil um grande teórico do marxismo e que conseqüentemente intervisse nas políticas do PCB e de outras agremiações de esquerda em favor da dialética marxista.
Como modo de pensar fundado sobre a preocupação prioritária de apreender a realidade na sua mudança incessante, no seu constante processo de transformação, na infinita riqueza das suas contradições e meditações, a dialética podia tornar-se muito estimulante para os espíritos rebeldes em busca de uma concretização revolucionária na luta para transformarem a sociedade.
Os revolucionários, ao longo da história, não manifestaram qualquer vocação especial para o modo de pensar dialético. Com freqüência para agir, se apoiaram em certezas positivistas, fundadas sobre dogmas, crenças religiosas, sentimentos abstratos ou preceitos metafísicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, Otávio . “Combates e Batalhas”. São Paulo: Alfa Omega, 1978
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. “Em guarda contra o perigo vermelho”. São Paulo: Perspectiva: FAPESP, 2002.
KONDER, Leandro. “A derrota da dialética”. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
HOBSBAWN, Eric. “História do Marxismo”. Ed Paz e Terra, vol 2.
[1] KONDER, Leandro. A Derrota da Dialética. Rio de Janeiro: Campus, 1988. p.70.
[2] MARTÍ, J. Apud KONDER, Leandro. Op. cit. p.73.
[3] Ibid., idem, p.113.
[4] Ibid., idem, p.117.
[5] Ibid., idem, p.120.
[6] MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o “Perigo Vermelho”: o anticomunismo no Brasil (1917-1964).São Paulo: Perspectiva: FAPESP,2002. p. 4.
[7] KONDER, L. Op. cit. p.126.
[8] Naquele tempo não havia nenhuma lei especial que regulamentasse a organização e o funcionamento de partidos políticos como tais. Assim, o Partido Comunista do Brasil foi registrado sob o título das sociedades civis, o qual foi publicado no Diário Oficial da União a 07/04/1922. Este partido tinha a sigla PCB, mas chamava-se Partido Comunista do Brasil. Em 1961, mudaria seu nome para Partido Comunista Brasileiro, mantendo a sigla. Tanto o PC do B atual, quanto o PCB se reivindicam a continuidade do partido fundado em 1922.
[9] Uma dessas explicações pela deficiência dos socialistas pode ser pelo caráter de militância deles e pelo fato deles se manterem com uma militância anarco-sindicalista.
[10] Com uma vasta produção literária, diversificada, abrangente, vamos assim dizer, iniciada com o estudo científico "Canais e Lagoas" , lançado em 1919, o alagoano Octavio Brandão, da histórica Viçosa, ainda, lamentavelmente, não teve as suas obras dadas ao conhecimento público. Até os últimos dias de sua existência, Octavio Brandão vinha lutando contra tudo e contra todos, pelo ostracismo que fora relegado, em razão de um idealismo que abraçara e que dele fizera ponto de partida na sua trajetória conturbada de revolucionário-escritor. Para se ter uma idéia da longa e penosa peregrinação que fora a sua existência, Octavio Brandão, sua mulher Laura e três filhas, foram deportadas para a Alemanha, em 1931 e, ato contínuo, seguiram para a Rússia, lá permanecendo por um espaço de 15 anos, retornando apenas Octavio com 4 filhas: Valná e Dionysa, do 1o matrimônio (com Laura) e Iracema e Glória, do 2o matrimônio (com Lúcia Prestes). Apenas Valná, após alguns anos, voltou para Moscou, onde nascera. Não se adaptou ao Brasil. Octavio Brandão, descrito como figura agitadora e perigosa pelas autoridades alagoanas, fora obrigado a deixar seu estado natal em 1919 e, no Rio de Janeiro, perseguido pela polícia política de Vargas – todo o dilema que culminou com o seu exílio de 15 anos. Fundador de diversos jornais da esquerda, entre os quais "A Classe Operária", em 1925, também foi redator-chefe da " Nação", em 1927, órgão este de estudos e informações sobre a vida do PCB, recém-fundado em 1922. Duas vezes vereador pelo Distrito Federal, não chegou a cumprir de todo o seu mandato. Havia uma certeza na reação, de que Octavio Brandão representava permanente perigo à sociedade, ou melhor, aos seus interesses escusos. O poder e percepção desse "caboclo nordestino" e sua locução verbal eram notáveis e, dado à palavra, inflamava a massa com a certeza de suas ponderações e conclusões da situação ora reinante. O PCB teve fortes e combativos nas suas fileiras, mas foram poucos os que se mesclaram na ação revolucionária direta e na produção intelectual tão vasta e tão importante para a compreensão da nossa história e pelo idealismo marxista-leninista que abraçara com incomparável ardor. Octavio Brandão, a partir dessa visão, assim como o que se sucedeu com Astrojildo Pereira, se afastou do poder decisório, ou melhor, foi afastado, relegado a um plano secundário que lhe deram, apenas para constar no quadro do PCB (algo como entregar carteirinhas a membros em reunião, colher assinaturas de presença, fiscalizar a portaria de entrada das reuniões, etc.). Uma mágoa real, da qual em "Combates e Batalhas" revela a verdadeira faceta dessa dura imposição. E nem levando em conta as várias décadas de lutas e sacrifícios pelo PCB.
[11] BRANDÃO, Otávio . Combates e Batalhas. São Paulo: Alfa Omega, 1978, p.242.
[12] Em 1920 colou grau como bacharel em Ciências Físicas, Matemáticas e Engenharia Militar, sendo promovido a segundo-tenente. Como fora o melhor aluno, pôde escolher onde servir e optou por continuar no Rio de Janeiro, na Companhia Ferroviária. Promovido a primeiro-tenente, tornou-se auxiliar de instrução na Seção de Engenharia da Escola Militar, mas demitiu-se por falta de material para executar seu trabalho. Voltando à Companhia Ferroviária, Prestes tomou conhecimento, em 1921, das "cartas falsas" de Artur Bernardes, que dariam motivo para a primeira revolta tenentista. Indignado com as ofensas aos militares do então candidato à Presidência da República, Luís Carlos começou a freqüentar as reuniões do Clube Militar. Nesta época, Prestes já possuía traços de sua forte personalidade.Participando das conspirações tenentistas desde o início, Luís Carlos foi impedido de comparecer à primeira revolta, em julho de 1922, devido a um ataque de tifo. Já em novembro de 1922, como punição por sua simpatia aos revoltosos, Prestes foi transferido para o Rio Grande do Sul para fiscalizar quartéis. Em Santo Ângelo, deu início, com o levante do Batalhão Ferroviário, ao movimento que iria se transformar na marcha da coluna que levou seu nome. Em 1926, quando a Coluna Prestes se asilou na Bolívia, Luís Carlos - que fora chamado de "Cavaleiro da Esperança" - começou a estudar o marxismo.
[13] Foi a reunião de ex-tenentes, comunistas, socialistas, líderes sindicais e liberais excluídos no poder. A Aliança aprova um programa de reformas sociais, econômicas e políticas que inclui aumento dos salários, nacionalização de empresas estrangeiras, proteção aos pequenos e médios proprietários e defesa das liberdades públicas.
[14] Foi uma insurreição político-militar promovida pelo PCB, com o objetivo de derrubar o presidente Getúlio Vargas e instalar um governo socialista no Brasil. Ficou conhecida como Intentona Comunista.
Imperadores do Brasil:

D. Pedro I
Nome completo: Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon
D. Pedro II
Nome completo: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga
e é claro, esqueci alguns príncipes e déspotas como nossos amigos FHC e Requião respectivamente. O pastor do Paraná é o dono deste estado, é o senhor desta terra. Eu adoro seu jeito afobado e exaltado de fazer política. Dono de um estilo estrondoso, especialista em violência retórica, ator consagrado de performances destemperadas, ele junta o talento do repentista com imediatismo do político quando resolve gerar factóides explosivos e de feição populista. E há quem já se esqueceu que esse bom moço sobe no palanque com o diabo.

domingo, dezembro 05, 2004

Cine Revolução


Cabra Marcado para Morrer

Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, longe de ser apenas um filme dentro de um filme, é o melhor documentário nacional e um dos trabalhos que mais influenciaram a cinematografia documental brasileira moderna. Seu realizador é considerado unanimidade e sinônimo de documentário.
Junto com o Ilha das Flores de Jorge Furtado, Cabra Marcado para Morrer encabeça a lista dos melhores documentários já feitos neste país. Vítima do golpe de 64 e da paranóia instalada no país, Coutinho e seu Cabra Marcado para Morrer, originalmente um filme de ficção, voltam ao cenário inicial, 17 anos depois, para resgatar a história do projeto. Coutinho quer fazer o recorte que tentara antes, agora na forma de documentário. Munido de coragem - o Brasil em 1981, data da retomada das filmagens, iniciava um lento e perigoso momento de abertura - e dos rolos de filme que conseguiu salvar do original em 1964, Coutinho retorna a cidade de Galiléia, a procura de seus atores e da verdade. Busca a verdade.
Esteticamente, o filme de Coutinho é hoje objeto de estudo em todas as salas de aulas das faculdades de cinema do país. Sua facilidade de estabelecer contato entre o espectador e o entrevistado é assustadora. Todos tentam entender o fenômeno Coutinho. Sua figura, carismática, encantadora e enigmática conduz a narrativa com destreza e transforma a entrevista, e conseqüentemente, o entrevistado, em narradores aptos a conquistar a confiança. Sua habilidade em se impor conduzem e nivelam o depoimento. Mesmo contrariados, os entrevistados declamam suas poesias, sussurrando e se lamentando. Coutinho consegue arrancar, até mesmo da negação, discursos contundentes.

Filme: CABRA MARCADO PARA MORRER (esta parte foi tirada do Janela Indiscreta)
Com: Elisabeth Teixeira e família, João Virgínio da Silva e os habitantes de Galiléia (Pernambuco).
Narração de Ferreira Gullar, Tite Lemos e Eduardo Coutinho
Direção: Eduardo Coutinho
Duração/Ano: 120'- 1984
O filme 'Cabra Marcado Para Morrer' é um documento singular, um filme dentro do filme, em que personagens, equipe técnica e elenco se integram retratando a realidade da ditadura militar no Brasil nos anos 60 e 70.
RESUMO
Em fevereiro de 1964 inicia-se a produção de Cabra Marcado Para Morrer, que contaria a história política do líder da liga camponesa de Sapé (Paraíba), João Pedro Teixeira, assassinado em 1962. No entanto, com o golpe de 31 de março, as forças militares cercam a locação no engenho da Galiléia e interrompem as filmagens. Dezessete anos depois, o diretor Eduardo Coutinho volta à região e reencontra a viúva de João Pedro, Elisabeth Teixeira - que até então vivia na clandestinidade - e muitos dos outros camponeses que haviam atuado no filme antes brutalmente interrompido.
CONTEXTO HISTÓRICO
As Ligas Camponesas vinham sendo criadas desde meados dos anos 50 com o objetivo de conscientizar e mobilizar o trabalhador rural na defesa da reforma agrária. Durante o governo de João Goulart (1961-64), o número dessas associações cresceu muito e, junto com elas, também se multiplicavam os sindicatos rurais. Os camponeses, organizados nessas ligas ou em sindicatos ganharam mais força política para exigir melhores condições de vida e de trabalho. A renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, após apenas sete meses de governo, abriu uma grave crise política, já que seu vice, João Goulart, não era aceito pela UDN e pelos militares, que o acusavam de promover agitação social e de ser simpático ao comunismo. Assim como esses setores eram contrários à posse de Jango, existiam outros que defendiam o cumprimento da Constituição, como o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. O impasse foi resolvido com a adoção do regime parlamentarista de governo, aprovado pelo Congresso. Com esse regime, Jango era apenas chefe de Estado, sendo que o poder efetivo de decisão estava nas mãos de um primeiro-ministro escolhido pelos deputados e senadores.Diante da crise econômica, o regime parlamentarista imposto pelos conservadores, se mostrava ineficiente, com a sucessão de vários primeiros-ministros, sem que a crise fosse atenuada. Esse cenário fortalecerá o restabelecimento do presidencialismo, conquistado através de um plebiscito em 6 de janeiro de 1963. Reassumindo a plenitude de seus poderes, Jango lançou as reformas de base apoiadas por grupos nacionalistas e de esquerda.. Elas incluíam a reforma agrária, a reforma do sistema bancário, a reforma tributária e a reforma eleitoral. Muitos comícios foram organizados em apoio às reformas, destacando-se um comício-gigante realizado na Central do Brasil do Rio de Janeiro em 13 de março. A mobilização popular nos comícios assustava as elites que, articuladas com as forças armadas e apoiadas pelos setores mais conservadores da Igreja, desferiram um golpe de Estado em 31 de março de 1964. No dia seguinte, o controle dos militares sobre o país era total e, no dia 4, Goulart se auto-exilou no Uruguai, sem impor qualquer resistência aos golpistas, temendo talvez o início de uma guerra civil no país. Iniciava-se assim um dos períodos mais obscuros da história do Brasil, com 21 anos de ditadura militar que promoveu uma violenta onda de repressão sobre os movimentos de oposição, além de ter gerado uma maior concentração de renda, agravando a questão social, produzindo mais fome e miséria. Os "anos de chumbo" da ditadura ocorreram após o AI5 (Ato Institucional número 5), no final do governo Costa e Silva (1968), estendendo-se por todo governo Médici (1969-1974).

Partindo desta reflexão eu coloco um texto que escrevi esse ano junto com o Fernando para discutir a questão das ligas camponesas do nordeste brasileiro. É desta realidade que Coutinho fala no seu filme.

O NORDESTE EM MOVIMENTO
O período analisado vai desde a criação das Ligas Camponesas até o golpe militar de 1964. Para fazer a análise deste período no Nordeste se baseia em duas reportagens feitas por dois jornalistas que realizaram contatos e entrevistas com camponeses e políticos. Uma realizada por Antonio Callado para o Diário da Manhã e outra de Tad Szulc para o The New York Times. Reportagens estas feitas em 1959 e 1960 respectivamente. Callado em suas viagens pelo Nordeste denuncia a “indústria da seca”, mecanismo feito por latifundiários e políticos para transformarem este problema em um grande negócio. Suas reportagens resultam num movimento dentro do governo Juscelino Kubitschek que buscava apoio dentro do jornal de Callado para seus projetos frente à crise da seca. Com apoio da opinião pública se origina o projeto Operação Nordeste, implementado por Celso Furtado e que resultou na fundação da Sudene. O jornalista conviveu com os camponeses de Galiléia e presenciou a mobilização de Julião, que organizou varias manifestações dos trabalhadores rurais e teve atuação relevante nas lutas das Ligas. As publicações de Callado adquiriram repercussão nacional que receberam muitos elogios e ataques desfavoráveis. Ele vivenciou a repressão contra os camponeses pela desapropriação de terras. E, foi acusado de incitar os foreiros do engenho a não cumprirem o mandato de despejo. Fato que indignou parte da Câmara Federal e assinaram moção de apoio a Callado.A partir da posse do governador eleito pela Frente do Recife, as Ligas Camponesas ampliaram sua mobilização e conseguiram uma autorização para o mandato de desocupação das terras do engenho pelos moradores em atraso com o pagamento do foro. Editoriais e artigos na imprensa criticam a possível desapropriação como uma ameaça sem precedentes à ordem social e a propriedade privada. O governo cede à pressão dos trabalhadores e a desapropriação é assinada.As reportagens de Callado foram transformando a opinião das pessoas. A idéia de que o Nordeste precisa modernizar-se ficou bem difundida entre os vários setores da sociedade. No entanto a resistência ainda era muito grande. Para muitos, a iniciativa de mudanças significativas era coisa de comunista. É neste clima de euforia e confrontos políticos e sociais, de grande mobilização das Ligas, que o autor nos remete ao jornalista do The New York Times, Tad Szulc. Embora não existam informações sobre o envolvimento do Departamento de Estado dos EUA com essa viagem, é de certa maneira possível que a reportagem tivesse outros motivos que iam além de informar a população daquele país. Desde 1947 o mundo ficou bi polarizado, dividindo entre o bloco comunista e o bloco capitalista. Sendo assim, o jornalista americano procurava propagar o anticomunismo majoritário dos EUA, qualquer projeto ou iniciativa que visasse distribuição de renda, igualdade social era facilmente associada a políticas comunistas. O Brasil era epicentro da América Latina, e o que acontecesse aqui poderia influenciar fortemente outros países a adesão comunista. O governo brasileiro desta época era “neutro” frente aos dois blocos. Frente a esse contexto Szulc lança uma matéria intitulada “Pobreza no Nordeste do Brasil gera ameaça de revolta”. A conseqüência desta matéria não deixou dúvidas ao leitor americano de que uma revolução comunista iminente estava para ser desencadeada no Brasil[1]. O jornalista também publicou partes do discurso de um líder camponês, em que ele fazia apologia a Revolução Cubana e dizia que os grandes proprietários tinham o apoio dos Estados Unidos. Szulc reforça os laços entre os setores dominantes da sociedade brasileira aos dos Estados Unidos, revelando que muitos políticos e intelectuais, entre outros, encontram-se preocupados com a possibilidade de uma revolução iminente.
A IGREJA CATÓLICA OCUPA A CENA
A Igreja Católica tem papel de muita relevância quando o tema é comunismo, tanto os setores do Vaticano como os nacionais contribuíram muito para a propagação do anticomunismo. O setor da Igreja que mostrou interesse em amenizar os problemas nacionais em favor dos menos favorecidos foi a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Em 1956 é publicado um documento que manifesta sua posição frente a situação calamitosa do Nordeste. Nele é criticado o problema da má distribuição de renda e a necessidade de uma reforma agrária. Os setores ligados aos camponeses, como os comunistas, reproduziam o discurso de que a religião era o ópio do povo, no qual não havia maneira de transformação social pela propagação da exploração e da submissão. No entanto, as Ligas ao produzirem um discurso de crítica a atuação dos padres, afirmavam-se como defensoras de um outro cristianismo. As Ligas se projetam como alternativa messiânica e, líderes como Julião fizeram a construção ideológica deste movimento. Foi produzida até uma cartilha mostrando para os camponeses como votar nas eleições presidenciais de 1960. Nela há uma identificação de Deus com os latifundiários e de Jesus com os camponeses. A crítica a religião é muito forte e causou forte impacto nos trabalhadores rurais. Após a vitória da desapropriação de Galiléia, as Ligas se expandem para o Norte e o Sul do Brasil. A repercussão do movimento originou o filme Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho. Em 1961 há o rompimento com o PCB, durante o primeiro Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, em Belo Horizonte, convocado pela União de Fazendeiros e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB) e associações e entidades controladas pelos comunistas. Essa ruptura faz com que três forças (a Igreja, o PCB e as Ligas) disputem o controle do movimento dos trabalhadores rurais. As Ligas tornaram-se um caminho alternativo de organização e mobilização das massas trabalhadoras rurais, em face da ausência de sindicatos rurais. Embora previstos pela Consolidação das Leis Trabalhistas de 1946, os sindicatos rurais não se materializaram no efetivo cumprimento da determinação legal. Os bispos, por intermédio do Ministério do Trabalho, conseguem a aprovação de diversos pedidos de reconhecimento de sindicatos rurais apoiados pela Igreja. Foi uma forma de barrar o avanço das Ligas Camponesas. Outro fator de enfraquecimento das ligas apontados pelo autor é o fato destas incorporarem a concepção de revolução armada, que originou na criação de campos de treinamento que foram extintos pelas Forças Armadas. Com a preocupação do governo frente a tudo isso, adota a bandeira da Reforma Agrária e propõe uma série de reformas de base. O golpe de 64 veio a interromper esta experiência histórica. Os proprietários ganham o apoio dos militares e reprimem fortemente os movimentos rurais de toda magnitude.
Conclusões e considerações finais
O que fica de exemplo desta luta travada no Nordeste é que, infelizmente o processo de desapropriação das terras é muito longo. As fortes lutas empenhadas pelos trabalhadores rurais foram radicalmente destituídas pelos militares. A luta teve que voltar a estaca zero. Todo o processo é muito importante para entender a geopolítica daquele momento, a Guerra Fria, o comunismo, a influência da Igreja, e tudo mais que entravou a consolidação das lutas dos camponeses. A questão da Reforma Agrária, apesar de ter sido levantada no governo Goulart esta engavetada até hoje. O “elefante branco” da distribuição de terra esta bem longe de ser pauta nacional de discussões. Apenas é citada de maneira oportunista nas eleições, assim como outros clássicos chavões do discurso político nacional.
A discussão dos problemas estruturais, incluindo o da estrutura agrária, deveria ser conduzida pelos partidos políticos em primeiro lugar, mas também com a participação de outras instituições (universidades, igrejas, sindicatos). O ponto de partida teria de ser à procura de soluções alternativas que obtivessem o máximo possível de consenso. Poderia ser realizada uma grande negociação coletiva, mais representativa ainda do que o próprio Congresso Constituinte, como pré-condição para se elaborar uma carta magna e os vários códigos (civil, penal, do trabalho, etc.), estabelecendo os princípios, conceitos, diretrizes e bases de todos os aspectos da vida nacional, incluindo os conceitos de propriedade e uso da terra e tendo como centro de interesse o homem, que deve ser o artífice e o maior beneficiário de tudo. Qualquer coisa nesse sentido poderia ter sido ao menos tentada pelo Presidente José Sarney. As propostas foram sumariamente rejeitadas sem nem ao menos se mobilizar e ouvir-se o povo trabalhador. Aconteceu que nessa altura os partidos, os grupos e as personalidades que haviam participado com o povo na campanha de redemocratização do país já estavam todos assentados comodamente no governo, já haviam deixado de ser oposição e constituíam a nova situação de fato e de direito. O que no atual reflexo sócio-político não foge muito a regra. O novo governo abortou os sonhos da classe trabalhadora. A esperança não encontra mais sentido, virou sinônimo de desilusão. A tão sonhada e lutada Reforma Agrária se mostra hoje muito mais distante do que nos anos anteriores. Os trabalhadores rurais estão à mercê da arbitrariedade desses programas sociais nada inclusivos e nada transformadores. A classe trabalhadora finalmente chegou ao poder, mas por meio de alianças tão complexas que nem o trabalhador mais ingênuo enxerga mudança. As massas trabalhadoras ficaram completamente órfãs de repente, sem organizações políticas e sem lideranças autenticamente representativas e ainda sem programas e sem objetivos próprios. Por isso elas não avançaram na conquista de posições mais fortes na correlação de forças políticas. Ao invés disso, refluíram para as posições defensivas de suas reivindicações sindical-trabalhistas.Com base numa percepção errônea da estrutura social, das causas fundamentais dos problemas, das forças atuantes na sociedade e das transformações que já estão se processando, os defensores da reforma agrária estão preconizando uma solução irreal e impraticável.
BIBLIOGRAFIA:
FERREIRA, Jorge. O Brasil Republicano 3, O Tempo da Experiência Democrática. MONTENEGRO, Antonio Torres. “Ligas Camponesas e Sindicatos Rurais em Tempo de Revolução”. Civilização Brasileira.
MOTTA, Rodrigo Patto de Sá. Em guarda contra o “Perigo Vermelho”. São Paulo. Perspectiva. 2002.
[1] “O fato era visível não só na reestruturação do PCB, que começava a se recuperar das crises e cisões decorrentes da “desestalinização”, mas no surgimento de novas organizações esquerdistas como a Ação Popular (AP), Ligas Camponesas e Política Operária (POLOP) (...) as bandeiras esquerdistas começaram a empolgar novos contingentes sociais, para além de intelectuais e ativistas sindicais (...) Militantes católicos leigos e grandes quantidades de lideres estudantis fortalecem o campo esquerdista” (p.233).


Comunicação de massa

Este é um trabalho que fiz sobre sobre comunicação de massa no ano passado. Agora disponibilizo para quem quiser compreender sucintamente este assunto.


A mídia desempenha um papel central na construção da sociabilidade contemporânea. Dentro desse contexto os veículos de comunicação passam também a ocupar um importante espaço na compreensão do mundo. Este trabalho é um estudo sobre como a ideologia - entendida como forma de dominação - pode se manifestar nestes veículos de comunicação, para criar ou reproduzir relações assimétricas.

Palavras chaves: comunicação, ideologia, alienação, cultura.

Introdução

Sabemos hoje em dia o quanto às pessoas dependem dos veículos de comunicação de massa para construírem suas vidas. Cada vez mais a mídia, veículos de comunicação social, assumem papel de relevância no cotidiano. Por outro lado, e para levar à população a conhecer outros posicionamentos sobre os fatos, surgem, de forma crescente, uma imprensa "alternativa". Jornais de bairro, de empresas, de associações de moradores e, em especial, jornais e boletins de entidades de classe, representam os interesses específicos de categorias. Sendo assim, podemos afirmar que o fator determinante para o entendimento, racionalização e criticidade da modernidade é a comunicação. Todavia, ela será tratada neste texto ao que se refere na comunicação como forma de controle. Os meios de comunicação assumem o papel de agentes sociais. Eles abrem espaço para que os acontecimentos se desenrolem, armam a cena, e gerencia-os de acordo com interesses específicos, daqueles que dominam e hierarquizam a sociedade. Estamos num ponto onde já não sabemos quem tem mais importância nos acontecimentos. Assistimos as imagens, o relato dos fatos, e chegamos a nos sentir impotentes, mesmo não sendo. Permitimos, mesmo que inconscientemente, que a mídia assuma posições que não são as suas de direito. A função real da existência destes veículos é divulgar, tornar público os fatos que fazem parte da história que o homem, através de suas vivências constrói. Neste sentido, não só os media como também outras corporações, denominadas transnacionais, ultrapassam a dimensão exclusivamente econômica. A comunicação se não é considerado o maior, é um dos mais importantes veículos nas relações de poder, isto porque a falta de reforço da identidade do sujeito o leva a uma alienação, e esta segue uma linha da ideologia no sentido negativo. O que vai mostrar se uma idéia, ou uma instituição possui uma dimensão negativa é a maneira como é empregada. A partir destes dados e dirigindo-os para o aspecto da comunicação como forma ideológica negativa, estaremos colocando em “xeque” algumas questões como: Quais as influências que a comunicação provoca nas atitudes da sociedade? Quais as permanências, rupturas e resistências sofridas? E mais, qual a relação da comunicação com a cultura? A cultura é inimiga ou aliada à comunicação?

Comunicação de massa
Para se ter basicamente uma idéia da receptividade de um indivíduo ou uma sociedade perante a comunicação, é imprescindível não deixar de pensar nas formas de como os atinge, o termo utilizado para especificar estas formas é as “Comunicações de Massa”. Este termo já foi utilizado muitas vezes como sendo: um conjunto amplo de instituições e produtos da mídia. Porém, já foi problematizado pelo fato de que a expressão massa deriva das mensagens transmitidas pelas indústrias da mídia que são, geralmente, acessíveis a audiências relativamente grandes, sendo assim, é importante desmistificar esta expressão em termos quantitativos, pois, em outros períodos do desenvolvimento das indústrias da mídia (por exemplo, no começo) e em outros setores das industrias da mídia hoje (por exemplo, editoras de livros e revistas), eram e permanecem relativamente pequenas. Outro fator de problematização para a especificação do termo comunicações de massa seria a palavra comunicação, já que esta, implica geralmente numa transmissão de mensagem de mão única (transmissor e receptor), o que é diferente da comunicação dialógica de uma conversação, que possui o direito de resposta ativo. Por isso, seria mais apropriado falar em “transmissão” ou difusão de mensagens, em vez de comunicação como tal.
Thompson esclarece de maneira ampla, o significado de comunicação de massa como:
“A produção institucionalizada e a difusão generalizada de bens simbólicos através da transmissão e do armazenamento da informação/comunicação”[1]. A partir desta concepção é possível observar de forma clara a relação de dominação das comunicações de massa, já que esta propõe somente suas idéias, e geralmente, são centralizadas nas classes sociais mais poderosas, sejam estas, políticas, ideológicas ou detentoras de capital. No entanto, esta observação é mais válida para o período contemporâneo, visto que “o desenvolvimento do jornal e das indústrias de comunicação nos séculos XVII, XVIII e XIX foi acompanhado por tentativas constantes, da parte das autoridades de estado, de controlar, restringir e suprimir a publicação de jornais, panfletos e livros como perigosos e depravantes”[2].

Para um entendimento mais claro deste tema, vou me ater a dois pensadores da Escola de Frankfurt[3], o Theodore Adorno e o Herbert Marcuse e, mais tarde, com um envolvimento de outros autores contemporâneos. Adorno e Marcuse representam uma corrente que vai falar do caráter repressivo da sociedade moderna (totalitária), que suprime a liberdade. Sociedade está, que para Marcuse impede a crítica como pensamento livre, marcada por uma crescente racionalidade[4] funcional. Para Marcuse, as pessoas estão perdendo sua capacidade crítica e essa sociedade não só controla o tempo de trabalho dessas pessoas, como também, controla o tempo “livre”[5]. O que para Adorno é a Indústria cultural, que iremos tratar mais tarde.

Essa sociedade de Marcuse opera através da manipulação das nossas necessidades[6], ela cria necessidades para nós. A razão de fazer ou não algo, gozar ou destruir, possuir ou rejeitar algo, ser ou não tomada por necessidade depende de poder ou não ser ela vista como desejável e necessária aos interesses e instituições comuns.

“Neste sentido, as necessidades humanas são necessidades históricas e, no quanto à sociedade exija o desenvolvimento repressivo do indivíduo, as próprias necessidades individuais e o direito destas à satisfação ficam sujeitos a padrões críticos predominantes”[7].

É imposto as pessoas necessidades falsas, elas são “superimpostas ao indivíduo por interesses sociais particulares ao reprimi-lo”[8]. Estas perpetuam a labuta, a agressividade, a miséria e a injustiça. O resultado disso é a euforia na infelicidade, a maioria das necessidades comuns (de distrair, descansar, consumir) é feita de acordo com anúncios, amar e odiar o que os outros amam e odeiam, pertence a essa categoria de falsas necessidades[9]. Nesta parte da teoria de Marcuse fica clara a interferência da comunicação de massa em todo esse processo.

Sociedade está, cujo interesse maior é a repressão. Por conseguinte as pessoas perdem o controle de si mesmos, se reconhecem em suas mercadorias. Exemplo: encontram sua alma, sua felicidade em uma casa. Uma identificação indireta do indivíduo com sua sociedade. A melhor das formas de conter a libertação é a implantação das necessidades materiais e intelectuais que perpetuam formas obsoletas de luta pela existência.

Sobre a questão das necessidades, torna-se improvável saber quais são as falsas e quais são as verdadeiras. Esta resposta só pode ser dada pelo indivíduo, mas como sucinta Marcuse, apenas em última análise, só quando eles estiverem livres para dar a sua própria resposta. Como podem as pessoas que tenham sido objeto de dominação eficaz e produtiva criar elas próprias às condições de liberdade?

Para solucionar esta questão ele nos explica que, quanto mais racional, produtiva, técnica, se torna a administração repressiva da sociedade, tantos mais outros infinitos meios os indivíduos administrados poderão romper sua servidão e conquistar sua própria libertação.

“Toda libertação depende da consciência de servidão e o surgimento dessa consciência é sempre impedido pela predominância de necessidades e satisfações que se tornaram, em grande proporção, do próprio indivíduo”[10].

O objetivo desse processo é o abandono da satisfação repressiva. A liberdade para esse ente pode se tornar um poderoso instrumento de dominação. A livre escolha entre as várias mercadorias e serviços não significa liberdade se estas sustentam os controles sociais, e assim se sustentam à alienação. Está se tornou total e adquire dimensões objetivas. Os indivíduos aceitam uma situação que lhe é imposta, o sujeito que é alienado é envolto pela sua existência alienada.
Segundo Marx, a alienação é a perda da consciência do homem de sua própria humanidade e da humanidade do outro, isso se dá porque a própria história nega a imagem do indivíduo a partir das desigualdades sociais existentes.

O precondicionamento não começa com a produção em massa de rádio e televisão e com a centralização de seu controle. As pessoas já entram precondicionadas, a diferença está entre o conflito entre as necessidades dadas e as possíveis, entre as satisfeitas e insatisfeitas. Neste ponto a igualação das distinções de classe revela sua função ideológica. As formas de controle social estão ancoradas nas novas necessidades que a sociedade vai produzir.

A tese de Marcuse, a respeito da sociedade é do homem unidimensional, a “falsa consciência” de sua racionalidade se torna sua verdadeira consciência. Este sentido de absorção da ideologia pela realidade não significa o fim dela. Entretanto, como teorizou Adorno, a cultura industrial avançada é mais ideológica do que sua antecessora, visto que, nos tempos modernos, a ideologia está no próprio processo de produção. Os meios de transporte e comunicação em massa trazem consigo atitudes e hábitos prescritos, reações emocionais ou intelectuais que conseguem prender os consumidores aos produtores, e através deles o todo. “Os produtos doutrinam e manipulam”, essa doutrinação deveria ser publicidade, e passa a ser um estilo de vida. Surge assim, um padrão de comportamento unidimensional, numa sociedade que transforma o progresso científico e técnico em dominação, a serviço do poder[11].

A forma de controle ou dominação social que Adorno visualiza se da pela indústria cultural[12], termo criado pelo próprio Adorno e por Max Horkheimer, que também é um filósofo oriundo da Escola de Frankfurt. Ao fazerem a análise da atuação dos meios de comunicação de massa, esses autores concluíram que eles funcionavam como uma verdadeira indústria de produtos culturais, visando o lucro e o consumo. De acordo com Adorno, a indústria cultural vende mercadorias, no entanto, mais do que isso, vende imagens do mundo e faz propaganda deste mundo tal qual ele é para que ele assim permaneça.
Na sua análise, Adorno vai fazer uma suposta distinção entre arte superior e arte inferior. Segundo Horkheimer e Adorno, a indústria cultural pretenderia integrar os consumidores das mercadorias culturais, agindo como uma ponte nociva entre a cultura erudita e a popular. Eles vêem similaridades da industria cultural como qualquer industria, organizada em função de um público -massa (buscavam um público abstrato e homogeneizado), e baseava nas premissas da lucratividade.

A indústria cultural (termo que substituiu a de cultura de massas) é definida por Adorno como sendo a integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores. Esta industria força a união dos domínios, que estavam separados a milênios, da já citada, arte superior e arte inferior. Isso é prejudicial para os dois[13] lados, pois, ambos se tornam mercadorias. Coisa que para ele destrói a arte.

É possível pensar que, partindo dessas concepções, que a indústria cultural venderia mercadorias culturais como sabonetes ou televisões, e o público receberia esses “produtos” sem saber diferencia-los ou sem questionar seu conteúdo. Sendo assim, após uma ópera de Mozart, uma estação de rádio poderia veicular o anúncio de uma lanchonete e depois dele, noticiar um massacre ou golpe de Estado, sem nenhuma profundidade, ou discussão. É preciso observar como essa sucessão de música, propaganda e notícia ilustra o caráter fragmentário dos meios de comunicação de massa, principalmente o rádio e a televisão.

Arte superior é a arte autêntica, não mercantilizada. Já o contrário é a arte inferior. A medida em que o processo de união dos domínios avança, a industria cultural especula sobre a consciência e inconsciência de milhões de pessoas às quais ela se dirige, as massas não são um elemento primário neste processo, mas secundário, um elemento de cálculo; acessório da maquinaria. O consumidor é o objeto da indústria cultural. As massas não são a medida, mas a ideologia da indústria cultural, ainda que está última não possa existir sem a elas se adaptar.

Os meios tecnológicos tornaram possível reproduzir obras de arte em escala industrial. Para Adorno, essa produção em série (como: discos de música clássica, reproduções de pinturas renomadas) não democratizou a arte. Simplesmente banalizou-a, fazendo com que o público perdesse o senso crítico e se tornasse um consumidor passivo de todas as mercadorias anunciadas pelos meios de comunicação de massa. Neste caso, o fato de um operário assobiar, durante o seu trabalho, um trecho da sinfonia que ouviu no rádio não significaria, necessariamente, que ele estaria compreendendo a profundidade daquela obra de arte, mas apenas a memorizou, como fazia com qualquer canção sertaneja, ou até mesmo um jingle de alguma propaganda que ouvisse no mesmo rádio.

Para Adorno, a indústria cultural tem como único objetivo a dependência e a alienação dos homens. Ao maquiar o mundo nos anúncios que veicula, ela acaba seduzindo as massas para o consumo das mercadorias culturais, a fim de que elas se esqueçam da exploração que sofrem nas relações de produção. A indústria cultural estimularia, portanto, o imobilismo.

Muitos críticos consideram a visão de Adorno sobre a indústria cultural conservadora. Segundo eles, a posição dele ao dizer que a indústria cultural banalizaria a cultura erudita (denominada “alta cultura”), seria de valorizar a cultura burguesa. E não apenas isso, seria também de depreciar a cultura popular, que segundo ele, ficaria ainda mais simplificada no âmbito da indústria cultural, e a própria capacidade crítica do público, considerado mero consumidor de mercadorias culturais, produzidas industrialmente.

Para entender como as massas são a ideologia da indústria cultural é necessário um aprofundamento no significado de ideologia para vários pensadores.

Lapassale nos concebe que ao mesmo tempo em que a ideologia contém três imagens da classe dominante[14], ela ainda se representa e se define como: “... a consciência e representação que a burguesia faz de si mesma da realidade conforme a posição que ocupa e seus interesses próprios”. (Chaves da Sociologia. Rio. Paz e Terra. 1972).

Ainda mais adiante ele cita sobre as variações do termo ideologia, que muitas vezes esta associada a uma significação que parece neutra, no entanto, às vezes ela pode aparecer com uma significação depreciativa. Essas relações não deixam de estar em relação com os meios de comunicação, por exemplo: o termo ideologia será mais carregado de valor depreciativo num jornal militante do que num escrito mais teórico, mesmo que se dirija aos mesmos leitores.

Althusser nos diz que a ideologia é “... um sistema (possuidor de lógica e rigor próprios) de representações (imagens, mitos, idéias ou conceitos, conforme os casos) dotado da existência e papel históricos no seio de determinada sociedade. Sem entrar no problema das relações de uma ciência com seu passado (ideológico) dizemos que a ideologia como sistema de representações distingui-se da ciência naquilo que a função prático-social lhe tira de função teórica (ou função de conhecimento)”. (Pour Marx, Maspero. 1966).



Outro estudo clássico sobre a questão é o de K. Mannheim que sugere a definição seguinte:

“Por ideologia entendemos essas interpretações da situação que não são produtos da experiência concreta, mas uma espécie de conhecimento distorcido... dessas experiências que servem para camuflar a situação real e que atuam sobre o indivíduo como uma coerção[15]”.

Após esta breve explanação, pretendemos traçar um rápido panorama da proposta teórica de John B. Thompson. A intenção, mais do que uma análise profunda de sua obra é tentar passar algumas pistas indicadas pelo autor ao abordar a questão da ideologia e cultura moderna.

Thompson busca organizar a discussão sobre a natureza e o papel da ideologia, sua relação com a linguagem, com o poder e com o contexto social e as maneiras como essa ideologia pode ser analisada e interpretada, em casos específicos, dentro de um referencial teórico sistemático. Dá ênfase às formas e aos processos sociais dentro dos quais, e pelos quais, as formas simbólicas permeiam o mundo social. Neste sentido, ele destaca o desenvolvimento dos meios de comunicação social, que considera como a característica essencial da cultura moderna e uma dimensão central das sociedades modernas.
Para John Thompson, a mídia é fundamentalmente ideológica e cultural, ou seja, está preocupada não só com significado das formas simbólicas, mas, também, com a contextualização social das mesmas. Essas formas simbólicas estão a serviço do poder, a serviço da ideologia. "Por isso, proponho conceitualizar ideologia em termos das maneiras como o sentido mobilizado pelas formas simbólicas, serve para estabelecer e sustentar relações de dominação: estabelecer, querendo significar que o sentido pode criar ativamente e instituir relações de dominação através de um contínuo processo de produção e recepção de formas simbólicas”[16].
A tese que Thompson defende é que as instituições dos media deve ocupar um espaço entre a atuação desenfreada das forças de um mercado, de um lado, e o controle direto exercido, de outro. A isso ele chama de pluralismo regulado.

" A análise da ideologia nas sociedades modernas deve conceder à natureza e ao impacto da comunicação de massa, embora tal comunicação não seja o único local da ideologia (...) O desenvolvimento da comunicação de massa aumenta, significativamente, o raio de operação da ideologia nas sociedades modernas, pois possibilita que as formas simbólicas sejam transmitidas para audiências extensas e potencialmente amplas que estão dispersas no tempo e no espaço.(...) Não podemos analisar o caráter ideológico da comunicação de massa analisando apenas as características organizacionais das instituições da mídia ou as características das mensagens da mídia; ao contrário, as mensagens da mídia devem, também, ser analisadas em relação aos contextos e processos específicos em que elas são apropriadas pelos indivíduos que as recebem.(...) Os vários meios de comunicação de massa e a natrueza das quase-interações que esses meios possibilitam e mantêm definem parâmetros amplos dentros dos quais as mensagens assim transmitidas adquirem um caráter ideológico, mas tais meios não constituem essas mensagens como ideológicos”[17]

O autor alerta que a idéia de que os receptores de mensagens são espectadores passivos é um mito enganador que não condiz com o caráter real da apropriação, como um processo contínuo de interpretação e incorporação. Ele esclarece que o mito do receptor passivo anda junto com a falácia do internalismo, é o equivalente metodológico, do lado da recepção-apropriação, da falsa tentativa de inferir as conseqüências das mensagens apenas da estrutura e conteúdo das mesmas. Ele conclui que o objeto por si só não mobiliza sentido.
O enfoque metodológico apresentado por Thompson permite-nos ver como o conceito de ideologia pode desempenhar um papel, ainda que restrito e cuidadosamente definido, dentro de uma teoria social fundamentada na hermenêutica e orientada para a crítica, isto é, para a auto-reflexão, crítica das pessoas que formam o mundo sócio-histórico.

Lapassale exemplifica a ação da ideologia como forma de controle e propagação de idéias por meio de comunicação. Faz uma crítica a escola mostrando que ela não é só um meio de divulgação de mensagens neutras. Ela influência ideologicamente aqueles que a freqüentam, como também é a mensagem da hierarquia social, que superdetermina as demais mensagens. A simples afirmação de que a escola é neutra já é uma ideologia. A escola é uma instituição, e por sua existência e formas de organização, bem como pelas relações de formação que a caracterizam, promove a alienação e reproduz as separações da sociedade de classe.

Se os meios de comunicação de massa participam ativamente dos processos sociais como instituições legitimadas, se eles representam interesses econômicos e políticos específicos, realmente dão espaço para inquietudes.

Não há como tratar ideologia no contexto atual sem ter em conta essas instituições da formação. As ideologias não pairam por ai no mundo da abstração. São instituídas, passam pelas instituições da edição, da educação, mas também da informação de massa e da divulgação.

Depois desse breve parâmetro sobre a ideologia, voltemos para a indústria cultural de Adorno. A indústria cultural não se refere à produção, mas a padronização dos costumes e a racionalização das técnicas de distribuição. Não é propriamente uma industria, mas assimila a racionalização desta.

Conclusão

Somos levados a questionar quem e o que está participando da construção do homem como ser social e das suas relações com o mundo, já que a mídia colabora para provocar consideráveis alterações nos hábitos e atitudes, incluindo-se como elementos mediadores e também participantes. Podemos até mesmo chegar a pensar que, por mais estranho que possa parecer, houve uma inversão de papéis entre meios de comunicação e receptor. É neste caso que a mídia exerce sua influência. Na medida que agenda temas, elege pessoas para serem os atores, criam situações, constroem imagens, elaboram seu poder e afetam as relações políticas.

Marx e Engels afirmam, em A ideologia alemã, que as idéias dominantes de uma época são as idéias da classe então dominante. A partir desse pressuposto a ideologia saiu do campo de dominação do Estado (político), para outros campos, como o da comunicação (econômico). No entanto, a elite ainda faz com que seus próprios valores sejam aceitos como certos por todas as demais classes sociais, se utilizando destes novos artifícios.

Em nosso entendimento, e embasando um estudo no que foi exposto neste pequeno texto, podemos chegar à reflexão sobre o papel da comunicação de massa, tanto como forma de controle, quanto no papel da alienação que ela introjeta nas pessoas. Refletir também sobre como este indivíduo lança mão de veículos de comunicação dirigida, como jornais, boletins e revistas, e questionar se realmente estão sendo abertos canais de comunicação que estimulem processos onde emissor e receptor ocupem seus espaços de agentes sociais.
















BIBLIOGRAFIA

COHN, G. Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo. C.E.N. 1971.

LAPASSALE. G. Chaves da Sociologia. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1972.

MARCUSE, H. Ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro. Zahar. 1967.

THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna – Teoria Critica na era dos Meios de Comunicação de Massa. São Paulo. Vozes. 1995.





[1] THOMPSON, J. 1995. p. 326.
[2] THOMPSON, J. 1995. p. 324.
[3] A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924, por iniciativa de Félix Weil, filho de um grande negociante de grãos de trigo na Argentina. Antes dessa denominação tardia (só viria a ser adotada, e com reservas, por Horkheimer na década de 1950), cogitou-se o nome Instituto para o Marxismo, mas optou-se por Instituto para a Pesquisa Social. Seja pelo anticomunismo reinante nos meios acadêmicos alemães nos anos 1920-1939, seja pelo fato de seus colaboradores não adotarem o espírito e a letra do pensamento de Marx e do marxismo da época, o Instituto recém-fundado preenchia uma lacuna existente na universidade alemã quanto à história do movimento trabalhista e do socialismo. Carl Grünberg, economista austríaco, foi seu primeiro diretor, de 1923 a 1930. O órgão do Instituto era a publicação chamados Arquivos Grünberg. Horkheimer, a partir de 1931, já com título acadêmico, pôde exercer a função de diretor do Instituto, que se associava à Universidade de Frankfurt. O órgão oficial dessa gestão passou a ser a Revista para a Pesquisa Social, com uma modificação importante: a hegemonia era não mais da economia, e sim da filosofia. A Teoria Crítica realiza uma incorporação do pensamento de filósofos "tradicionais", colocando-os em tensão com o mundo presente.
[4] MARCUSE, H. Ideologia da Sociedade Industrial. 1967. p.23. “Liberdade de pensamento, liberdade de palavra e liberdade de consciência foram – assim como o livre empreendimento, que elas ajudaram a promover e proteger – idéias essencialmente críticas destinadas a substituir uma cultura material e intelectual obsoleta por outra mais produtiva e racional”.
[5] Tese que está fundamentada no texto “As novas formas de controle”, fazendo parte crucial da analise das formas de comunicação em massa.
[6] MARCUSE, H. 1967. p.26. “A intensidade, a satisfação e até o caráter das necessidades humanas, acima do nível biológico, sempre foram precondicionados”.
[7] MARCUSE, H. 1967. P.26.
[8] MARCUSE, H. 1967. p.26.
[9] “Tais necessidades têm um conteúdo e uma função sociais determinados por forças externas sôbre as quais o indivíduo não tem contrôle algum;o desenvolvimento e a satisfação dessas necessidades são heterônomos”. MARCUSE, H. 1967.
[10] MARCUSE, H. 1967. p.28.
[11] Para Marx e Engels, a classe dominante exerce violência cultural permanente sobre as classes dominadas e exploradas, e é esta a condição para que seja mantida a dominação.
[12] Não se trata de uma cultura surgindo espontaneamente das próprias massas, como de exemplo, a forma contemporânea da arte popular. Há uma completa distinção entre essa arte e a industria cultural.
[13] “A arte superior se vê frustrada de sua seriedade pela especulação sobre o efeito; a inferior perde, através de sua domesticação civilizadora, o elemento de natureza resistente e rude, que lhe era inerente enquanto o controle social não era total”. ADORNO, T. p.16-17. 1971.
[14] São elas: uma imagem de si mesma por si mesma que a enaltece (por exemplo: a burguesia é a única capaz de boa organização); uma imagem de si mesma para os outros, que a engrandece (por exemplo: a burguesia empregando seu dinheiro para o bem geral); uma imagem dos outros para ela mesma, depreciando-se (o bom e o mau trabalhador).
[15] Mannheim, K. Diagnosis of our time. Cit. por J. Gabel, art. Idéologis da Grande Encyclopédic.
[16] THOMPSON, J. 1995. p. 79.
[17] THOMPSON, J. 1995. p. 341-347.