sexta-feira, maio 13, 2011

Aos que têm(em) fome

A ilusão de saber é o artifício ilusório de ser. Não se é, se não se sabe. Mas se pensa saber, na medida em que se supõe ser.
O ardil de dialética me fez acreditar no homem, ser supremo das contradições, artefato herege dos mitos irracionais.
A narrativa do sentido se apequena em meio a intrasigência nefasta dos interesses diários.
Quem é esse ser faminto que anda pelas ruas da cidade? De que ele vive?
Em cada passo, um impulso. Sobrevivência.
Em cada casa, um conforto. Indolência.
De que será que vale o passado? Onde se esboça a imanência? Na mente ou na realidade?
Inverta as imagens, e verá que ainda continua no mesmo lugar. Desespero.

quinta-feira, maio 12, 2011

O barulho pensa?

Desde pequeno tenho atração por música e até por ruídos estranhos. Confesso que não sei bem o porquê disso. A música já foi tão central em minha vida a ponto de ser a única referência de mundo da qual eu dispunha. Vivia entorpecido por sons e por batidas. Aquilo era êxtase puro, vontade insaciável, vício descontrolado. Posicionei-me no pequeno universo de seres que seguem as composições como se fossem mensagens sagradas. E havia mesmo algo de sobrenatural naquilo tudo. Como um mantra, entoávamos cantos que só os apreciadores mais íntimos conheciam o significado. A cada show, a cada disco, era um novo impulso de um organismo vivo e autônomo que se retroalimentava. Por bons anos vivi intensamente o espírito dessa arte tão fascinante e milenar. Hoje já não tenho mais o mesmo ímpeto musical. Mas a chama persiste.
Esses sons nos trazem uma comunicação muito autêntica que estabelecemos com nós mesmos. Há um sentido subjetivo, às vezes profundo. A música pode até ser uma explicação para outras coisas. Prefiro pensá-la como uma invenção genuinamente humana, expressão da antítese da vida: um caminho fugaz no descaminho.

sexta-feira, maio 06, 2011

Sustentabilidade????



Uma discussão minimamente decente sobre esse tema não pode excluir o dano que a cultura do consumo propaga nas mentes hoje em dia. A busca por propagandas criativas gera monstruosidades como essa destacada abaixo:










Comentários da internet sobre a propaganda (Renault Fluence):
"É um absurdo uma propaganda que mostra um cara colocando fogo no próprio carro. Em tempos de vandalismo, esse é um péssimo exemplo, principalmente para as crianças que imitam tudo o que veem! Para mim as melhores propagandas são aquelas que conseguem unir beleza, encantamento e boas atitudes para a vida das pessoas. Eu penso que assim conseguem associar suas marcas a coisas legais. Agora eu associo Renault=Irresponsabilidade."


"Qual é o teu problema?Essa é uma das melhores propagandas que eu já vi...propagandas tem que ser engraçadas e chamar a atenção do público...muito criativa,perfeita!Essa propaganda não faz apologia a merda nenhuma,só pode que tu é uma bixinha que quer dar uma de crítico!"
"excelente, parabéns ao pessoal do marketing, uma das melhores propagandas de 2011"




O homem está hoje em dia fascinado pela possibilidade de comprar mais coisas, coisas melhores e, acima de tudo, coisas novas. Está sedento de consumo. O ato de comprar e consumir converteu-se em uma finalidade compulsiva e irracional, porque é um fim em si, com pouca relação com o uso ou o prazer das coisas compradas e consumidas. Comprar a última engenhoca, o último modelo de qualquer coisa que apareça no mercado, é o sonho de todos, em comparação com o que o prazer real do uso é bastante secundário. O homem moderno, caso ousasse falar claramente de sua concepção do céu, descreveria uma visão que pareceria a maior loja de departamentos do mundo, apresentando coisas e engenhocas novas, e ele entre elas com dinheiro bastante para comprá-las. Andaria boquiaberto por esse céu de engenhocas e mercadorias, sendo condição apenas a de que existisse número cada vez maior de coisas novas para ele comprar e, talvez também a de os seus vizinhos serem um pouco menos privilegiados do que ele.


Erich Fromm (1900-1980). Psicanálise da sociedade contemporânea.