segunda-feira, maio 19, 2008

Lukács e a Teoria do Romance



Bem aventurados os tempos que podem ler no céu estrelado o mapa dos caminhos que lhes estão abertos e que têm de seguir! Bem aventurados os tempos cujos caminhos são iluminados pela luz das estrelas! Para eles tudo é novo e todavia familiar; tudo significa aventura e todavia tudo lhes pertence. O mundo é vasto e contudo, nele se encontram à vontade, porque o fogo que arde na sua alma é da mesma natureza que as estrelas. O mundo e o eu, a luz e o fogo distinguem-se porque o fogo é a alma de toda a luz e todo o fogo se veste de luz. Assim não há um único ato da alma que não adquira plena significação e não venha a finalizar nesta dualidade: perfeito no seu sentido e perfeito para os sentidos: perfeito porque o seu agir se destaca dela e porque, tornando autônomo, encontra o seu próprio sentido e o traça como que em círculo à sua volta. “Filosofia”, diz Novalis, “significa propriamente nostalgia, aspiração a estar em toda parte como em sua casa”. É por isso que a filosofia, enquanto forma de vida assim como enquanto determina a forma e o conteúdo da criação literária, é sempre o sintoma de uma laceração entre o interior e o exterior, significativa de uma diferença essencial entre o eu e o mundo, de uma não-adequação entre a alma e a ação. É a razão pela qual os tempos felizes não tem filosofia, ou – o que vem a dar no mesmo – todos os homens desses tempos são filósofos, detentores do objetivo utópico de qualquer filosofia. Porque qual pode ser a tarefa da verdadeira filosofia, senão levantar essa carta arquetípica.