segunda-feira, agosto 31, 2009

Mímesis e carceragem



A masoquítica cultura de massa é o fenômeno necessário da própria produção todo-poderosa. A ocupação afetiva do valor de troca não é qualquer transubstanciação mística. Ela corresponde ao comportamento do prisioneiro que ama sua cela, porque nada mais lhe é dado amar.


Theodor W. Adorno

segunda-feira, agosto 24, 2009

No fim da tarde: pagamento


As diferenças são muitas, mas não tantas. Hoje, enquanto fui devolver alguns filmes, presenciei uma estranha situação. Estacionei na garagem da vídeolocadora e deixei minha esposa no carro. Quando cheguei ao balcão para consumar a entrega dos dvd´s perguntei ao atendente se o pagamento podia ser feito por cartão em débito. Na realidade, só mostrei o cartão para o rapaz e fiz alguns gestos. Ele entendeu o que eu queria dizer e me respondeu: “Só gerocheque. O cartão é somente para compras de dvd´s”. Pensei: “gerocheque, o que deve ser isso?”. Não perguntei nada ao funcionário da locadora. Fiquei um tanto bravo com o fato. Ao mesmo tempo, alguma coisa me consolou para que eu engolisse aquilo. Moro no RS, e aqui tudo é bem diferente de tudo que já conheci. Aqui o cartão famoso é o Banricompras do banco estatal Banrisul. Em vários lugares já vi que a única coisa que os lojistas aceitavam era o Banricompras. Mesmo assim, em quase todos os estabelecimentos pode-se comprar com qualquer cartão. No entanto, quando ouvi aquele nome incomum facilmente comparei-o ao Banricompras. Veio-me imediatamente à cabeça a idéia de que isso era mais alguma coisa típica da terra dos pampas. Estava sem nenhum ‘pila’. Fui ao carro e perguntei à minha digníssima sobre dinheiro. Disse: “ah, falaram que não aceitam cartão, só um tal de gerocheque”. Voltei ao balcão e paguei a dívida. Já no carro, minha companheira retrucou: “Não era ‘dinheiro ou cheque’ não?”.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Memórias da práxis: XI tese


A filosofia, que outrora pareceu ultrapassada, conserva-se vive porque o momento de sua realização não foi aproveitado. O juízo sumário segundo o qual ela apenas interpretou o mundo e que, por resignação ante a realidade, ter-se-ia atrofiado em si mesma, tornou-se derrotismo da razão depois que a transformação do mundo fracassou.


Theodor W. Adorno

terça-feira, agosto 18, 2009

Vêem-se artesãos, mas não pessoas; pensadores, mas não pessoas; sacerdotes, mas não pessoas; senhores e servos, jovens e gente de propriedade, mas não pessoas. Não seria isso como um campo de batalha em que mãos, braços e membros de todos os tipos estão espalhados uns entre os outros enquanto o sangue derramado de sua vida é sugado pela areia?

Friedrich Hölderlin