domingo, dezembro 05, 2004

Comunicação de massa

Este é um trabalho que fiz sobre sobre comunicação de massa no ano passado. Agora disponibilizo para quem quiser compreender sucintamente este assunto.


A mídia desempenha um papel central na construção da sociabilidade contemporânea. Dentro desse contexto os veículos de comunicação passam também a ocupar um importante espaço na compreensão do mundo. Este trabalho é um estudo sobre como a ideologia - entendida como forma de dominação - pode se manifestar nestes veículos de comunicação, para criar ou reproduzir relações assimétricas.

Palavras chaves: comunicação, ideologia, alienação, cultura.

Introdução

Sabemos hoje em dia o quanto às pessoas dependem dos veículos de comunicação de massa para construírem suas vidas. Cada vez mais a mídia, veículos de comunicação social, assumem papel de relevância no cotidiano. Por outro lado, e para levar à população a conhecer outros posicionamentos sobre os fatos, surgem, de forma crescente, uma imprensa "alternativa". Jornais de bairro, de empresas, de associações de moradores e, em especial, jornais e boletins de entidades de classe, representam os interesses específicos de categorias. Sendo assim, podemos afirmar que o fator determinante para o entendimento, racionalização e criticidade da modernidade é a comunicação. Todavia, ela será tratada neste texto ao que se refere na comunicação como forma de controle. Os meios de comunicação assumem o papel de agentes sociais. Eles abrem espaço para que os acontecimentos se desenrolem, armam a cena, e gerencia-os de acordo com interesses específicos, daqueles que dominam e hierarquizam a sociedade. Estamos num ponto onde já não sabemos quem tem mais importância nos acontecimentos. Assistimos as imagens, o relato dos fatos, e chegamos a nos sentir impotentes, mesmo não sendo. Permitimos, mesmo que inconscientemente, que a mídia assuma posições que não são as suas de direito. A função real da existência destes veículos é divulgar, tornar público os fatos que fazem parte da história que o homem, através de suas vivências constrói. Neste sentido, não só os media como também outras corporações, denominadas transnacionais, ultrapassam a dimensão exclusivamente econômica. A comunicação se não é considerado o maior, é um dos mais importantes veículos nas relações de poder, isto porque a falta de reforço da identidade do sujeito o leva a uma alienação, e esta segue uma linha da ideologia no sentido negativo. O que vai mostrar se uma idéia, ou uma instituição possui uma dimensão negativa é a maneira como é empregada. A partir destes dados e dirigindo-os para o aspecto da comunicação como forma ideológica negativa, estaremos colocando em “xeque” algumas questões como: Quais as influências que a comunicação provoca nas atitudes da sociedade? Quais as permanências, rupturas e resistências sofridas? E mais, qual a relação da comunicação com a cultura? A cultura é inimiga ou aliada à comunicação?

Comunicação de massa
Para se ter basicamente uma idéia da receptividade de um indivíduo ou uma sociedade perante a comunicação, é imprescindível não deixar de pensar nas formas de como os atinge, o termo utilizado para especificar estas formas é as “Comunicações de Massa”. Este termo já foi utilizado muitas vezes como sendo: um conjunto amplo de instituições e produtos da mídia. Porém, já foi problematizado pelo fato de que a expressão massa deriva das mensagens transmitidas pelas indústrias da mídia que são, geralmente, acessíveis a audiências relativamente grandes, sendo assim, é importante desmistificar esta expressão em termos quantitativos, pois, em outros períodos do desenvolvimento das indústrias da mídia (por exemplo, no começo) e em outros setores das industrias da mídia hoje (por exemplo, editoras de livros e revistas), eram e permanecem relativamente pequenas. Outro fator de problematização para a especificação do termo comunicações de massa seria a palavra comunicação, já que esta, implica geralmente numa transmissão de mensagem de mão única (transmissor e receptor), o que é diferente da comunicação dialógica de uma conversação, que possui o direito de resposta ativo. Por isso, seria mais apropriado falar em “transmissão” ou difusão de mensagens, em vez de comunicação como tal.
Thompson esclarece de maneira ampla, o significado de comunicação de massa como:
“A produção institucionalizada e a difusão generalizada de bens simbólicos através da transmissão e do armazenamento da informação/comunicação”[1]. A partir desta concepção é possível observar de forma clara a relação de dominação das comunicações de massa, já que esta propõe somente suas idéias, e geralmente, são centralizadas nas classes sociais mais poderosas, sejam estas, políticas, ideológicas ou detentoras de capital. No entanto, esta observação é mais válida para o período contemporâneo, visto que “o desenvolvimento do jornal e das indústrias de comunicação nos séculos XVII, XVIII e XIX foi acompanhado por tentativas constantes, da parte das autoridades de estado, de controlar, restringir e suprimir a publicação de jornais, panfletos e livros como perigosos e depravantes”[2].

Para um entendimento mais claro deste tema, vou me ater a dois pensadores da Escola de Frankfurt[3], o Theodore Adorno e o Herbert Marcuse e, mais tarde, com um envolvimento de outros autores contemporâneos. Adorno e Marcuse representam uma corrente que vai falar do caráter repressivo da sociedade moderna (totalitária), que suprime a liberdade. Sociedade está, que para Marcuse impede a crítica como pensamento livre, marcada por uma crescente racionalidade[4] funcional. Para Marcuse, as pessoas estão perdendo sua capacidade crítica e essa sociedade não só controla o tempo de trabalho dessas pessoas, como também, controla o tempo “livre”[5]. O que para Adorno é a Indústria cultural, que iremos tratar mais tarde.

Essa sociedade de Marcuse opera através da manipulação das nossas necessidades[6], ela cria necessidades para nós. A razão de fazer ou não algo, gozar ou destruir, possuir ou rejeitar algo, ser ou não tomada por necessidade depende de poder ou não ser ela vista como desejável e necessária aos interesses e instituições comuns.

“Neste sentido, as necessidades humanas são necessidades históricas e, no quanto à sociedade exija o desenvolvimento repressivo do indivíduo, as próprias necessidades individuais e o direito destas à satisfação ficam sujeitos a padrões críticos predominantes”[7].

É imposto as pessoas necessidades falsas, elas são “superimpostas ao indivíduo por interesses sociais particulares ao reprimi-lo”[8]. Estas perpetuam a labuta, a agressividade, a miséria e a injustiça. O resultado disso é a euforia na infelicidade, a maioria das necessidades comuns (de distrair, descansar, consumir) é feita de acordo com anúncios, amar e odiar o que os outros amam e odeiam, pertence a essa categoria de falsas necessidades[9]. Nesta parte da teoria de Marcuse fica clara a interferência da comunicação de massa em todo esse processo.

Sociedade está, cujo interesse maior é a repressão. Por conseguinte as pessoas perdem o controle de si mesmos, se reconhecem em suas mercadorias. Exemplo: encontram sua alma, sua felicidade em uma casa. Uma identificação indireta do indivíduo com sua sociedade. A melhor das formas de conter a libertação é a implantação das necessidades materiais e intelectuais que perpetuam formas obsoletas de luta pela existência.

Sobre a questão das necessidades, torna-se improvável saber quais são as falsas e quais são as verdadeiras. Esta resposta só pode ser dada pelo indivíduo, mas como sucinta Marcuse, apenas em última análise, só quando eles estiverem livres para dar a sua própria resposta. Como podem as pessoas que tenham sido objeto de dominação eficaz e produtiva criar elas próprias às condições de liberdade?

Para solucionar esta questão ele nos explica que, quanto mais racional, produtiva, técnica, se torna a administração repressiva da sociedade, tantos mais outros infinitos meios os indivíduos administrados poderão romper sua servidão e conquistar sua própria libertação.

“Toda libertação depende da consciência de servidão e o surgimento dessa consciência é sempre impedido pela predominância de necessidades e satisfações que se tornaram, em grande proporção, do próprio indivíduo”[10].

O objetivo desse processo é o abandono da satisfação repressiva. A liberdade para esse ente pode se tornar um poderoso instrumento de dominação. A livre escolha entre as várias mercadorias e serviços não significa liberdade se estas sustentam os controles sociais, e assim se sustentam à alienação. Está se tornou total e adquire dimensões objetivas. Os indivíduos aceitam uma situação que lhe é imposta, o sujeito que é alienado é envolto pela sua existência alienada.
Segundo Marx, a alienação é a perda da consciência do homem de sua própria humanidade e da humanidade do outro, isso se dá porque a própria história nega a imagem do indivíduo a partir das desigualdades sociais existentes.

O precondicionamento não começa com a produção em massa de rádio e televisão e com a centralização de seu controle. As pessoas já entram precondicionadas, a diferença está entre o conflito entre as necessidades dadas e as possíveis, entre as satisfeitas e insatisfeitas. Neste ponto a igualação das distinções de classe revela sua função ideológica. As formas de controle social estão ancoradas nas novas necessidades que a sociedade vai produzir.

A tese de Marcuse, a respeito da sociedade é do homem unidimensional, a “falsa consciência” de sua racionalidade se torna sua verdadeira consciência. Este sentido de absorção da ideologia pela realidade não significa o fim dela. Entretanto, como teorizou Adorno, a cultura industrial avançada é mais ideológica do que sua antecessora, visto que, nos tempos modernos, a ideologia está no próprio processo de produção. Os meios de transporte e comunicação em massa trazem consigo atitudes e hábitos prescritos, reações emocionais ou intelectuais que conseguem prender os consumidores aos produtores, e através deles o todo. “Os produtos doutrinam e manipulam”, essa doutrinação deveria ser publicidade, e passa a ser um estilo de vida. Surge assim, um padrão de comportamento unidimensional, numa sociedade que transforma o progresso científico e técnico em dominação, a serviço do poder[11].

A forma de controle ou dominação social que Adorno visualiza se da pela indústria cultural[12], termo criado pelo próprio Adorno e por Max Horkheimer, que também é um filósofo oriundo da Escola de Frankfurt. Ao fazerem a análise da atuação dos meios de comunicação de massa, esses autores concluíram que eles funcionavam como uma verdadeira indústria de produtos culturais, visando o lucro e o consumo. De acordo com Adorno, a indústria cultural vende mercadorias, no entanto, mais do que isso, vende imagens do mundo e faz propaganda deste mundo tal qual ele é para que ele assim permaneça.
Na sua análise, Adorno vai fazer uma suposta distinção entre arte superior e arte inferior. Segundo Horkheimer e Adorno, a indústria cultural pretenderia integrar os consumidores das mercadorias culturais, agindo como uma ponte nociva entre a cultura erudita e a popular. Eles vêem similaridades da industria cultural como qualquer industria, organizada em função de um público -massa (buscavam um público abstrato e homogeneizado), e baseava nas premissas da lucratividade.

A indústria cultural (termo que substituiu a de cultura de massas) é definida por Adorno como sendo a integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores. Esta industria força a união dos domínios, que estavam separados a milênios, da já citada, arte superior e arte inferior. Isso é prejudicial para os dois[13] lados, pois, ambos se tornam mercadorias. Coisa que para ele destrói a arte.

É possível pensar que, partindo dessas concepções, que a indústria cultural venderia mercadorias culturais como sabonetes ou televisões, e o público receberia esses “produtos” sem saber diferencia-los ou sem questionar seu conteúdo. Sendo assim, após uma ópera de Mozart, uma estação de rádio poderia veicular o anúncio de uma lanchonete e depois dele, noticiar um massacre ou golpe de Estado, sem nenhuma profundidade, ou discussão. É preciso observar como essa sucessão de música, propaganda e notícia ilustra o caráter fragmentário dos meios de comunicação de massa, principalmente o rádio e a televisão.

Arte superior é a arte autêntica, não mercantilizada. Já o contrário é a arte inferior. A medida em que o processo de união dos domínios avança, a industria cultural especula sobre a consciência e inconsciência de milhões de pessoas às quais ela se dirige, as massas não são um elemento primário neste processo, mas secundário, um elemento de cálculo; acessório da maquinaria. O consumidor é o objeto da indústria cultural. As massas não são a medida, mas a ideologia da indústria cultural, ainda que está última não possa existir sem a elas se adaptar.

Os meios tecnológicos tornaram possível reproduzir obras de arte em escala industrial. Para Adorno, essa produção em série (como: discos de música clássica, reproduções de pinturas renomadas) não democratizou a arte. Simplesmente banalizou-a, fazendo com que o público perdesse o senso crítico e se tornasse um consumidor passivo de todas as mercadorias anunciadas pelos meios de comunicação de massa. Neste caso, o fato de um operário assobiar, durante o seu trabalho, um trecho da sinfonia que ouviu no rádio não significaria, necessariamente, que ele estaria compreendendo a profundidade daquela obra de arte, mas apenas a memorizou, como fazia com qualquer canção sertaneja, ou até mesmo um jingle de alguma propaganda que ouvisse no mesmo rádio.

Para Adorno, a indústria cultural tem como único objetivo a dependência e a alienação dos homens. Ao maquiar o mundo nos anúncios que veicula, ela acaba seduzindo as massas para o consumo das mercadorias culturais, a fim de que elas se esqueçam da exploração que sofrem nas relações de produção. A indústria cultural estimularia, portanto, o imobilismo.

Muitos críticos consideram a visão de Adorno sobre a indústria cultural conservadora. Segundo eles, a posição dele ao dizer que a indústria cultural banalizaria a cultura erudita (denominada “alta cultura”), seria de valorizar a cultura burguesa. E não apenas isso, seria também de depreciar a cultura popular, que segundo ele, ficaria ainda mais simplificada no âmbito da indústria cultural, e a própria capacidade crítica do público, considerado mero consumidor de mercadorias culturais, produzidas industrialmente.

Para entender como as massas são a ideologia da indústria cultural é necessário um aprofundamento no significado de ideologia para vários pensadores.

Lapassale nos concebe que ao mesmo tempo em que a ideologia contém três imagens da classe dominante[14], ela ainda se representa e se define como: “... a consciência e representação que a burguesia faz de si mesma da realidade conforme a posição que ocupa e seus interesses próprios”. (Chaves da Sociologia. Rio. Paz e Terra. 1972).

Ainda mais adiante ele cita sobre as variações do termo ideologia, que muitas vezes esta associada a uma significação que parece neutra, no entanto, às vezes ela pode aparecer com uma significação depreciativa. Essas relações não deixam de estar em relação com os meios de comunicação, por exemplo: o termo ideologia será mais carregado de valor depreciativo num jornal militante do que num escrito mais teórico, mesmo que se dirija aos mesmos leitores.

Althusser nos diz que a ideologia é “... um sistema (possuidor de lógica e rigor próprios) de representações (imagens, mitos, idéias ou conceitos, conforme os casos) dotado da existência e papel históricos no seio de determinada sociedade. Sem entrar no problema das relações de uma ciência com seu passado (ideológico) dizemos que a ideologia como sistema de representações distingui-se da ciência naquilo que a função prático-social lhe tira de função teórica (ou função de conhecimento)”. (Pour Marx, Maspero. 1966).



Outro estudo clássico sobre a questão é o de K. Mannheim que sugere a definição seguinte:

“Por ideologia entendemos essas interpretações da situação que não são produtos da experiência concreta, mas uma espécie de conhecimento distorcido... dessas experiências que servem para camuflar a situação real e que atuam sobre o indivíduo como uma coerção[15]”.

Após esta breve explanação, pretendemos traçar um rápido panorama da proposta teórica de John B. Thompson. A intenção, mais do que uma análise profunda de sua obra é tentar passar algumas pistas indicadas pelo autor ao abordar a questão da ideologia e cultura moderna.

Thompson busca organizar a discussão sobre a natureza e o papel da ideologia, sua relação com a linguagem, com o poder e com o contexto social e as maneiras como essa ideologia pode ser analisada e interpretada, em casos específicos, dentro de um referencial teórico sistemático. Dá ênfase às formas e aos processos sociais dentro dos quais, e pelos quais, as formas simbólicas permeiam o mundo social. Neste sentido, ele destaca o desenvolvimento dos meios de comunicação social, que considera como a característica essencial da cultura moderna e uma dimensão central das sociedades modernas.
Para John Thompson, a mídia é fundamentalmente ideológica e cultural, ou seja, está preocupada não só com significado das formas simbólicas, mas, também, com a contextualização social das mesmas. Essas formas simbólicas estão a serviço do poder, a serviço da ideologia. "Por isso, proponho conceitualizar ideologia em termos das maneiras como o sentido mobilizado pelas formas simbólicas, serve para estabelecer e sustentar relações de dominação: estabelecer, querendo significar que o sentido pode criar ativamente e instituir relações de dominação através de um contínuo processo de produção e recepção de formas simbólicas”[16].
A tese que Thompson defende é que as instituições dos media deve ocupar um espaço entre a atuação desenfreada das forças de um mercado, de um lado, e o controle direto exercido, de outro. A isso ele chama de pluralismo regulado.

" A análise da ideologia nas sociedades modernas deve conceder à natureza e ao impacto da comunicação de massa, embora tal comunicação não seja o único local da ideologia (...) O desenvolvimento da comunicação de massa aumenta, significativamente, o raio de operação da ideologia nas sociedades modernas, pois possibilita que as formas simbólicas sejam transmitidas para audiências extensas e potencialmente amplas que estão dispersas no tempo e no espaço.(...) Não podemos analisar o caráter ideológico da comunicação de massa analisando apenas as características organizacionais das instituições da mídia ou as características das mensagens da mídia; ao contrário, as mensagens da mídia devem, também, ser analisadas em relação aos contextos e processos específicos em que elas são apropriadas pelos indivíduos que as recebem.(...) Os vários meios de comunicação de massa e a natrueza das quase-interações que esses meios possibilitam e mantêm definem parâmetros amplos dentros dos quais as mensagens assim transmitidas adquirem um caráter ideológico, mas tais meios não constituem essas mensagens como ideológicos”[17]

O autor alerta que a idéia de que os receptores de mensagens são espectadores passivos é um mito enganador que não condiz com o caráter real da apropriação, como um processo contínuo de interpretação e incorporação. Ele esclarece que o mito do receptor passivo anda junto com a falácia do internalismo, é o equivalente metodológico, do lado da recepção-apropriação, da falsa tentativa de inferir as conseqüências das mensagens apenas da estrutura e conteúdo das mesmas. Ele conclui que o objeto por si só não mobiliza sentido.
O enfoque metodológico apresentado por Thompson permite-nos ver como o conceito de ideologia pode desempenhar um papel, ainda que restrito e cuidadosamente definido, dentro de uma teoria social fundamentada na hermenêutica e orientada para a crítica, isto é, para a auto-reflexão, crítica das pessoas que formam o mundo sócio-histórico.

Lapassale exemplifica a ação da ideologia como forma de controle e propagação de idéias por meio de comunicação. Faz uma crítica a escola mostrando que ela não é só um meio de divulgação de mensagens neutras. Ela influência ideologicamente aqueles que a freqüentam, como também é a mensagem da hierarquia social, que superdetermina as demais mensagens. A simples afirmação de que a escola é neutra já é uma ideologia. A escola é uma instituição, e por sua existência e formas de organização, bem como pelas relações de formação que a caracterizam, promove a alienação e reproduz as separações da sociedade de classe.

Se os meios de comunicação de massa participam ativamente dos processos sociais como instituições legitimadas, se eles representam interesses econômicos e políticos específicos, realmente dão espaço para inquietudes.

Não há como tratar ideologia no contexto atual sem ter em conta essas instituições da formação. As ideologias não pairam por ai no mundo da abstração. São instituídas, passam pelas instituições da edição, da educação, mas também da informação de massa e da divulgação.

Depois desse breve parâmetro sobre a ideologia, voltemos para a indústria cultural de Adorno. A indústria cultural não se refere à produção, mas a padronização dos costumes e a racionalização das técnicas de distribuição. Não é propriamente uma industria, mas assimila a racionalização desta.

Conclusão

Somos levados a questionar quem e o que está participando da construção do homem como ser social e das suas relações com o mundo, já que a mídia colabora para provocar consideráveis alterações nos hábitos e atitudes, incluindo-se como elementos mediadores e também participantes. Podemos até mesmo chegar a pensar que, por mais estranho que possa parecer, houve uma inversão de papéis entre meios de comunicação e receptor. É neste caso que a mídia exerce sua influência. Na medida que agenda temas, elege pessoas para serem os atores, criam situações, constroem imagens, elaboram seu poder e afetam as relações políticas.

Marx e Engels afirmam, em A ideologia alemã, que as idéias dominantes de uma época são as idéias da classe então dominante. A partir desse pressuposto a ideologia saiu do campo de dominação do Estado (político), para outros campos, como o da comunicação (econômico). No entanto, a elite ainda faz com que seus próprios valores sejam aceitos como certos por todas as demais classes sociais, se utilizando destes novos artifícios.

Em nosso entendimento, e embasando um estudo no que foi exposto neste pequeno texto, podemos chegar à reflexão sobre o papel da comunicação de massa, tanto como forma de controle, quanto no papel da alienação que ela introjeta nas pessoas. Refletir também sobre como este indivíduo lança mão de veículos de comunicação dirigida, como jornais, boletins e revistas, e questionar se realmente estão sendo abertos canais de comunicação que estimulem processos onde emissor e receptor ocupem seus espaços de agentes sociais.
















BIBLIOGRAFIA

COHN, G. Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo. C.E.N. 1971.

LAPASSALE. G. Chaves da Sociologia. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1972.

MARCUSE, H. Ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro. Zahar. 1967.

THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna – Teoria Critica na era dos Meios de Comunicação de Massa. São Paulo. Vozes. 1995.





[1] THOMPSON, J. 1995. p. 326.
[2] THOMPSON, J. 1995. p. 324.
[3] A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924, por iniciativa de Félix Weil, filho de um grande negociante de grãos de trigo na Argentina. Antes dessa denominação tardia (só viria a ser adotada, e com reservas, por Horkheimer na década de 1950), cogitou-se o nome Instituto para o Marxismo, mas optou-se por Instituto para a Pesquisa Social. Seja pelo anticomunismo reinante nos meios acadêmicos alemães nos anos 1920-1939, seja pelo fato de seus colaboradores não adotarem o espírito e a letra do pensamento de Marx e do marxismo da época, o Instituto recém-fundado preenchia uma lacuna existente na universidade alemã quanto à história do movimento trabalhista e do socialismo. Carl Grünberg, economista austríaco, foi seu primeiro diretor, de 1923 a 1930. O órgão do Instituto era a publicação chamados Arquivos Grünberg. Horkheimer, a partir de 1931, já com título acadêmico, pôde exercer a função de diretor do Instituto, que se associava à Universidade de Frankfurt. O órgão oficial dessa gestão passou a ser a Revista para a Pesquisa Social, com uma modificação importante: a hegemonia era não mais da economia, e sim da filosofia. A Teoria Crítica realiza uma incorporação do pensamento de filósofos "tradicionais", colocando-os em tensão com o mundo presente.
[4] MARCUSE, H. Ideologia da Sociedade Industrial. 1967. p.23. “Liberdade de pensamento, liberdade de palavra e liberdade de consciência foram – assim como o livre empreendimento, que elas ajudaram a promover e proteger – idéias essencialmente críticas destinadas a substituir uma cultura material e intelectual obsoleta por outra mais produtiva e racional”.
[5] Tese que está fundamentada no texto “As novas formas de controle”, fazendo parte crucial da analise das formas de comunicação em massa.
[6] MARCUSE, H. 1967. p.26. “A intensidade, a satisfação e até o caráter das necessidades humanas, acima do nível biológico, sempre foram precondicionados”.
[7] MARCUSE, H. 1967. P.26.
[8] MARCUSE, H. 1967. p.26.
[9] “Tais necessidades têm um conteúdo e uma função sociais determinados por forças externas sôbre as quais o indivíduo não tem contrôle algum;o desenvolvimento e a satisfação dessas necessidades são heterônomos”. MARCUSE, H. 1967.
[10] MARCUSE, H. 1967. p.28.
[11] Para Marx e Engels, a classe dominante exerce violência cultural permanente sobre as classes dominadas e exploradas, e é esta a condição para que seja mantida a dominação.
[12] Não se trata de uma cultura surgindo espontaneamente das próprias massas, como de exemplo, a forma contemporânea da arte popular. Há uma completa distinção entre essa arte e a industria cultural.
[13] “A arte superior se vê frustrada de sua seriedade pela especulação sobre o efeito; a inferior perde, através de sua domesticação civilizadora, o elemento de natureza resistente e rude, que lhe era inerente enquanto o controle social não era total”. ADORNO, T. p.16-17. 1971.
[14] São elas: uma imagem de si mesma por si mesma que a enaltece (por exemplo: a burguesia é a única capaz de boa organização); uma imagem de si mesma para os outros, que a engrandece (por exemplo: a burguesia empregando seu dinheiro para o bem geral); uma imagem dos outros para ela mesma, depreciando-se (o bom e o mau trabalhador).
[15] Mannheim, K. Diagnosis of our time. Cit. por J. Gabel, art. Idéologis da Grande Encyclopédic.
[16] THOMPSON, J. 1995. p. 79.
[17] THOMPSON, J. 1995. p. 341-347.

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