quarta-feira, julho 21, 2010

Enigmas do conceito

"Há um engodo presente em todo ato de definir: através do conceito é fixado algo a respeito da coisa que facilita seu manejo, por isso nem sujeito nem objeto podem ser reduzidos à sua definição, há sempre algo que fica de fora. Definir é delimitar, impor limites à coisa para que se torne assimilável conceitualmente. O conceito é necessário, mas não se deve pensá-lo como o espaço dentro do qual tudo se encaixará e aparecerá de modo claro à compreensão. A pretensão de definição de subsumir em si um objeto deve cessar para garantir sua própria validade. Até porque, como bem nota Adorno, em Terminologia filosófica, o procedimento da definição não é suficiente à filosofia, já que os próprios conceitos modificam-se (Adorno, 1973d, p.9). Graças à dialética, o conceito é possível, sem decidir-se por uma rigidez parcial que acabe, por ver a verdade apenas no particular ou apenas no universal. Se a questão não é eliminar a definição - pois, mesmo sendo falta de liberdade, ela é necessária ao pensar - deve-se propô-la de modo dialético"
(TIBURI, Márcia. Metamorfoses do conceito: ética e dialética negativa em Theodor Adorno. UFRGS, 2005, p. 122).