segunda-feira, dezembro 13, 2004

ALIMENTAÇÃO E OBESIDADE

Enquanto não acho o livro de José Roiz para comprar, vou deixando alguns trechos dele aqui no blog. O cara era sensassional, pena que já morreu, mas o velho diz coisas impressionantes. O livro dele, "Esporte Mata", foi censurado e não pode ser publicado. Agora a Caros Amigos corre atrás e tenta publicá-lo denovo. Vamos ver no que dá. Na realidade eu to meio por fora disso, mas vou ligar lá na editora Casa Amarela.

O doutor José Róiz apresenta neste texto as duas razões que levam a pessoa a engordar demais, propõe uma dieta inteligente e coloca o sal das refeições na condição de veneno

Escutei pela televisão que 40 por cento dos brasileiros têm excesso de peso. Em outros países essa porcentagem deve ser maior ainda. Qual a verdadeira causa disso? Sabemos que tudo tem um princípio e um fim. O início deve estar na ingestão excessiva de alimentos. Se não houvesse esse fator, jamais poderia haver excesso de peso. Mas por que se ingerem alimentos demais? Deve haver algum motivo. Na minha opinião, existe até mais de um, ou melhor, dois: o paladar agradável e a frustração. Sim, a frustração. Não conseguimos vencer em determinada circunstância ou a vitória está demorando a chegar. Então apelamos para as guloseimas ou por diferentes pratos realmente deliciosos para compensar a derrota ou para aguardar o êxito com ansiedade.
Caímos num buraco e somente a reeducação alimentar é capaz de nos fazer sair dele. Mas não é fácil essa empreitada, porque são muitas as guloseimas e inúmeros os pratos realmente excelentes. Colocar esparadrapo na boca pode tornar-nos neuróticos, isto é, ansiosos para continuar ingerindo o que julgamos ser de bom paladar e recusar fazê-lo porque sabemos que isso pode aumentar mais ainda nosso excesso de peso.
E se fossem eliminados todos os livros de culinária e fechadas todas as confeitarias? Seria uma solução, mas quem colocaria o guizo no pescoço do gato?!
Devemos saber que o excesso de peso sobrecarrega o coração e condiciona o aparecimento de muitas doenças.
Não viemos ao mundo só para comer. Pelo contrário, devemos comer apenas para viver. Aliás, hoje devemos ingerir menos alimentos do que ontem. Isso deve ser feito porque, à medida que envelhecemos, nosso coração também envelhece, isto é, tem sua capacidade diminuída e, nessas condições, é conveniente que haja menos tecidos para ele nutrir, isto é, que ele tenha menos trabalho para realizar.
Até a idade de 25 anos, o jovem ainda está crescendo e se desenvolvendo, isto é, formando mais tecidos; porém, se ele ingerir excesso de alimentos, possivelmente sobrará algum para aumentar o número de células adiposas, tornando sua reserva de gordura mais acentuada, uma preocupação a mais para fazê-la voltar às dimensões da normalidade, o que nem sempre é conseguido. Assim, também o jovem deve evitar a ingestão excessiva de alimentos.
Nosso comentário sobre a diminuição progressiva da capacidade do coração, depois da idade de 25 anos, tem muita relação com a necessária diminuição de peso à medida que os anos passam. Até os 25 anos, o peso pode ser igual à altura, isto é, indivíduo que tenha, por exemplo, 1,78 metro pode pesar 78 quilos. Dos 25 aos 30 anos, o peso deve ser menor e, depois dos 30 anos, menor ainda. Para saber o peso ideal, supondo que sua altura é de 1,78 metro, faça a seguinte operação: 78 - 50 = 28; 3/4 de 28 = 21; 50 + 21 = 71. Com 1,78 metro, o peso aos 30 anos deve ser 71 quilos.
O intervalo longo demais entre o almoço e o jantar aumenta muito a produção de glicocorticóide e eleva a quantidade de várias substâncias no sangue. Além desse grande inconveniente, existe outro talvez mais grave ainda, que é a queda da glicose no sangue e no centro da fome, despertando muito apetite, levando o indivíduo a ingerir excesso de alimento. O excesso de fome leva-o a ingerir repetidas garfadas em curto intervalo de tempo. Mal começou a absorção dos alimentos e já está chegando mais alimento ao estômago. Assim, exageradamente, ele come duas a três vezes mais do que o necessário. O resultado disso não pode ser outro senão o excesso de peso.
Se o indivíduo ingerisse pequenas porções de alimento a cada duas horas e meia, a glicose se elevaria no sangue, eliminaria a fome, estimularia a produção de insulina, que impediria a elevação de muitas substâncias no sangue.
Todos os animais fazem repouso após a alimentação. Alimentando-se a cada duas horas e meia, não há necessidade de fazer a sesta, porque ficou dividido por sete pequenas refeições o que geralmente é feito em duas grandes refeições.
O problema agora é o sal. Ele é muito reduzido na dieta que recomendamos a seguir e que contém uma refeição comum de 250 gramas, que possui sal e encerra aproximadamente 1.000 calorias. A alimentação de cada dia seria do seguinte modo: café ou café com leite e um pãozinho com manteiga às 7 horas; uma fruta às 9 horas; às 12 horas, refeição contendo sal (feijão com arroz e um pedaço de carne, frango ou peixe, ou então macarrão ou só arroz com um pedaço de carne); uma fruta a cada duas horas e meia, até as 22 horas. A refeição contendo sal poderia ser deslocada para as 19h30.
Ao fazer essa dieta, sugerimos não se preocupar com o peso. Se aumentar um pouco depois de um mês, reduza a ingestão de frutas no mês seguinte.
A ingestão de apenas 250 gramas de uma refeição salgada deve diminuir bastante a ingestão desse veneno muito grande e que tem o pequeno nome, quase inocente, de sal.
Quanto ao problema social dos aniversários, onde se servem muitos salgados, não deixe de saboreá-los. O problema é só não ingerir demais. Aliás, isso possivelmente você não o fará porque já percebeu (pela percepção mesmo), que eles não são mais tão apetitosos como eram antes.
Com essa dieta já houve redução de 75 por cento na ingestão de sal. Daqui para a frente, você tem três opções: primeiro, continuar com essa mesma dieta; segundo, depois do sexto mês, substituir 50 por cento do feijão com arroz ou macarrão por frutas e as distribuir entre as outras refeições; terceiro, depois do nono mês, substituir o restante de feijão com arroz ou macarrão por frutas e distribuir a metade entre as refeições de frutas. Conservar a ingestão do pedaço de carne ou peixe ou o substituir por 125 gramas de queijo branco.
Assim, você fica livre definitivamente do sal que ajuda a condimentar nossa alimentação desde a época neolítica, há mais de 10.000 anos! Como “sem sal” há mais de 42 anos.
Se aparecer alguma cãibra, como deve acontecer, não se preocupe. É suficiente massagear o local.
No início, a gente fica meio trôpego, tropeçando com freqüência, Isso acontece porque já estávamos acostumados com o veneno. Não se assuste, vá em frente. Tudo passará e você deve ficar até mais inteligente, como aconteceu comigo, que aos 81 anos ainda estou pretendendo ensinar alguma coisa aos outros.


José Róiz é médico e autor do livro Esporte Mata.

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