domingo, janeiro 30, 2005

Iraque: seqüestros como chantagens invertidas

por Luis Fernando Novoa Garzon

Só posso ser um conspiracionista, já que não consigo compartilhar da credulidade estupidificada, indispensável para absorver notícias "oficiais" repassadas pelas forças de ocupação. Quem acredita na "verdade" de um dos lados de qualquer guerra já assumiu seu lado nela. Em se tratando de uma guerra imaginária, então, os dois lados compõem objetivamente a mesma mentira. Na falta de armas de destruição em massa, é preciso corporificar o risco Iraque incrementando o terrorismo no interior de suas fronteiras. A resistência iraquiana é inflada artificialmente para justificar a invasão. As “operações terroristas” ocorrem debaixo dos narizes das forças armadas mais bem equipadas do mundo, em território totalmente esquadrinhado, ou seja, potencialmente sob controle.
Seqüestros de civis inocentes servem exatamente para confirmar essa adesão incondicional e paranóica. A captura de empresários e executivos que trabalham na reconstrução do Iraque, somada à sabotagem de suas instalações, constitui uma chantagem ainda mais específica. A segurança para usufruir das reservas petrolíferas do país e para abocanhar os polpudos contratos com o governo norte-americano deve vir, literalmente, a qualquer custo.
Os governos da Itália, da Inglaterra e da Austrália esvaziaram as manifestações populares contra o envio de suas tropas ao Iraque com a repercussão de seguidos seqüestros de seus nacionais. Os seqüestros, alguns seguidos de decapitações espetacularizadas em vídeos de autoria duvidosa, são meras peças de propaganda de guerra. O inimigo virtual que pode tudo em qualquer momento requer, exige, conclama, para enfrentá-lo, um grande amigo com atributos simétricos.
Não há imprensa, nem polícia, nem Judiciário independentes operando no Iraque. Qualquer informação, investigação ou diligência que de lá provenha passa antes pelo crivo e planejamento da coalizão imperial. Por isso, ao deparar com notícias assim padronizadas, respire fundo, não pense, engula tudo de uma vez: "O brasileiro desapareceu na última quarta-feira (19), depois de uma ação atribuída às Brigadas Mujahidin e ao Exército de Ansar al Sunna, ligado à Al Qaeda, teriam interceptado um comboio da empresa Janusian Security Risk Management, que presta serviços de segurança à Odebrecht no Iraque. Na ação, um britânico e um iraquiano foram mortos, segundo informações do Exército dos Estados Unidos”. O próximo passo é dar carta branca para o time dos "azuis". Coerentemente anuir com o processo de ocupação permanente do Iraque como cabeça-de-ponte regional. Os "vermelhos" são os "cruéis terroristas islâmicos", na verdade especializados quintas-colunas, comandos clandestinos infiltrados entre a população para incriminá-la. Claro, sou conspiracionista, sim. Racional e lógico deve ser quem acredita que há um exército de fanáticos combatentes islâmicos, espalhados em células pelo planeta, com a missão apocalíptica de destruir a civilização ocidental.

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