quarta-feira, janeiro 26, 2005

DAVOS / PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL

Partido desistiu de proteger presidente de manifestações contrárias ao governo; para Genoino, críticas devem ser vistas com naturalidade.
O PT considera "impossível" evitar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja vaiado em sua passagem pelo 5º Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, que começa hoje. Na tentativa de "blindar" o presidente, a estratégia do partido deverá ser contrabalançar "a turma da vaia com a do aplauso", segundo a definição de um líder petista.
Lula chega a Porto Alegre na noite de hoje e participa amanhã de um evento contra a pobreza no Ginásio de Esportes Gigantinho, com capacidade para 15 mil pessoas. Na impossibilidade de poupar Lula de gritos e assovios de desagrado, o partido irá reforçar a camada de suporte ao presidente com maior número de autoridades governistas, partidários e apoiadores na platéia.
A direção do partido chegou a discutir uma estratégia para diminuir a exposição do presidente, mas decidiu apostar no discurso da "pluralidade e democracia" do fórum, que permitiria vaias.
Em 2003, Lula participou do fórum cerca de um mês após assumir a Presidência. Foi ovacionado até ao falar de sua ida ao Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Dois anos depois, além do desgaste do governo e pela condução de política econômica dura, Lula deverá ser cobrado por ter chamado o fórum de "feira ideológica" no ano passado.
Enfrentará também a insatisfação de grupos historicamente ligados ao PT.
Sua ida a Porto Alegre chegou até mesmo a ser questionada. Foi confirmada após a análise de que seria ruim para a imagem do presidente ir a Davos, sem passar pelo seu contraponto.
Nas pouco mais de 12 horas que ficará na cidade, o presidente deverá se restringir ao tema do combate à pobreza, participando do lançamento da campanha "Global Call to Action Against Poverty" (Chamado Global para Ação contra a Pobreza), movimento de organizações civis para cobrar ações contra a pobreza.

Naturalidade
O presidente nacional do PT, José Genoino, diz que as vaias "não preocupam" e devem ser encaradas com naturalidade. "O fórum é democrático, pluralista. O PT respeita o fórum", disse.Genoino acredita que a passagem de Lula por todas as edições anteriores do evento no Brasil será reconhecida pelos participantes. "O presidente Lula é uma liderança democrática."Para Genoino, manifestações "respeitosas" são parte da liberdade que um evento como o fórum social permite. O petista espera apenas que o público evite atitudes "grosseiras ou violentas", como à que o próprio Genoino foi vítima em 2003. Na última edição do fórum no Brasil, Genoino foi atingido no rosto, durante uma entrevista coletiva, por uma torta atirada por uma ativista contrária à política econômica do governo.
A coordenação do fórum não programou, para hoje, uma solenidade de abertura com a presença dos anfitriões -prefeito, governador e presidente- e seus representantes e políticos. Diferentemente do que ocorreu antes, este quinto fórum terá apenas a tradicional marcha de abertura.
A decisão pode ser vista como uma estratégia para evitar manifestações partidárias na abertura de um evento que se propõe paragovernamental. Segundo Francisco Whitaker, do Secretariado Internacional do fórum social, o evento é da sociedade civil, e "o máximo que os governantes podem fazer é nos receber".
A inexistência da solenidade deixa de fora também os atuais anfitriões -o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS), e o governador Germano Rigotto (PMDB), não-afinados com a coordenação do fórum e que pouco participarão do evento. (tirado da Folha da São Paulo)

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