sábado, outubro 30, 2004

A rotatória do marechal


que obediência civil

Para quem não sabe, esse ai é o Castelo Branco. Ele já foi presidente na época da ditadura militar. Hoje ele reside na rotatória da avenida Maringá com a Castelo Branco. Parece que ele é um homem muito bucólico e adora ficar camuflado no meio das árvores. Coisa que não se remete somente a ele, outras "celebridades"de cobre da política estão esquecidas pela população londrinense. Mas o marechal não reclama muito disso não, enquanto eu o visitava, ele dizia estar muito velho para ser notado.
Não é somente o ditador que está deixado de lado, outros personagens estão obsoletos e também foram taxados de "antiquados". A cidade não quer mais se lembrar deles. Ela, como também o nosso cérebro, modela o que queremos nos lembrar e o que queremos esquecer. A sociedade londrinense, assim como o brasileira, não quer saber do seu passado, não quer abrir os arquivos. Assim como os monumentos, os arquivos também estão apodrecendo na lixeira da nossa consciência.
A "ilustre" estátua que me observa todo dia no caminho da UEL está esquecida. Poucos dos alunos que passam por ali reconhecem a figura maligna que ali se apresenta. E por que será que ela está ali? Perguntem para o Belinati, foi ele que a colocou lá.
O problema do abandono e do esquecimento não é apresentado somente aqui em Londrina, a falta de memória histórica é generalizada. Não me refiro nesta memória somente a parte de patrimônio, mas de toda cultura em si. Lá na rotatória do marechal não consta nem uma plaquinha, não há nenhum dado sobre este monumento. Não quero aqui enaltecer a ditadura, muito pelo contrário. A história que passa ali por aquela rotatória deveria ser contada partindo da verdadeira interpretação dos fatos. Deveria haver uma reforma estrutural nas maneiras de representações simbólicas. Uma delas poderia ser a democratização da constituição das estátuas e monumentos. As classes dominantes não seriam as únicas a se beneficiar desta forma de status e prestígio.
O mais engraçado, é que a maioria das estátuas da cidade fogem totalmente da realidade local. Isso é confirmado seguindo a avenida Catelo Branco até a sua outra rotatótia. Lá se encontra a praça da paz, e quem reside lá é o líder da desobediência civil: o Gandhi. Esse grande paradoxo entre a rotatória do marechal e a do libertador é apenas uma das excêntricas características de Londrina. No entanto, enquanto o marechal que foi construído no outro mandato está quase virando um tronco no meio de tantas árvores, o Gandhi que foi colocado pela atual administração está livre, leve e solto. É mais uma das características que demonstram como a memória é construída, coisas são esquecidas, há um aparthaid histórico.
Voltando ao marechal, sua única birra é com o Mahatma. Ele morre de inveja do indiano. E também não seria para pouco, o Gandhi é mais do que cultuado nas imediações da UEL, existem dois bustos do figura. Todavia, devido a toda pacificidade do Mahatma e sua prática de não agressão está resultando em muitas piadas com o homem sagrado. Quase todo dia o busto dele recebe "honrosas homenagens". A criatividade dos adereços deixa o Mahatma sempre por dentro das novidades, na época das Olimpíadas por exemplo eram medalhas. Mas algumas brincadeiras mais ignorantes estão deixando o santo sem paciência(e olha que ele tem de sobra), tintas e macumbas fazem parte desta listas. A única inveja que o Gandhi sente do Marechal é que o ex-presidente está esculpido de pé, e também está bem imponente e bem mais alto do que o real tamanho do marechal(como vocês podem ver na foto, ele tem quase o meu tamanho). Mas, fora essa pequena particularidade o Mahatma sente forte repúdio do seu companheiro de avenida.

Nenhum comentário: