sexta-feira, junho 17, 2005

LULA E OS 40 MIL DA DASLU

A Carta Capital vai suprir a minha carente oferta de palavras. Não está fácil. Entre esses dias foi tanta correria que mal posso pensar em algo para escrever neste blog. Um outro problema também é o fato de que eu não tenho mais conexão via cabo. Ficar acordado até as tantas é um prazer pra mim, mas ultimamente não tem rendido muitos frutos. No entanto, pela motivação de algumas pessoas da sala, e também, pelo interesse intelectual delas em escrever e desenvolver problemáticas contemporâneas, eu vejo que auxílio e vontade são coisas que não vão faltar. Ao pensar nisso resolvi criar um outro espaço mais amplo e dinâmico, com mais discussões e mais novidades. É claro que isso não vai ser desenvolvido imediatamente, até porque eu não conheço muito bem o mundo do html. Mas, o importante é que agora eu acho que a coisa vai (rsrsrs), e, se ela for mesmo, vai ser muito massa. Eu, o André e a Tathi estamos envolvidos nisso, quem mais se interessar entre em contato. E, sem mais delongas, vamos para o texto de Mino Carta: (uma pequena observação, eu tirei algumas partes do texto por achar altamente contemplativo a nova política do Lula, mas de resto está tudo beleza. Estou meio sem tempo para colocar outras coisas. Coloco este texto por falta de assunto mesmo. As fotos foram escolhidas e montadas por sugestão pessoal.)

A denúncia do mensalão é detalhe do jogo sujo de sempre. Resta saber, de fato, se o governo esteve à altura das esperanças que o elegeram. E se democracia e regime presidencial são viáveis neste Brasil ainda medieval

por Mino Carta

Políticos, jornalistas, freqüentadores de bares finos, e nem tanto, usam larga e desabridamente a palavra governabilidade. Em relação a ela, sacerdotes do castiço manifestam dúvidas. Proponho outra, não sem ousadia: viabilidade. Soa-me adequada, nesta hora incerta.
Viabilidade do sistema político. Do sistema de poder. Do próprio sistema de vida do povo brasileiro, entendido na sua totalidade, sem distinções socioeconômicas.
E lá vem o enredo embolorado do mensalão. Haverá de cair o nosso queixo? Teremos de escancarar os olhos como vilões de cinema mudo? Desde que provado, e ainda cabe fazê-lo, o mensalão é tão natural na vida parlamentar verde-amarela quanto a morte do ser humano. Fernando Henrique Cardoso, príncipe do lugar-comum, diria que o buraco é mais embaixo.

Não menos vezeira a hipocrisia de quem é mestre no assunto, e finge a primazia ética, quando não a santidade. O que está em jogo é, de verdade, a repetição do entrecho, condimentado pela má-fé e pelo ardil, pelo golpe baixo e a punhalada nas costas. E a cada novo ato da peça infindável, tragicomédia creio eu, o Brasil afunda.
Donde, o dilema. É viável a pretensão democrática em um país tão desigual, vice-campeão mundial em má distribuição de renda? É viável o presidencialismo se, em lugar de partidos, há clubes, e a polarização do debate em torno de um consistente projeto de progresso e bem-estar geral é substituída pela ambição do poder pelo poder?

Em 1961 foi tentada a solução parlamentarista, como sabemos (ou não lembramos?), imposta de cima para baixo, igual a tantas coisas mais, e foi o desastre. Mas seria hoje também, nas circunstâncias. Nelas, não há sistema de governo que resista.
É viável a justa, salutar aspiração à igualdade em um país em que a mídia se empenha, com raríssimas exceções, a vender ilusões e a manipular consciências? É viável a maioridade da nação enquanto a sua elite imita os emires e, a enfrentar a criminalidade crescente, contrata pistoleiros e dobermans, e ergue muralhas em torno das suas vivendas, inspiradas, eventualmente, na casa de Branca de Neve ou de Scarlett O’Hara?

E é viável a esperança em um futuro melhor se a chamada elite exaspera a predação e atira ao lixo o patrimônio Brasil? Recordo 1989 quando o então presidente da Fiesp, Mario Amato, vaticinava o êxodo de 800 mil brasileiros, caso Lula ganhasse a eleição contra Fernando Collor.
Este levou, obviamente. Não tenho dúvidas de que na vanguarda da fuga estariam os 40 mil cadastrados na Daslu, o templo da moda instalado às margens do rio Pinheiros e invejado em Paris, Londres, Milão. Permito-me achar, contudo, que o Brasil ganharia muito se a profecia de Amato se realizasse.

Confrontado com o exorbitante mandato de FHC, o de Lula é de muitos ângulos melhor, segundo analistas respeitáveis. Nem por isso, deu-se a mudança. O começo da mudança. E o Brasil consolida-se como a república do mercado financeiro. Como a democracia dos 40 mil da Daslu.

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