quarta-feira, julho 06, 2011

Reflexão sobre a busca pela objetividade em Giddens



Na constituição da teoria da Estruturação de Anthony Giddens, há uma menção crítica às razões políticas e intelectuais que dissolveram o consenso acerca do modo de como a teoria social deveria ser abordada. O autor chama esse conglomerado de idéias de “consenso ortodoxo”, composto por três “ismos” que seriam o objetivismo, o naturalismo e o funcionalismo. Nesse sentido, Giddens pretende dirigir-se contra toda concepção de determinismo unilateral ou de teorias que dariam bem mais ênfase no papel das estruturas sociais em detrimento dos atores sociais. Para contrapor essas tendências, a análise centra-se no caráter ativo e reflexivo da conduta humana, com papel fundamental da linguagem e das faculdades cognitivas na explicação da vida social.
Ao contrário de Bourdieu, Giddens não se preocupa em estabelecer uma ruptura entre o pensamento do senso comum e o pensamento sociológico, na intenção de dar um caráter científico a este último. Não há uma busca para desvelar aquilo que estava oculto numa apreensão mais imediata, ou mesmo uma busca por parâmetros que tornem essa busca válida. Essa é a crítica que ele faz a sociologia, por esta ter se empenhado nas discussões sobre epistemologia, como nas teorias que compõem o “consenso ortodoxo”. Para o autor, então, a busca de generalização não é um fundamento para a sociologia e nem é sua finalidade. Essa proposta um tanto relativista, em que a vida comum das pessoas ganha destaque (entendimento comum) e em que as crenças são tratadas como formas de conhecimento, é parte de sua abordagem teórico-metodológico – próxima à etnometodologia e à hermenêutica.
Essa abordagem, em conjunto com a constatação de que a sociologia deve abandonar as reflexões epistemológicas e se fixar nos princípios ontológicos (caráter ontológico do fazer humano reflexivo), põe o sociólogo apenas como um interpretador das interpretações já feitas pelo entendimento comum. Em tal situação, o compromisso – tanto social como acadêmico – da sociologia perante a realidade fica muito comprometido. O caráter crítico da ciência, nessa situação, acaba se desprendendo da realidade objetiva e termina por se orientar numa disputa de argumentos teóricos que ficam somente restritos ao pequeno contexto em que foram inseridos (de acordo com as situações em que foi produzido), sem a pretensão de qualquer tipo de generalização.
De acordo com o exposto, penso que seja importante manter, pelo menos como norte, a busca pela objetividade e pela descoberta de generalizações. A sociologia, que já enfrentou grandes questões e foi terreno fértil de reflexões críticas sobre a sociedade, não pode ficar numa situação tão passiva e coadjuvante como é a intenção de Giddens.



Pequena reflexão feita sobre a teoria de Anthony Giddens. Escrita por Leonardo de Lucas S Domingues em 02/09/2008.

Nenhum comentário: