sexta-feira, fevereiro 18, 2005

O integralismo ou o nazi-fascismo com feijoada


Somatória integralista

Por Onaireves Moura
Atualmente, tem aparecido com freqüência anormal, referencias a uma nova “ideologia” política denominada de “linearidade doutrinária”, “nacionalismo espiritualista” e outras expressões estranhas, que na verdade representam uma tentativa de ressuscitar o Integralismo, movimento velho conhecido nos círculos da extrema-direita.
Em seus artigos, o movimento menciona sua intenção de combater tanto a “internacional vermelha”, representada pelos “comunistas”, como a “internacional dourada”, representada pela “burguesia” capitalista.
Considerando que o velho “perigo vermelho” já não existe mais á décadas, e que até mesmo os velhos partidos comunistas mudaram de nome e adotaram propostas democráticas e neoliberais, fica claro que “comunista” para esses senhores será qualquer um que discorde de suas idéias.
Quanto ao combate a burguesia e ao capitalismo o assunto se torna bem mais complexo. E para entender melhor é necessário conhecer um pouco as origens do movimento. Para tanto, valemo-nos primeiramente de simples registros enciclopédicos:
A Enciclopédia Barsa, no volume 4, página 37 define Integralismo assim: “O partido, Ação Integralista Brasileira, foi fundado pelo escritor Plínio Salgado e conquistou, a partir de 1932, numerosos adeptos, graças ao apoio de uma parte do clero e de muitos intelectuais, e pela tendência política geral da época, que favorecia os movimentos inspirados no fascismo”.
A Nova Enciclopédia Ilustrada Folha – no volume 1 – página 498 nos dá a seguinte definição: “Integralismo: Versão brasileira do fascismo, o integralismo pregava o governo ditatorial ultranacionalista, que promoveria uma limpeza no país baseada no lema ‘Deus, Pátria, Família’. Sua expressão partidária foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada em 1932 que obteve grande apoio nos setores mais conservadores da sociedade, como a oligarquia tradicional, os militares e o clero”.
Visto isso, fica difícil aceitar que os integralistas de fato se oponham ao capitalismo. Na verdade, a essência de sua metamorfose moderna é descrita como “nacionalismo espiritualista”. Não é difícil portanto concluir que tudo leva a conhecida fórmula da extrema-direita no mundo todo: Xenofobia e desprezo pela democracia.
Quanto às alegações de que o movimento não tem relação com o fascismo, também podemos recorrer a uma simples consulta a “História do Século 20” – Volume 4 – página 1593, onde podemos ler:
“Em Hierarchia (cujo título inspira-se no órgão oficial do fascismo italiano) colaboraram alguns dos futuros dirigentes e intelectuais integralistas: Plínio Salgado, San Tiago Dantas, Hélio Viana, Obiano Mello, Madeira dae Freitas e Antonio Galotti”.
“No seu exemplar de março/abril de 1932, com um retrato de Mussolini com dedicatória especial para a revista encontra-se um artigo de Plínio Salgado, anterior ao lançamento da ABI, intitulado ‘Como eu vi a Itália’”.
“Refere-se ao encontro direto entre o futuro chefe integralista e o Dulce quando da viagem do primeiro ao oriente e a Europa em 1930:”
Reproduzimos a seguir parte do referido artigo:
“O que estamos presenciando hoje é o espírito de Roma se levantando, com o seu eterno senso de equilíbrio e de simetria, a sua capacidade de totalização dos elementos individuais e sociais, de concepção do mundo sob um critério integral, onde não há choques nem tendências dissociativas. Roma, fascista, tão caluniada pelos demagogos ébrios da cocaína libertária, constitui atualmente a suprema garantia de liberdade”.
Se não bastasse isso, o integralismo “abrasileirou” praticamente cada elemento da ritualística fascista e alguns do também nascente Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, o NSDP ou “Nazi”, de Adolf Hitler e Rudolf Ress. Senão vejamos:
Os militantes integralistas passaram a usar e a se denominar “camisas verdes”, uma clara cópia dos “camisas negras” fascistas e dos “camisas pardas” das Sturmabteilungen (“seções de assalto”), as “SA” dos nazistas.
O lema fascista “Acredita! Obedece! Luta” foi adaptado para “Deus, Pátria, Família”.
A expressão “Anauê” de origem indígena, é uma evidente imitação do “Sig Heil” nazista.
O “Sigma”, símbolo do integralismo, é uma óbvia emulação da suástica nazista.
Plínio Salgado é chamado de “Nosso chefe” e “Grande Condestável” pelos seus seguidores, numa clara alusão ao “Dulce” italiano e ao “Führer” alemão.
Toda a “coreografia” das manifestações integralistas é copiada dos eventos fascistas e dos grandes “festivais” nazistas. A profusão de bandeiras, a saudação com o braço direito estendido, os uniformes para-militares, a mania de distintivos e medalhas, tudo não passa de adaptação e imitação.
As únicas diferenças, ficam por conta de impossibilidades evidentes de adaptação:
O integralismo não era racista. Mas devemos nos lembrar de que o fascismo também não era anti-semita. Mussolini só começou a fazer discursos contra os judeus para agradar Hitler, quando já eram aliados no “Eixo”.
No Brasil, o anti-semitismo sempre foi praticamente inexistente entre o povo. Com uma população 70% mestiça, veleidades sobre “raças superiores” seriam obviamente um absurdo. Também qualquer idéia de expansionismo territorial seria ridícula.
Mesmo a alegação de que o integralismo teria um lado “espiritualista”, em oposição ao nazi-fascismo, é completamente falaciosa. Sabemos que tanto Mussolini quanto Hitler, apesar da incompatibilidade de suas doutrinas com o cristianismo, jamais hostilizaram a Igreja, onde alias tinham muitos adeptos e admiradores (e alguns colaboradores do mais alto nível).
O “espiritualismo” de Plínio Salgado pode ser avaliado por sua obra “A vida de Jesus”, que na realidade é uma espécie de “Evangelho segundo o fascismo”. Entre outras preciosidades, a obra compara Julio César com Jesus Cristo, e afirma claramente que: “César e Cristo não são antítese um do outro. Para que César viva, não é necessário que Cristo morra; e para que Cristo impere não é preciso que César seja eliminado”.
Em outras palavras, os ditadores fascistas seriam uma espécie de complemento, nesse mundo, do poder de Deus.
Que ninguém se iluda, o novo movimento integralista se insere perfeitamente dentro de um fenômeno típico da nossa época, em que a completa falência do marxismo e das utopias de esquerda, aliadas a rejeição aos abusos do capitalismo global, engendra movimentos baseados no ódio e na intolerância.
Mais uma vez, trata-se de imitar os movimentos “patriotas” norte-americanos, neonazista e neofascista na Alemanha e na Itália, os partidários de Le Pen na França e toda a fauna de extrema-direita que prolifera pelos cantos obscuros do mundo.


Li este texto e achei muito providencial em refletir um evento que vi estes dias. Estava eu (Leonardo) na aula da Escola de Magistratura com a Fernanda (minha namorada) olhando e reparando naquelas aulas difíceis e normativas, sem entender muita coisa, mas com muita crítica a fazer. O professor que ministrava a aula era um velho, desses bem velhos mesmo, daqueles em que o conservadorismo escorre por seus poros. Ele até aparentava ser um bom sujeito, falava sobre as mudanças do Código Civil (que não era modificado desde o começo do século passado), sobre os artigos, sobre os parágrafos e emendas. Aquilo tudo foi me deixando muito confuso, e ao mesmo tempo eu pensava o tanto que a nossa carência de memória histórica fazia falta. Algumas leis eram mudadas e, passado um tempo, mudadas de novo, revogadas, derrogadas, e esquecidas. E enquanto o professor falava de todas essas mudanças e reviravoltas ninguém pensava em como aquilo se sucedeu, ninguém pensava em qual fenômeno histórico levou aquilo a acontecer. Como a aula foi muito rápida, o povo estava interessado mesmo em copiar o máximo de conteúdo que o mestre passasse. O interesse não era em saber porque as leis privilegiavam os homens, os ricos, os poderosos, os brancos. O interesse é passar no concurso de juiz. O interesse é decorar ao máximo os códigos e a constituição para depois formular alguma reflexão.
Não vejo nada de errado nisso, é uma escolha que cada um faz. Espero que todos estejam cientes da responsabilidade que é ser um Juiz, ter a faculdade de julgar. É uma profissão tortuosa, e para alguns pode até ser prazerosa, visto que na Tv atual o que reina são canais onde o público julga segundo seus critérios quem sai da casa, quem é feio, quem merece dinheiro, quem merece atenção, quem é chato...
Bom, a minha intenção nem era sair do ponto que estava falando. Eu vou viajando e depois ninguém entende nada do que eu escrevi. Mas é bom ficar pensando e extrapolando a reflexão nas mais diferentes esferas do social.
A minha questão mesmo é com relação a uma frase que o professor disse. Como todos que fazem Direito sabem, o Miguel Reale é o guru das leis, o cara mais sábio do mundo jurídico (dizem alguns juristas). O juiz que dava a aula numa certa altura resolveu contar que o irmão dele tinha estudado com o mítico e inalcançável Reale, até ai tudo bem. Logo depois ele revelou uma coisa da qual eu nem sabia, o Miguel Reale era integralista, e dos mais militantes. Pra piorar, o mestre revelou que seu irmão também era militante do integralismo, e disse isso com todo o orgulho. Se fosse em alguma época pretérita da nossa história com certeza ele iria ser fortemente vaiado. Mas, como a nossa juventude não está nem ai, ninguém se lembra do passado e hoje todo mundo é igual perante a lei, e fomos todos anistiados, então o negócio é esquecer mesmo. Pra quê lembrar de um tempo em que não tinha shopping center, sem big mac, sem globo, sem Internet, sem nada pra fazer. Por quê lembrar o tempo da vovó, deveria ser tudo muito chato mesmo, e também, nada do que acontece hoje tem referência a aquele tempo.
Certamente muita gente pensa assim, é por isso que os Severinos, os ACM, os Sarney, os Maciel, os Marinho, os Maluf, e muitos outros são, e se nada mudar vão sempre ser Os Donos do Poder. E o que é pior, seres fascistas e ridículos vão passar despercebidos por nós, vão se organizar e profetizar sua fé estúpida. Chega de ufanismos, chega de líderes, de populistas, de caudilhos, ta na hora do Brasil crescer. Mas para isso tem que haver uma ruptura com o passado, realmente acabar com esse Estado paternal, colonial, patrimonial, plutocrático e centralizador.
Chega de anticomunismo, chega de TFP. Vamos acabar com esse discurso moralista e hipócrita. Pra terminar eu deixo um pedaço de uma resenha minha sobre um livro que aborda o anticomunismo: “a todos que anseiam conhecer a verdadeira história e não somente aquela contada nos livros didáticos obsoletos. Desenterrar o passado e esmiuçá-lo é tarefa que deveria ser seguida por todos, não apenas por pesquisadores e historiadores. O que somos, o que pensamos e o que sentimos está intimamente ligado a nossa construção histórica. Os vínculos com o passado não foram quebrados: o anticomunismo ainda está presente, apesar de estar diluído no social e aparecer nas entrelinhas de nossas atitudes e convicções. Esse ranço ainda está ativo. Mesmo que já moribundo, ele permeia o inconsciente coletivo e se materializa nos nossos valores, na família, na submissão à ordem vigente, no seguimento às doutrinas religiosas e também a instituições remanescentes como a TFP.”

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