terça-feira, junho 28, 2011

Negação³



O pensamento dialético começa com a experiência de que o mundo é não-livre; isto quer dizer que o homem e a natureza existem em condições de alienação, existem como "outra coisa que não o que eles são". Qualquer modo de pensamento exclui essa contradição de sua lógica com uma lógica falha. O "pensamento corresponde" à realidade apenas na medida em que transforma a realidade, compreende sua estrutura contraditória. Aqui o princípio dialético leva o pensamento para além dos limites da filosofia. Pois compreender a realidade significa compreender o que as coisas são, e isto, por sua vez, significa rejeitar sua mera facticidade. A rejeição é o processo do pensamento tanto quanto da ação (...) O pensamento dialético torna-se assim negativo em si mesmo, sua função é romper com autoconfiança e auto-satisfação do bom senso, é solapar a confiança sinistra no poder e na linguagem dos fatos. É demonstrar que a não-liberdade está tão no cerne das coisas, que o desenvolvimento das contradições internas leva necessariamente a uma mudança qualitativa: a explosão e catástrofe do estado estabelecido das coisas.

Herbert Marcuse (1898-1979). Razão e revolução.

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