terça-feira, março 29, 2005

ANTROPÓLOGOS AO PODER!!!!!

Essa é uma dica do Fernando para os antropólogos famintos pelo capital. A saída é essa...

Apesar de não ser novidade, a Antropologia Industrial assume cada vez mais um papel de destaque nas organizações. E ameaça destronar o todo-poderoso marketing.

Por muito estranho que pareça, as empresas recorrem cada vez mais aos antropólogos para identificarem não só as necessidades dos seus clientes como dos próprios funcionários. Porquê? Ninguém melhor que eles consegue estudar o comportamento humano. O que é certo é que, apesar de esquecidos durante muito tempo pelos seus parceiros académicos, os antropólogos industriais começam finalmente a ter aceitação no universo empresarial. E muitos nem precisam de terminar o curso para terem um lugar garantido numa empresa.

Como tudo começou

A Antropologia Industrial nasceu há 20 anos, quando as lendas da Antropologia Aplicada, Lucy Suchman e Julian Orr, se instalaram no Centro de Pesquisa da Xerox, em Palo Alto, para estudarem a forma como as pessoas interagiam com a tecnologia. Desde essa altura, antropólogos, psicólogos e outros cientistas sociais infiltra-ram-se nas empresas disfarçados de «etnógrafos» e «avaliadores».As empresas apostam cada vez mais na pesquisa do consumidor, avaliando os produtos tecnológicos antes do seu lançamento, e por isso a entrada de cientistas sociais nas empresas tem vindo a aumentar significativamente nos últimos anos. Pode até soar como um capricho da chamada «Nova Economia», mas o certo é que os serviços destes profissionais tornaram-se mais importantes que nunca na procura do conhecimento sobre os «apetites» e características dos consumidores. Com o boom tecnológico, o estudo das pessoas no seu habitat natural — normalmente a casa — e o aconselhamento das equipas de design industrial por parte de antropólogos ganhou mais importância. Principalmente porque diversos estudos mostraram que pelo menos 75% dos novos produtos falhavam pela inexistência de mercado. Tendo em conta que o fracasso de qualquer produto da indústria tecnológica implica custos elevados, as empresas encontraram a «tábua de salvação» nos antropólogos, procurando os seus conselhos durante as fases iniciais de desenvolvimento de um novo produto.
Antropologia versus Marketing

Pode até parecer mais do domínio do departamento de marketing, mas existem diferenças significativas entre as duas áreas. O Marketing consiste em encontrar um grupo-alvo para um determinado produto ou serviço e vendê-lo, enquanto a Antropologia descobre como o produto vai ser utilizado, se é que alguma vez isso vai acontecer. Aqui, os questionários e grupos de foco, tão utilizados pelos marketeers, são colocados de parte, em benefício do estudo do comportamento.Analisando o modo como as pessoas vivem e como os produtos se adaptam a esses estilos de vida, os antropólogos afirmam conseguir obter mais informações que aquelas que os marketeers recolhem nos questionários que fazem aos consumidores. Isto porque muitas vezes os inquéritos reflectem aquilo que os consumidores acreditam ser a melhor resposta a dar, e não aquilo que realmente pensam.Squires argumenta que a função do antropólogo dentro de uma organização é a de advogado do consumidor: «É melhor ajudar a encontrar produtos que as pessoas realmente precisem que convencê-las a adquirirem coisas de que não precisam ou que não querem», justifica a antropóloga industrial.
Empresas seguidoras

Se lhe dissessem que o bem sucedido modelo «PT Cruiser», da DaimerChrysler, tem a mão de um antropólogo acreditava? Por mais estranho que pareça, é mesmo verdade. Também a antropóloga Susan Squires necessitou de aconselhar um engenheiro a não criar uma máquina de lavar que «falava» com a máquina de secar simplesmente porque era possível fazê-lo. Um outro antropólogo conseguiu evitar que um engenheiro da Motorola produzisse uma televisão que podia ser aplicada num cinto. Talvez fosse uma ideia interessante e inédita, mas nunca aquilo de que o mundo estava à espera, ou precisava.
A equipe da consultora de tecnologia Sapient conta com 70 antropólogos industriais, cuja função consiste no aconselhamento sobre a forma de criação de produtos de fácil utilização. E não há despedimentos que os aflijam.
No Grupo de Pesquisa de Práticas e Pessoas da Intel, a Antropologia Industrial também não foi deixada ao acaso. Genevieve Bell é responsável por investigar a forma como as famílias de diferentes países se sociabilizam e de que modo a tecnologia está presente nas suas vidas. Após longas horas de trabalho de campo, Bell chegou à conclusão de que a família europeia passa grande parte do seu tempo na cozinha, pelo que os computadores teriam de ser suficientemente pequenos para se adequarem a esse espaço. Pelo contrário, na China, as cozinhas são muito pequenas e as pessoas não permanecem muito tempo nesse espaço, o que, segundo Bell, «deita por terra a ideia de um produto para todo o mundo».
Comum a todas estas empresas está a crença de que as ferramentas da pesquisa etnográfica — como a observação minuciosa, a entrevista subtil e a documentação sistemática — permitem responder a diversas questões sobre as organizações e os mercados que as ferramentas tradicionais não conseguem.
A ética antropológica

Este apetite voraz das organizações pelos antropólogos industriais tem originado algum desconforto no mundo académico tradicional. Marietta Baba, presidente do Departamento de Antropologia da Wayne State University, em Detroit, não esconde o seu receio face à possibilidade de as empresas violarem o Código Deontológico dos Antropólogos, que determina que os profissionais não podem utilizar os seus conhecimentos na promoção de produtos ou serviços que posteriormente se revelem prejudiciais ou desnecessários. Porém, os colégios e universidades procuram cada vez mais professores com experiência no mundo dos negócios para ensinar aqueles que são chamados de «antropólogos praticantes». Destronando, ou não, os marketeers, a Antropologia Industrial é, sem dúvida, um trunfo para o sucesso de uma empresa.
http://www.centroatl.pt/edigest/edicoes2001/ed_jun/ed80linha-da-frente-mrkt.html

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