sexta-feira, outubro 14, 2011

Reflexão sobre a historicidade do olhar e o estruturalismo em Foucault

Michel Foucault (1926-1984) foi um pensador sempre impelido pela curiosidade, que revisou e expandiu suas investigações, através de uma autocrítica e de uma auto-reflexão. Por essa razão, é difícil localizá-lo ou inscrevê-lo numa forma particular, ou numa determinada linhagem teórica (recusa metodológica ao grande esquema). Seu trabalho é marcado por fases distintas, nas quais elabora discussões sobre ciência, conhecimento, sujeito e poder. Apesar dessas constatações, sua teoria se constitui a partir de uma herança muito próxima ao estruturalismo.
A teoria de Foucault se move a desnaturalizar os objetos (pensar a forma como foram constituídos; quais as condições que tornaram possível sua emergência) e a historicizar radicalmente as perspectivas e os olhares que apreendem esse objeto (historicizar os grandes temas da filosofia). Nesse sentido, o autor desconstrói as ciências humanas e se põe a entender os regimes de verdade, as formas como as coisas se tornam visíveis a nós, os meios pelos quais isso se torna pensável; como em diferentes épocas foi se constituindo a crença de que é possível a verdade (trama de instituições de validação; valida o que pode ser dito sobre esse objeto; sistemas de classificação).
Foucault relativiza o empreendimento da ruptura epistemológica bachelardiana, apropriada por Bourdieu (construir um problema de fundo sociológico). O autor permanece filósofo, não acreditando na ciência e em seus ramos disciplinares. Em Foucault a razão não pode orientar o homem, não pode ser julgadora; o autor apresenta uma descrença na razão.
Quanto à herança estruturalista de Foucault, muitos teóricos apresentam dúvidas se o autor era ou não era estruturalista. Nos termos próprios do estruturalismo mais clássico a abordagem foucaultiana se distingue, reformulando novas problemáticas, mas algumas perspectivas se mantêm: aquela velha e conhecida sensação de estarmos rodeados por um conjunto de práticas, costumes e crenças (tramas de poder) que nos delimitam o caminho e que não nos damos conta de sua ação (historicizar o que vem antes da escolha, antes da estratégia do indivíduo – a disciplina vem antes do indivíduo).
As relações de poder exercem um poder de dominação que não necessariamente é ativo e com o uso da força, mas que pode ser passivo e se caracterizar por manifestar-se em forma de consenso entre os indivíduos (aceitação das normas; o indivíduo é positivamente produzido). Ou seja, conceitos tais como: tramas de poder, práticas de subjetivação e objetivação, mecanismos de dominação, disciplinazação, entre outros apresentam uma proximidade com certo tipo de estruturalismo.
Foucault também trabalha com a idéia de resistência, contra-poder, contra-discurso, mas suas teorizações não lidam com a problemática da emancipação, que também é próprio da descrença de seu tempo. Em certa maneira, o autor está mais preocupado com essas formas de relações de poder, com a produção de sujeitos (circunscritos nos pequenos discursos, nas questões menores).
Texto escrito por Leonardo de Lucas S Domingues em 2008.

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