terça-feira, outubro 18, 2005

Para não dizer que não falei de festas

Ninguém acreditou, mas...


Por incrível que pareça meu blog chegou a 1 ano de existência. Como que isso foi possível? Como tive tanta persistência em algo tão pouco usual para a maioria das pessoas?

Manter esse meio estranho de comunicação é algo um tanto quanto complicado, principalmente quando provas da Deise atrapalham os planos de escrever alguma coisa decente. Mas, para mim esse blog foi muito importante: primeiramente porque me fez entender um pouco (bem pouco) de HTML, e isso, a meu ver, já é uma vitória. A aparição deste site na minha vida é conseqüência do uso intenso de Internet neste período. Com a net à cabo eu ficava conectado o dia inteiro e, com um tráfego maior de kbps por segundo, era muito mais fácil procurar qualquer coisa neste vasto emaranhado de ilusão cibernética. Em segundo lugar, este blog me ajudou a extravasar meus pensamentos reprimidos (olha o Freud ai). Os que me conhecem sabem que não sou muito de falar, então, aqui eu escrevo até dar calo nos dedos (risos). Mas, voltando a prosa, a Internet me deixou viciado na futilidade mundana. A conexão à cabo era um perigo!


Coisa que hoje já é um pouco mais complicada. A net por telefone me obriga a ficar acordado até tarde (coisa muito tortuosa para mim {sic}) e a ficar pouco tempo na imensidão de informações. Nesta nova fase é muito mais difícil procurar as patologias mentais que divido com vocês. No começo eu até fiquei um pouco aborrecido por ter me desfeito da Internet rápida; como poderia viver sem este prazer tão intenso e satisfatório? Pois é, eu consegui!! No momento, sinto-me liberto deste cancro malévolo, agora tenho “tempo livre” para exercer os anseios do meu querido ócio produtivo. Não sinto nem um pouco de falta da rede virtual. É incrível como o sistema nos coloca demandas que achamos prioritárias, só que, quando nos demos em si vemos que não passa de um mero fetiche. O capital nos cria necessidade de fetiche e este último nos induz a desejos momentâneos e aparentes.



Como viver no século XXI sem a Internet? Sem alguma informação? Como é a sensação de não ter mais o mundo aos nossos olhos, ali, ao vivo e a cores? O que será da minha vida fora da “aldeia global” de McLuhan? Pois eu digo: existe vida e prazer para além das fibras ópticas! Não há mais em mim aquele desejo imediato de saber quais são as novas do mundo do cinema e quais as últimas da política brasileira. Estou liberto? Claro que não!



Lembro-me da época dos depoimentos na CPI. Puts! Eu não via a hora do Roberto Jéfferson começar a denunciar o esquema do mensalão. Ficava na expectativa do que Marcos Valério diria quando apertado pelos parlamentares. “Nossa! Amanhã vai ser o depoimento do Zé Dirceu!” Era só a mídia soltar a notícia que eu não me continha de ânsia. Pensava: “Hoje tudo deu errado, mas pelo menos alguma bomba estourou em Brasília. Vou grudar na frente da TV e assistir tudo de camarote!”. Pois é, era tudo ilusão. O que quer que acontecesse no Planalto ou na Câmara não ia mudar nada na minha cotidianeidade, e, pior, eu sabia que aquilo tudo era um grande circo no qual a grande atração era a nossa crendice fiel neste sistema injusto e contraditório. Apesar de tudo, eu adorava o barraco. É como um jogo, se entramos (ou somos incluídos, iludidos, seduzidos) queremos saber qual será o próximo capítulo. É uma estranha sensação de satisfação, de sentir parte daquilo tudo, como se agíssemos por meio dessas opções fictícias. O grande fenômeno Big Brother não se passa disso. E, não só ele, quase tudo na mídia, de uma maneira em geral, é feito para um consumo rápido (como se o conteúdo viesse mastigado) e um conseqüente descarte, isto, sem a mínima noção de qual é nosso papel em todo esse processo. É a alienação que Marx descreveu nos Manuscritos Econômico-Filosóficos no plano do trabalho fabril de uma maneira eficiente no terreno da dominação ideológica.“O trabalhador se relaciona com o produto de seu trabalho como a um objeto estranho (...) ele não é seu trabalho, mas o de outro, no fato de que não lhe pertence, de que no trabalho ele não pertence a si mesmo, mas a outro (...) um objeto estranho que o domina (...) coisa estranha, que não lhe pertence, a atividade como sofrimento (passividade)”. O velho Marx não se engana e nos dá a base para compreendermos esse complexo meio de persuasão e dominação. Só podemos analisar este analgésico fatal audiovisual se levarmos em conta as premissas do Estado Burguês, e tudo o que ele representa, todos os conflitos que são mascarados e harmonizados. Temos que descortinar esta realidade onírica. Não podemos nos fartar em revelar quais são os reais interesses dessa sociedade contraditória. Contradição esta que, começa na produção e se estende para todos os aspectos do campo social, partindo da infra-estrutura até chegar-se à super-estrutura. Não podemos nos esquecer que esta dominação também se realiza na música e nas artes, coisa que Adorno explicitou tão bem no seu instigante artigo: O fetichismo na música e a regressão da audição, que trata da fetichização da linguagem sonora sob as condições dadas pelos monopólios culturais e que, conseqüentemente ocasiona a incapacidade crescente do grande público de avaliar aquilo que é oferecido aos seus ouvidos pelos interesses mercadológicos. Adorno faz a recolocação do conceito marxiano de fetichismo no sentido de compreender sua especificiadede no tocante às mercadorias culturais.



Segundo Marx, o caráter de fetiche da mercadoria advém do fato de seu caráter de coisa esconder as relações sociais, de exploração do trabalho alheio pelo capital, que de fato a produzem. Daí a mercadoria se tornar algo misterioso, místico e “metafísico”: um objeto inanimado que parece ter vida própria, fora do controle tanto daqueles que o produzem, quanto daqueles que o consomem. Como disse Marx “não está escrito na testa do valor o que ele é”. Se na mercadoria “comum”, o caráter de fetiche diz respeito à ocultação do caráter de valor-trabalho que ela possui por meio da idolatria do seu aspecto de coisa – em que relações de exploração ficam como que submersas -, no bem cultural a suposta ausência de valor de uso (que na verdade é valor mediatizado) é hipostasiada no sentido de se transformar, ela própria, em valor de uso: a presumida inutibilidade como emblema, que, em vez de subverte o caráter mercantil do produto, acaba por reforçar o caráter de valor de troca que ele, em uma sociedade capitalista, necessariamente possui. Ou seja, somos nós que construímos esse valor de uso, que nos é injetado, mas que, na realidade, ele não existe. Aquilo que não serve para nada; só tem valor de troca.

Não vamos nos tornar seres melhores, mais críticos e reflexivos se consumirmos em doses cavalares essa grande indústria de lixo. E, ai sim, a percepção de Benjamin vai mais do que se tornar realidade, quando ele diz: “Nunca há um documento da cultura que não seja também um documento de barbárie”.

Não podemos deixar que o mundo da aparência se torne a essência do mundo, no qual, o que se vê e ouve é o que de fato existe. Eu aproveito o aniversário deste blog sem futuro para reiterar estas idéias. Temos que lutar contra a percepção fenomênica do mundo. É nela que a Indústria Cultural “deita e rola solta”, e produz um mundo aparentemente sem novas ideologias e que, conduz a uma sociedade com um rumo já previamente determinado no qual orienta a felicidade plena de pedalarmos numa bicicleta ergométrica dentro de um ônibus em movimento, no meio da cidade do Rio de Janeiro, e acharmos toda essa idiotice o máximo. Venha para o Mundo de Busbike e Liberte-se!





Lembremos dos Frankfurtianos, os quais foram duramente criticados por suas idéias de um mundo totalitário e sem perspectiva futura. Mundo no qual os agentes dotados do destino ontológico de nos conduzir para uma nova sociedade se dão de cara com um gigantesco arsenal ideológico que os cerceia de seu papel revolucionário. Os transgressores de Frankfurt diziam que nossa realidade não se trata de um regime totalitário, como o nazista, pois, “a liberdade formal de cada um está garantida”, mas de uma sociedade na qual só têm as melhores chances aqueles que se identificam inteiramente com o seu fundamento último: a exploração do trabalho alheio e, neste aspecto, a ciência mistificada e a indústria cultural são extremamente eficazes. Sutis por um lado, mas muito eficazes por outro.

Quero aproveitar este devaneio erudito para agradecer a duas pessoas que são muito importantes neste processo de vida de blogueiro, o André e a Tathi. Posso até estar meio equivocado, mas acho que eles são os únicos leitores do meu blog (risos). Pelo menos alguém lê as loucuras que escrevo, né? No entanto, o importante mesmo é escrever. Botar pra fora tudo o que quer dizer para alguém, mas com um pouco mais de calma do que numa conversa particular. É nisso que quero incentivá-los. Vamos juntos formar um grande blog anti-mistificação do mundo.

Sei que a Internet é uma merda. Como o professor José Flávio disse uma vez muito irado, num debate contra um seguidor do Gorz: “ Então viva o senso comum! A Internet vai nos libertar!”. Libertar é claro que não vai, mas vamos nos utilizar dela, fazer algo como que o louco do Jello Biafra disse uma vez: “não reclame da mídia, seja mídia!” Vamos ser mídia! Mesmo que de brincadeira, só para nossa satisfação cognitiva. Vamos fazer deste meio (criticamente) tal qual Benjamin via no cinema dos anos 30. O que pra ele era um grande meio progressista ao qual colocava os telespectadores confrontados linguagens revolucionárias esteticamente. Ele conciliava a crença na possibilidade de uma revolução socialista, a partir da massa politicamente organizada com a incontornável percepção de que os meios tecnológicos de manifestação estética tinham vindo para ficar. E é com este pensamento que termino o meu desabafo. Ufa! Achei que não iria terminar mais (risos). Vamos ser mídia e, ao mesmo tempo, ser os mais ferozes críticos dela. Vamos ser dialéticos e ajudar a transformá-la! Algo como Hegel disse uma vez e que serve no nosso caso: A Filosofia (assim como a teoria) tem de ser a estraga festas. E, neste caso, vamos estragar as festas, destoar da maioria, contestar e negar essa realidade mística.
Feliz Aniversário!

Um comentário:

Tathiana Guimarães disse...

Um ano do seu filhotinho Leo !!!! Precisamos comemorar essa criação, que sem demagogia, é uma fonte de bom senso (crítico).
Estou com você nessa proposta de SER MÍDA, FAZER dialética !!!
Esse blog em conjunto é um projeto que temos e não desenvolvemos; precisamos fecundar esse ovulo pÔ !!! Uma nova vida dentro dessa cibernia encarniçada! (rsrs)
VAmos começar quando ??
Beijo grande p/ uma grande pessoa !!